O ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, revelou na terça-feira, no julgamento do processo relativo ao caso de Tancos, que rezou para que a reunião realizada durante a visita do Presidente da República aos paióis, a 04 de julho de 2017, “terminasse rapidamente”.
Azeredo Lopes começou a ser interrogado na terça-feira no processo em que é arguido, cujo julgamento decorre em Santarém, confessando que, no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa visitou os paióis, onde dias antes tinha sido furtado material militar, o “ambiente era confuso, havia muita gente” e que desejou que a reunião “terminasse rapidamente”.
Foi nessa reunião, adiantou o ex-ministro, citado pela agência Lusa, que o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM) Luis Vieira, também arguido no processo, defendeu que a investigação devia ser coordenada por aquela força, já que o crime tinha ocorrido no interior de instalações militares, dando ainda conta do seu desagrado.
Na visita paióis nacionais, Marcelo Rebelo de Sousa pediu o “apuramento de tudo, de alto a baixo, até ao fim, doa a quem doer” e o Ministério Público (MP) abriu inquérito ao sucedido por suspeitas de associação criminosa, tráfico de armas internacional e terrorismo, sendo a investigação liderada pela Polícia Judiciária (PJ), em colaboração com a PJM.
Durante a visita, segundo o ex-ministro, Luis Vieira comentou a existência de um informador (Fechaduras) e de que já havia informações anteriores de que poderia haver um assalto aos paióis, facto que “criou estupefação no Chefe de Estado Maior das Forças Armadas”, tendo criticado Luis Vieira por não ter informado o Exército e assim impedir que fossem tomadas medidas que evitassem o crime.
Nas declarações, o ex-ministro insistiu que não é próximo de Luis Vieira – como indica a acusação – e reiterou que, nos dois encontros que teve com o coronel e com o seu chefe de gabinete, o general Martins Pereira, o ex-diretor da PJM lhe manifestou o seu desagrado pelo afastamento da força em questão, mas nunca pediu a sua intervenção.
Azeredo Lopes realçou ainda o “tom virulento” do telefonema entre Luis Vieira e Joana Marques Vidal, ex-Procuradora-Geral da República, que tinham entendimentos opostos de quem deveria ser a liderança da investigação ao crime nas instalações militares.
Sobre o seu telefonema com Joana Marques Vidal, Azeredo Lopes afirmou que esta lhe manifestou o desagrado por não ter sido informada previamente que as armas tinham sido encontradas (a 18 de outubro, na Chamusca) pela PJM, isto é, antes de ter sido divulgado um comunicado de imprensa e que o comportamento dos investigadores militares poderiam dar origem a um procedimento disciplinar.
Perante esta postura, disse, “apelei à clemência” da PGR.
Questionado sobre se teve conhecimento do memorando e da fita do tempo sobre os acontecimentos de Tancos, Azeredo Lopes sublinhou não ter “memória nenhuma de os receber e de os ler”.
“Fui informado e tive conhecimento do essencial: primeiro que havia um informador, do Algarve e chamava-se Fechaduras e que era informador das duas polícias e que tinha medo de represálias da Polícia Judiciária e que não tinha havido nenhuma chamada anónima”, acrescentou o ex-ministro.
O depoimento do antigo titular da pasta da Defesa Nacional continua na quinta-feira. Azeredo Lopes, que se demitiu em outubro de 2018, está acusado de quatro crimes: denegação de justiça e prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder e denegação de justiça.
Dez arguidos respondem por associação criminosa, tráfico e mediação de armas e terrorismo, por envolvimento no furto do armamento e os restantes 13, entre eles Azeredo Lopes, dois elementos da PJM e vários militares da GNR, sobre a encenação/encobrimento que esteve na base da recuperação do material, na região da Chamusca, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.
// Lusa