O Tribunal de Contas considera que o ministério das Finanças não demonstra ter toda a informação sobre o Novo Banco e a operação de venda à Lone Star, segundo a auditoria divulgada na quarta-feira ao fim da noite.
O Tribunal de Contas (TdC) divulgou na quarta-feira uma auditoria à Autoridade Nacional de Resolução de Bancos, a cargo do Banco de Portugal (BdP), que inclui perguntas ao Ministério das Finanças sobre a estabilidade do sistema financeiro (incluindo o Novo Banco), as respetivas respostas e a apreciação que faz dessas respostas.
Uma das perguntas está relacionada com o cumprimento dos contratos para o Estado emprestar dinheiro ao Fundo de Resolução, para este recapitalizar o Novo Banco, respondendo as Finanças que “o acordo tem vindo a ser cumprido integralmente” e indicado os valores disponibilizados em cada ano (430 milhões de euros em 2018, 850 milhões de euros em 2019, 850 milhões de euros em 2020).
Na apreciação, o TdC diz que, “não obstante o reportado, não foi entregue toda a evidência necessária e pretendida para justificar resposta positiva a esta questão, nomeadamente toda a documentação sobre a operação de venda [em 2017] de 75% do capital social do Novo Banco” ao fundo de investimento norte-americano Lone Star.
“Constata-se, assim, que o Ministério das Finanças não dispõe de toda a informação sobre essa operação, apesar de ter sido o ministro de Estado e das Finanças a celebrar (pelo Estado português) o acordo-quadro para disponibilização de meios financeiros para a satisfação das obrigações do Fundo de Resolução”, lê-se na apreciação da resposta pelo TdC.
Questionada sobre se os ativos incluídos no balanço do Novo Banco foram objeto de auditoria ou de outro processo de validação, as Finanças responderam que na resolução do BES houve uma avaliação da PWC determinada pelo Banco de Portugal e que as contas do Novo Banco estão sujeitas a validação externa.
Contudo, diz novamente o TdC que a resposta nao é acompanhada da evidência necessária: “Constata-se que o Ministério das Finanças não dispõe de evidência sobre a validação do limite máximo de 3.890 milhões de euros de perdas nesses ativos que o mecanismo de capital contingente, contratualizado em 2017, obriga o Fundo de Resolução a cobrir. E que também não dispõe de evidência sobre o processo de auditoria às contas do Novo Banco nem sobre os processos de verificação do acordo de capitalização contingente, que são acompanhados pelo Fundo de Resolução, visto também não ter remetido essa evidência”.
Já sobre se têm sido cumpridos os acordos celebrados com a Lone Star, o Ministério das Finanças responde que “não é parte nos contratos associados à operação de venda”, sendo essas entidades o Fundo de Resolução e a Lone Star.
Para o TdC, “não foi entregue evidência do cumprimento dos acordos em causa”, pelo que “constata, assim, que o ministério das Finanças não dispõe dessa informação sobre a operação referida”, apesar de ter celebrado o contrato para financiar o Fundo de Resolução.
Outra das perguntas do TdC é sobre se o BES “foi a mais desastrosa resolução bancária alguma vez feita na Europa”, frase usada por Centeno no Parlamento. As Finanças dizem que estas são “declarações feitas em contexto de debate parlamentar”, mas que os ativos tóxicos que permaneceram no Novo Banco indicam que “a resolução foi feita sem conhecimento de toda a informação contabilística sobre o efetivo valor dos ativos” de tal modo que, “até ao momento, o capital injetado no Novo Banco ascende a mais de dez mil milhões de euros, muito superior ao considerado necessário no momento da resolução em 2014″.
O TdC afirma que a frase citada foi dita “na intervenção inicial” e que a resposta permite concluir que “o ministério não dispõe de outra evidência” documental para a comprovar.
Nascido na resolução do BES em 3 de agosto de 2014, 75% do Novo Banco foi vendido em outubro de 2017 ao fundo de investimento norte-americano Lone Star, mantendo o Fundo de Resolução bancário 25%, numa solução acordada entre Banco de Portugal e Governo. Aquando da venda, foi acordado um mecanismo de capital contingente, que prevê que até 2026 o Fundo de Resolução compensa o Novo Banco por perdas de capital num conjunto de ativos que herdou do BES até 3.890 milhões de euros.
Desde então e até hoje, o Fundo de Resolução já injetou 2.976 milhões de euros e poderá colocar mais de 900 milhões de euros.
ZAP // Lusa
Pois, parece haver aqui um imbróglio valente com este Banco, Banco de Portugal e Governo, não dá para perceber nada do que se passa lá dentro e como é que se esbanja dinheiro aos milhares de milhões num Banco que afinal parece não acertar passo, que foi praticamente dado a privados e agora continuamos a sustentá-lo.
O Centeno já começou a brilhar!