O Mundial 2014 chega ao fim com um número recorde de golos, a vitória da técnica alemã e muita festa entre os sul-americanos, apesar de não terem levado o título.
Por outro lado, Scolari deixou de ser apenas o selecionador do penta para ser também o da maior goleada levada até hoje pela seleção, a arbitragem foi criticada e seleções campeãs mundiais caíram ainda na primeira fase.
Pelo lado bom e pelo lado mau, é um Mundial que vai deixar saudades. Tchau, Copa!
DESTAQUES POSITIVOS
1) Alto nível e muitos golos
Seleções que não chegaram ao Mundial com muita expectativa desempenharam, no mínimo, um papel de respeito, mostrando muita competitividade e organização tática em campo. O principal caso é o da Costa Rica, grande surpresa do Mundial ao vencer Uruguai e Itália, empatar com a Inglaterra e sair como líder do “grupo da morte“, caindo apenas nos penalties para a Holanda.
A Argélia também fez um grande jogo contra a campeã Alemanha nos oitavos de final, fase em que o México quase eliminou os holandeses e a Grécia também, por pouco, não passou. Aliás, todos os que passaram aos oitavos em segundo lugar nos respectivos grupos perderam na primeira eliminatória, mas deram luta – até mesmo a Nigéria, que segurou o jogo contra a França até o fim, e a Suíça, diante da Argentina.
A Bélgica deixou o Mundial com quatro vitórias e uma ótima atuação frente aos Estados Unidos, que por sua vez tinham feito jogo duro contra a Alemanha, além de vencer o Gana. Colômbia e Chile também tiveram grandes atuações e orgulharam os respectivos adeptos.
Até a Austrália, que perdeu os três jogos, teve bons momentos no Mundial.
No final, 171 golos, igualando o recorde absoluto de 1998 e alcançando a maior média desde o Mundial 1994, nos EUA – 2,67 golos por jogo.
2) Consagração da técnica
Foi campeã mundial a seleção que mais procurou dominar o jogo pela técnica, controlar as partidas com a posse de bola e futebol bem jogado.
Em número de passes, a Alemanha goleia os principais rivais: foram 5.084 passes em sete partidas, contra 4.318 da Argentina, 3.862 da Holanda e apenas 3.615 do Brasil. Passes completos, ou seja, aqueles que chegaram a ser controlados pelo colega de equipa, foram 4.157 dos alemães, contra 2.731 do Brasil, por exemplo.
Foi a vitória, portanto, da equipa que mais tentou jogar e, por consequência, menos aguardou os adversários no campo de defesa à espera de um erro. O resultado: duas goleadas (4-0 sobre Portugal e 7-1 diante do Brasil) e o melhor ataque da competição, com 18 golos em sete partidas.
3) Miroslav Klose
Para muitos, a jovem e versátil equipa alemã poderia abrir mão de um ponta-de-lança típico de área, e Klose até começou o Mundial no banco de reservas. No entanto, o experiente jogador marcou um golo importante contra o Gana na primeira fase para depois merecer ser titular na reta final da campanha vitoriosa.
Klose voltou a marcar na goleada de 7-1 sobre o Brasil e chegou aos 16 na história dos Mundiais de Futebol, superando o brasileiro Ronaldo “Fenómeno” e tornando-se o maior marcador na soma das 20 edições do torneio.
Um recorde para fechar com chave de ouro a incrível trajetória em Mundiais do jogador de 36 anos, que em quatro disputas chegou a quatro semifinais consecutivas – um recorde – e terminou, finalmente, com um título.
4) Guarda-redes
O alemão Neuer, seguro debaixo da trave e eficiente ao sair o golo para salvar a defesa, foi eleito o melhor guarda-redes do Mundial 2014 ao superar na lista final do prémio o argentino Romero e o costarriquenho Navas.
Mas não foram poucos os guarda-redes que se destacaram no torneio: Ochoa, do México, Bravo, do Chile, M’Bolhi, da Argélia, e Howard, dos Estados Unidos, são outros dos nomes que fecharam as balizas em determinados momentos do Mundial. Até mesmo Júlio César, que deixou a competição depois de levar dez golos nos dois últimos jogos – ficando para a história como o guarda-redes com mais golos sofridos em mundiais (14) -, teve um momento de glória ao defender dois penalties do Chile e carregar o Brasil às quartas de final.
Ainda houve tempo para dois guarda-redes suplentes serem protagonistas: o colombiano Mondragón, aos 43 anos, entrou por alguns minutos para se tornar o jogador mais velho a atuar num Mundial; já o holandês Tim Krul foi a campo no final do prolongamento para ser o herói da vitória nos penalties sobre a Costa Rica, que colocou a seleção nas meias finais.
5) Festa sul-americana
Depois de 36 anos, o Mundial voltou a ser disputado na América do Sul e as seleções da casa puderam ser apoiadas pelos adeptos que vieram em grande número para o Brasil.
