A inscrição, gravada há 250 anos numa rocha na região francesa da Bretanha, foi finalmente decifrada graças a um concurso lançado pelo município.
O mistério, que há muitos anos intrigava a comunidade científica e curiosos de todo o mundo, foi finalmente decifrado esta segunda-feira, de acordo com o jornal francês Le Monde.
Situada numa zona rochosa de costa acessível apenas durante a maré baixa, a pedra está inteiramente gravada em toda a sua face exposta ao mar. São visíveis inscrições aparentemente aleatórias, a maioria em letras maiúsculas, mas também gravuras, incluindo um barco à vela com mastro e leme.
Existem também datas, incluindo 1786 e 1787, que correspondem aproximadamente aos anos de construção das várias fortificações que protegiam o porto de Brest, capital do departamento francês da Finisterra, na Bretanha. “ROC AR B… DRE AR GRIO SE EVELOH AR VIRIONES BAOAVEL… R I …OBBIIE RISBVILAR… FROIK… AL”, escreveu alguém na pedra, o que aparentemente não faz sentido.
O concurso lançado pelo município, que visava decifrar o enigma, ganhou o interesse de cerca de duas mil pessoas, oriundas dos quatro cantos do mundo. No final, foram selecionados 600.
Os participantes tinham de responder a várias a questões como quem gravou a pedra, em que idioma e codificações e para dizer o quê.
O júri, composto principalmente por historiadores, selecionou duas hipóteses entre as 61 selecionadas, a maioria delas de França, mas também do Brasil, Estados Unidos, Tailândia, Rússia, Espanha, Itália e Emirados Árabes Unidos.
“Hoje demos um grande passo”, disse Dominique Cap, presidente de Plougastel-Daoulas, perto de Brest, depois de revelar, em conferência de imprensa, os nomes dos vencedores do concurso que pretendia desvendar as inscrições.
As duas hipóteses vencedoras coincidem na tese de se tratar da homenagem a um marinheiro falecido feita por um parente e escrita em bretão. O bretão é uma língua celta ainda hoje falada em certas zonas da região francesa da Bretanha.
“Serge morreu no ano passado, estando mal treinado para navegar e o seu barco virou com o vento”, conta a rocha, segundo a hipótese avançada por Noel René Toudic, graduado em estudos celtas, que evoca um soldado, Serge Le Bris, que terá morrido no mar durante uma tempestade. Outro soldado, Grégoire Haloteau, terá gravado o texto em homenagem ao falecido. Toudic atribui à sua tese 80% de hipóteses de exatidão.
A segunda hipótese baseia-se facto de ser um texto em bretão, mas propõe “uma abordagem histórica e não apenas linguística”, segundo os seus autores, Roger Faligot, escritor, e Alain Robet, desenhador. Ambos avançam com uma tradução diferente da inscrição: “Que aflição ver-se de repente na marinha no meio de uma terrível tempestade”, de acordo com o portal RTL.
“Há ainda um longo caminho a percorrer para desvendar completamente o mistério”, disse Cap, acrescentando que algumas partes do texto ainda não foram decifradas e que ainda falta identificar os dois soldados.
O município pretende agora valorizar a rocha, tornando-a mais acessível a turistas e fazendo uma reprodução da mesma para o Museu Municipal.