Um antigo alto funcionário do Ruanda foi condenado quinta-feira à noite em Bruxelas à pena de prisão perpétua pelo crime de genocídio no seu país, em 1994.
Fabien Neretsé, um hutu de 71 anos de idade, que alegou sempre a sua inocência, assistiu impassível ao veredicto. Os advogados da acusação saudaram “um julgamento histórico”, cuja sentença foi proferida após seis semanas de debates e 48 horas de deliberações.
A sentença é um “resultado da análise de todos os crimes de guerra pelos quais o acusado foi considerado culpado e que fazem parte do genocídio dos tutsis, que ocorreu a partir de 6 de abril de 1994″, disse a juíza-presidente do tribunal especial, Sophie Leclercq.
A qualificação de “crime de genocídio” não foi utilizada durante os primeiros quatro julgamentos de outros suspeitos ruandeses, organizados em Bruxelas em 2001, 2005, 2007 e 2009. Além de genocídio, Neretsé foi condenado por crimes de guerra contra vítimas identificadas, em particular nove homicídios cometidos em Kigali em 9 de abril de 1994 e outros dois, algumas semanas depois, em áreas rurais.
Entre as vítimas em Kigali, três que pertenciam à mesma família belga-ruandesa: Claire Beckers, o seu marido Isaïe Bucyana (um tutsi), e a sua filha de 20 anos, Katia.
Neretsé era um dos vizinhos da família, que os impediu de fugir da capital ruandesa e, juntamente com militares, executou-os a par de outros residentes da etnia tutsi. “Foi o réu que avisou os militares que estas pessoas estavam prestes a deixar o bairro”, disse a juíza.
Em abril de 1994, o genocídio no Ruanda terá causado a morte de 800 mil pessoas, a maioria da etnia tutsi, em retaliação contra o homicídio do então Presidente Juvénal Habyarimana, segundo peritos internacionais.
// Lusa