Nos últimos 150 anos, o aumento do número de cesarianas e as alterações na alimentação podem ter conduzido a pélvis mais pequenas nas mulheres, o que pode dificultar o parto normal.
Um estudo publicado no início deste mês na Research Square revelou que a bacia (ou pélvis) das mulheres tornou-se mais estreita nos últimos 150 anos.
Não se sabe exatamente o que está a provocar esta mudança, nem todas as formas como irá afetar a saúde das pessoas. Mas se as pélvis continuarem a encolher a este ritmo, as cesarianas poderão tornar-se mais frequentes – o que poderá ter uma série de efeitos secundários.
À margem deste estudo, foram analisados dados de 1247 mulheres australianas, nascidas entre 1900 e 1984, e descobriram que a largura da pélvis diminuía 0,42 milímetros por ano.
Do mesmo modo, entre 3486 mulheres polacas, a largura da pélvis diminuiu 0,47 mm por ano, entre 1880 e 1970.
Por fim, entre 320 mulheres mexicanas a largura da pélvis diminuiu 0,42 mm por ano, entre 1900 e 1970.
Nos mesmos períodos de tempo, em contracorrente, a altura média aumentou e a largura dos ombros manteve-se estável ou aumentou.
Em declarações à New Scientist, o líder da investigação, Maciej Henneberg, da Universidade de Adelaide, na Austrália, aponta que esta descoberta mostra que a medicina moderna está a enfraquecer o impacto da seleção natural na pélvis humana – e especialmente na largura do canal de parto.
No passado, se o bebé fosse demasiado grande ou o canal de parto fosse demasiado estreito, tanto a mãe como o bebé morreriam provavelmente durante o parto. No entanto, as cesarianas – em que o bebé é removido cirurgicamente através do abdómen – significam que esta pressão evolutiva é reduzida.
Como resultado, os canais de parto e a pélvis podem tornar-se mais estreitos.
À mesma revista, o especialista Philipp Mitteroecker, da Universidade de Viena, na Áustria, que não esteve envolvido no estudo, concorda que as cesarianas estão a alterar as pressões evolutivas que atuam sobre o canal de parto humano.
Numa análise de 2016, Mitteroecker previu, precisamente, que esse fenómeno poderia levar a pélvis a estreitar-se.
A história da bacia
Há centenas de milhares de anos que as mulheres recebem ajuda para o parto, muitas vezes de outras mulheres. Esta prática cultural já diminuía a pressão de seleção sobre a pélvis e o canal de parto.
Depois apareceram as cesarianas. Tiveram o seu auge a partir da década de 1970 até à década de 1990, tendo a taxa global aumentado de 7% em 1990 para 21% em 2021.
Lia Betti, da University College London, é, no entanto, cética quanto ao facto de as cesarianas serem a principal explicação para a recente alteração da largura da pélvis.
Em entrevista à New Scientist, a especialista salienta, por seu turno, que os humanos ficaram muito mais altos no mesmo período de tempo, mas isso deve-se provavelmente à dieta e a melhores cuidados de saúde – e não a uma mudança evolutiva nos nossos genes.
“Sabemos que a dieta pode afetar a pélvis”, aponta Betti, que não fez parte do estudo.
Mas pode haver outras influência. Betti argumenta que as nossas pélvis são sensíveis a muitos fatores do ambiente, como, por exemplo, a temperatura.
Outros investigadores descreveram ainda um “novo dilema obstétrico” ligado ao aumento das taxas de obesidade, que pode tornar os bebés maiores.
“Mas a verdadeira resposta é, provavelmente, uma combinação de fatores“, apontou Betti.