A cena das bancadas a cantar o hino nacional à capela, exclusiva do Brasil na Taça das Confederações, passou a acontecer também com os vizinhos com longos hinos.
A estreia da Colômbia no Mineirão, a festa do Chile no Maracanã diante da Espanha ou a invasão argentina nos últimos dias do Mundial são exemplos de como esta edição ficará também marcada como a da festa sul-americana.
DESTAQUES NEGATIVOS
1) Scolari em xeque
Felipão reassumiu a equipa da casa um ano e meio antes do Mundial 2014. Ao seu estilo, venceu a Taça das Confederações e encheu os adeptos de esperança após as derrotas na Copa América e nos Jogos Olímpicos: os tempos vitoriosos estariam de volta? Não.
A classificação da seleção não deixou de ser boa – para todos os efeitos, foi semifinalista do Mundial 2014. Mas Scolari não só protagonizou a maior derrota da história do futebol brasileiro – perdendo por 1-7 para a Alemanha – como ainda sofreu um 0-3 contra a Holanda, deixando o Mundial com duas goleadas nos dois últimos jogos.
Para todos os efeitos, a participação do Brasil no Mundial teve uma pontinha de positiva, já que a seleção canarinha não tinha chegado sequer às semifinais nas duas últimas participações.
2) Arbitragem
A arbitragem foi bastante questionada durante o Mundial 2014. Logo no início, um penalty marcado sobre o avançado brasileiro Fred pelo árbitro japonês Yuichi Nishimura revoltou o técnico da Croácia, Niko Kovac.
No dia seguinte, o trio colombiano comandado pelo árbitro Wilmar Roldán falhou ao anular dois golos legítimos do México contra os Camarões. Já na fase de eliminatórias, após um puxão de Thiago Silva a Robben fora da área, Djamel Haimoudi, árbitro da Argélia, marcou um penalty que iniciou a derrota do Brasil frente à Holanda na disputa pelo terceiro lugar.
Na questão disciplinar, o espanhol Carlos Velasco foi criticado por permitir um jogo de muitas faltas no Brasil x Colômbia nos quartos de final, que culminou na lesão de Neymar após uma entrada dura de Zúñiga – nem sequer um cartão o colombiano recebeu. No França x Nigéria, pelos oitavos de final, Matuidi fraturou a tíbia e o perónio do africano Onazi, num lance que só lhe valeu um cartão amarelo.
3) Africanos e o dinheiro
Das cinco representantes da África no Mundial 2014, três seleções tiveram participantes em conflito com as respectivas federações por causa dos prémios de participação.
A seleção dos Camarões, “saco de pancadas” no grupo A, chegou a atrasar o voo para o Brasil enquanto o conflito não era resolvido. Por outro lado, a seleção do Gana ameaçou não entrar em campo contra Portugal, mas o jogo aconteceu porque o país enviou dinheiro para os seus atletas – ainda assim, Kevin-Prince Boateng e Muntari foram excluídos do elenco por desentendimentos com membros da comissão técnica.
Já os jogadores da Nigéria – que se classificou na fase de grupos – boicotaram um treino antes dos oitavos de final por não terem recebido o pagamento. Como consequência do caso, a FIFA suspendeu a equipa de todas as competições internacionais depois de a Justiça do país intervir na Federação Nigeriana de Futebol.
4) Suárez punido pela FIFA
O avançado uruguaio Luis Suárez tinha tudo para ser um dos destaques do Mundial 2014 dentro de campo após se recuperar de uma cirurgia no joelho e marcar os dois golos que deram a vitória ao Uruguai sobre a Inglaterra.
Mas no jogo seguinte, contra a Itália, ele mordeu o defesa Chiellini e a FIFA puniu-o com nove jogos de suspensão e quatro meses de exclusão das atividades futebolísticas.
Nos últimos dias, o jogador fechou contrato com o Barcelona, mas sai do Mundial com o recado: a intolerância total de quem comanda o futebol em relação a atos considerados contrários aos valores desportivos do jogo, ainda mais em relação a jogadores reincidentes, como é o seu caso.
5) Campeãs com queda precoce
Pelo menos uma das oito campeãs mundiais presentes no Mundial 2014 acabaria eliminada na primeira fase, já que três estavam juntas num mesmo grupo.
Mas nada fazia prever que fossem três eliminadas logo de início. Primeiro, a Espanha caiu ao perder os dois primeiros jogos, sendo um de goleada para a Holanda; depois, Itália e Inglaterra morreram abraçadas ao ver a Costa Rica surpreender e vencer o “grupo da morte”.
Para o futebol espanhol, a queda significou o fim de boa parte de uma geração campeã do mundo.
Os italianos lamentaram a segunda eliminação seguida ainda na primeira fase, e a Inglaterra, apesar de ter uma das maiores ligas de futebol do mundo, segue com dificuldades para montar uma grande seleção – e não chega a uma semifinal de Mundiais desde 1990.
ZAP / BBC
Mundial 2014
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