A nicotina pode ter um efeito protetor contra a infeção pelo novo coronavíus, que provoca a doença covid-19, dizem investigadores em França, onde vão ser feitos ensaios com adesivos de nicotina.
A hipótese é apoiada pelo baixo número de fumadores entre os doentes com covid-19 hospitalizados, segundo vários estudos em todo o mundo, com taxas que variam entre 1,4 e 12,5%, afirma a agência de notícias francesa, AFP.
Um estudo francês com 350 pacientes hospitalizados e 150 com sintomas mais leves, mas todos com covid-19, também confirma essa baixa percentagem de fumadores entre os infetados. “Entre os pacientes havia apenas 0,5% de fumadores“, disse à mesma agência noticiosa francesas o professor de medicina interna Zahir Amoura, autor do estudo, explicando que há “80% menos fumadores em pacientes covid-19 do que na população em geral do mesmo sexo e idade”.
Questionado pela agência Lusa sobre esta hipótese, o pneumologista Filipe Froes disse achar estranho, “para não dizer surreal”, porque até hoje “nenhum estudo demonstrou a eficácia do tabaco em qualquer infeção respiratória”.
“Nesta fase de tentativa de conhecimento sobre a covid-19 há estudos que não seguem metodologias corretas e que tiram conclusões precipitadas. Assistimos nos últimos meses a estudos cujos resultados não se confirmaram”, disse o especialista, dando como exemplo um sobre a eficácia da hidroxicloroquina, que não se veio a confirmar.
O pneumologista acrescentou: “Nesta altura a necessidade de divulgar conhecimento científico faz com a revisão e o rigor sejam mais frágeis”, o que faz com que todos os dias surjam “estudos milagrosos” apesar de nada se ter provado até agora.
Jean-Pierre Changeux, do Instituto Pasteur, admite, citado pela AFP, que a nicotina, ao ligar-se ao recetor celular usado pelo coronavírus, impede ou retém a fixação do vírus.
Hipótese por provar
A hipótese da nicotina está no entanto por provar, sendo importante haver ensaios clínicos. Quando tiverem autorização os investigadores vão administrar diferentes dosagens de nicotina em adesivo em três ensaios, no hospital La Pitié-Salpêtrière, em Paris.
Os médicos ouvidos pela AFP salientam que estes estudos não devem incentivar as pessoas a fumar ou a usar adesivos de nicotina, recordando que fumar danifica os pulmões. Em França o tabaco mata 70.000 pessoas por ano.
Felipe Froes disse que há “demasiada especulação para os curtos meses que a doença tem”, e adiantou: “Valoriza-se o que se quer ouvir para se fazer o que se quer fazer”.
Nos últimos tempos, têm-se multiplicado as investigações sobre sintomas e outros efeitos associados à covid-19. Investigadores espanhóis estão a estudar a possibilidade de o aparecimento de manchas na pele, semelhantes às da varicela ou do sarampo, serem um sintoma da infeção por covid-19.
Surgiram vários casos em Espanha, Itália, França e na China que apontam para essa possibilidade, mas a associação ainda não está clinicamente confirmada.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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“Não morra da covid-19, morra de cancro” (lol).