Ao longo da história da humanidade, milhares de autoproclamados mediums e videntes alegaram ser capazes de falar com os mortos e adivinhar o futuro. Esta prática milenar, que chegou até aos nossos dias, foi recentemente posta à prova por cientistas — com um resultado quase nada surpreendente.
Do mítico astrólogo, boticário e profeta francês Nostradamus, à famosa vidente búlgara Baba Vanga (que há alguns anos previu que a Europa se desintegraria no fim de 2016), milhares de adivinhos, videntes e profetas ao longo da história alegaram ter capacidades paranormais como prever o futuro da Humanidade, adivinhar o destino de uma determinada pessoa ou falar com os seus entes queridos já partidos.
Estes voyants atraíram invariavelmente a atenção de numerosos crentes e seguidores, ávidos de informação sobre o futuro do planeta ou a sorte que teriam à sua espera — em alguns casos, dispostos a pagar pequenas fortunas para conhecer o destino ou ter uma última conversa com um familiar desaparecido.
Ao mesmo tempo, depararam-se com grande ceticismo e intenso escrutínio à sua arte, com destaque para o mágico e entertainer canadiano James Randi, falecido em outubro com 92 anos, que em 1972 ofereceu um prémio de um milhão de dólares a qualquer pessoa que conseguisse demonstrar cientificamente as suas capacidades paranormais.
Em 1995, depois de mais de mil pessoas se terem candidatado ao prémio sem ter conseguido fazer prova científica das suas habilidades, a fundação de James Randi extinguiu o One Million Dollar Paranormal Challenge, mas manteve o prémio para quem conseguisse passar pelo menos testes preliminares em condições científicas.
Recentemente, uma equipa de investigadores da Universidade de San Diego e do Instituto de Ciência Noética, na Califórnia, decidiu colocar à prova as capacidades paranormais de um grupo de mediums — e o resultado não abona a favor da profissão. Os resultados do estudo foram publicados na revista Brain and Cognition no passado dia 20.
No âmbito do estudo, a equipa de investigadores pretendia verificar se um grupo de 12 mediums conseguia efetivamente estabelecer contacto com os mortos e até que ponto os mediums eram capazes de descobrir a causa da sua morte, comparando os resultados obtidos com os de 12 pessoas normais.
Segundo reporta a IFLS, foram mostradas fotografias de 180 pessoas falecidas aos 24 participantes no estudo, que tinham que adivinhar a causa da morte do retratado. Durante as experiências, o ritmo cardíaco e atividade cerebral dos participantes foram monitorizados.
O estudo pressupunha que, se os mediums tinham efetivamente a capacidade de contactar com os mortos, seriam capazes de identificar a causa da morte mais vezes do que os restantes participantes — que estavam basicamente a tentar adivinhá-la. Mas de forma algo surpreendente, no entanto, os mediums obtiveram na realidade piores resultados.
Quando o grupo de controlo tentou adivinhar a causa da morte, teve melhores resultados do que a mera sorte, com mais 4% de acertos do que os cientistas esperavam se estivessem simplesmente a carregar aleatoriamente em botões com as hipóteses apresentadas.
Em contrapartida, os mediums obtiveram não só piores resultados do que o grupo de controlo, como conseguiram até menos 0.2% de acertos do que a aleatoriedade pura faria prever. Além disso, os mediums demoraram em média mais tempo a responder, em particular nos casos em que falharam a resposta.
A monitorização da atividade cerebral e cardíaca também mostrou algumas diferenças. Ao longo do estudo, os mediums mostraram um ritmo cardíaco 10% mais elevado, em média, o que parece indicar que se encontravam mais pressionados do que os participantes do grupo de controlo.
Os resultados do ECG recolhidos enquanto os participantes olhavam para as fotografias também mostraram diferenças de atividade cerebral entre os dois grupos no que diz respeito às áreas em que focavam a sua atenção.
Neste parâmetro, os participantes do grupo de controlo manifestaram mais atividade cerebral no lobo occipital, a zona do cérebro que processa estímulos visuais, do que os mediums, o que parece sugerir que o grupo de controlo dedicou mais atenção efetiva à aparência das fotografias do que o grupo de mediums. A diferença de atividade cerebral, no entanto, não mostrou qualquer relação com a taxa de acertos.
Como se explica então que o grupo de controlo tenha obtido melhores resultados do que o grupo de mediums? A resposta simples e, para alguns, desoladora, é que afinal talvez não seja possível de todo contactar com os mortos.
No entanto, questionados sobre a sua participação na experiência, alguns dos mediums explicaram que talvez houvesse outra explicação para o seu fraco resultado.
“Alguns dos mediums alegaram que lhes foi difícil encontrar a causa da morte dos retratados, porque sentiram a dor dos falecidos mas não a causa dessa dor“, explica o neuro-cientista Arnaud Delorme, investigador do Instituto de Ciência Noética e um dos autores do estudo.
“Os mediums poderão ter interpretado um dado tipo de dor como um ataque cardíaco, mas a dor poderia ser semelhante à causada por um tiro no peito ou ao trauma associado a um acidente de viação”, acrescentam os investigadores.
Independentemente das explicações dadas pelos mediums, os resultados do estudo parecem indicar que não têm, de facto, as capacidades paranormais que anunciam.
E, se é verdade que este é um campo da ciência particularmente difícil de pesquisar, também é verdade que, dezenas de anos depois, o milhão de dólares que James Randi ofereceu continua por arrecadar.
Armando Batista, ZAP // IFLS
É o que dá não tratar dos dentes…
Todos os seres humanos são doentes. Todos os seres humanos morrem. Antes disso, são curados. Depois disso, não valem os tratamentos.
Leia outra vez. DENTES e não doentes… os bidentes só têm dois. Lololol!
Medium? Boa forma de vida. E dá mais dinheiro do que acreditar no Além. O Horóscopo é também outra forma de vida.
Respeito todas as formas de vida!
Se os videntes não conseguiram adivinhar por causa da “dor” que sentiam, então não conseguem nunca e então não são videntes … como já todos sabemos !
E é cepticismo, não ceticismo; efectiva e não efetiva; actividade e não atividade; será que também querem escrever ocipital em vez de occipital?
Caro leitor,
Obrigado pelo seu reparo.
A grafia das palavras não é ou deixa de ser a que queremos. É a que for, na grafia que usarmos.
Este texto foi escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990.
É ceticismo, efetiva, atividade.
E é occipital, porque o ‘c’ se lê.
Acho que esta questão dos videntes não tem grande relevo, visto que é difícil provar a crença em elementos do Além-Vida.
Porém, a fé deveria/deverá ser mais forte do que as teorias científicas. Assim, só acredita no poder destes videntes quem quer, e quem está disposto a fazê-lo, porque, de certa forma, em sonhos, todos conseguimos comunicar com aqueles que partiram deste Mundo.