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“Oxigénio tornou-se ouro”. Criminosos lucram com a sua escassez no México

A pandemia de covid-19 deixou a Cidade do México a atravessar uma grande escassez de oxigénio médico. Criminosos estão a aproveitar para lucrar com a situação.

A capital mexicana registou um pico de infeções e hospitalizações no início do ano, que agravou seriamente a situação. O Governo local até criou dois pontos para encher gratuitamente os tanques de oxigénio para os pacientes com covid-19 que recuperam em casa.

Ainda assim, não é suficiente. Várias pessoas, desesperadas por tanques para manter vivos os seus entes queridos infetados com covid-19, estão a procurar o mercado negro para comprar oxigénio.

A cada dia que passa, Alberto Escobar nunca sabe se vai voltar vivo para casa. Apesar da semelhança do nome como o infame Pablo Escobar, não é nenhum narcotraficante. Alberto é um camionista que transporta oxigénio médico para os pacientes de covid-19. Nos últimos tempos, já foi atacado, baleado, raptado e abandonado numa mina.

Só em janeiro, criminosos roubaram 14 camiões que carregavam oxigénio em todo o México. Alguns roubaram tanques de oxigénio de hospitais, muitos deles à mão armada.

De acordo com a VICE, cada tanque é vendido no mercado negro a 40.000 pesos (cerca de 1.600 euros) – dez vezes mais do que o preço habitual.

“O oxigénio tornou-se como ouro para as organizações criminosas. Há sempre aquele medo de que eles me apanhem de novo, matem-me e deixem o meu corpo nalgum lugar porque isso já aconteceu em muitos casos. Muitos”, disse Escobar.

A situação no México é precária. O país é o terceiro com o maior número de mortes devido ao novo coronavírus e os hospitais estão a transbordar. O paramédico Angel Palafox diz que às vezes tem de andar às voltas na ambulância com um paciente durante três horas até encontrar uma cama num hospital.

Quando o seu pai foi infetado, Palafox teve dificuldades em encontrar oxigénio, mesmo ele sendo paramédico: “Eu sentia-me impotente porque trabalho com saúde e não pude salvá-lo”. O seu pai acabaria por morrer para a doença.

O problema tem abriu a porta a burlas. Maribel Mendoza Alvarez pagou cerca de 500 euros por uma máquina que supostamente transformava ar em oxigénio médico. Em vez de ajudar o seu familiar, apenas o deixou pior. Mas Alvarez não é um caso isolado. Vários grupos do Facebook surgiram com centenas de publicações a contarem histórias muito semelhantes às de Alvarez.

Carlos e Elizabeth Pineda vão todos os dias, à vez, esperar na fila de um dos pontos de reabastecimento de oxigénio da cidade. Têm de esperar até quatro horas para reabastecer os seus tanques.

Muitos mexicanos atribuíram a culpa pela falta de oxigénio à resposta do Governo à pandemia. No entanto, Ricardo Sheffield, chefe da agência de proteção ao consumidor do México (PROFECO), argumenta que a culpa é dos próprios mexicanos.

“Muitas pessoas guardam [tanques de oxigénio] nas suas casas e não os usam. E agora a procura está tão alta que todos os cilindros deviam voltar ao mercado”, disse Sheffield.

Daniel Costa, ZAP //

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