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Aliança em convulsão. Macron, Trump e Erdogan agitam as águas antes da cimeira da NATO

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Facundo Arrizabalaga / EPA

As divergências fizeram estalar o verniz.  Aos presidentes dos Estados Unidos e de França, junta-se agora o turco Erdogan, que ameaça bloquear posição comum se as suas pretensões sobre os curdos não forem atendidas.

Os líderes dos Estados-membros da NATO reúnem-se, esta quarta-feira, nos arredores de Londres para assinalar o 70.º aniversário da Aliança Atlântica. Depois da tradicional fotografia, os líderes de Estado e de Governo reúnem-se num encontro formal de três horas, avança o Expresso.

No entanto, esta terça-feira, as tensões aqueceram. Apesar de o futuro do bloco não estar em dúvida, o primeiro dia da cimeira ficou marcado pelas divergências de fundo quanto à ação militar da Turquia no norte da Síria e aos gastos militares de cada país com a organização.

Desde a sua eleição, em 2016, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem criticado com veemência as contribuições de outros aliados para a defesa comum.

As estimativas da NATO para este ano mostram que, além dos Estados Unidos, há agora oito países que cumprem a meta, acordada por todos os Estados-membros, de gastar 2% ou mais do respetivo Produto Interno Bruto (PIB) em defesa.

Conflito ofusca cimeira

As diferenças entre Donald Trump e Emmanuel Macron superaram o espírito de cooperação que os dois países aliados deveriam demonstrar nesta cimeira. Ao Presidente norte-americano comentou a entrevista de Macron à The Economist, na qual o francês afirma que a organização está em “morte cerebral“.

“Penso que é bastante insultuosa para muitas forças diferentes. É uma frase dura, embora quando se faz uma declaração dessas, que é muito, muito desagradável para os 28 países, isso também os inclui”, disse Trump, referindo-se aos franceses.

Emmanuel Macron manteve a sua opinião, e disse que a entrevista foi uma chamada de atenção porque a NATO precisa de se definir quanto aos seus objetivos. Como exemplo, usou novamente a Turquia, tendo acusado Ancara de patrocinar o Estado Islâmico. “Quando olho para a Turquia, eles estão a lutar contra aqueles que combateram connosco contra o Estado Islâmico e por vezes trabalham com intermediários do Estado Islâmico.”

Donald Trump não hesitou e saiu em defesa da Turquia, com quem tem “uma relação muito boa”. Já sobre a possibilidade de Washington avançar com sanções económicas àquele país por ter optado pela compra de equipamento militar russo – o sistema antimíssil S-400 -, deixou um “vamos ver”.

“A Turquia queria comprar o sistema Patriot, mas a administração Obama não permitiu e só deixaram quando estavam prontos para comprar outro. Tenho de dizer isto, há dois lados da história”, disse Trump. No entanto, à CNN, funcionários da Defesa explicaram que esta afirmação do Presidente dos EUA não é verdadeira – o que imepdiu o negócio foram as exigências turcas de transferência de tecnologia.

Donald Trump ainda não tinha terminado a acusação ao seu antecessor e já Macron o interrompia. “Para sermos claros neste ponto: eles [turcos] negociaram connosco e nós aceitámos vender-lhes o SAMP/T”, disse Macron sobre o sistema de defesa ítalo-francês.

Assim, reiterou Macron, esta decisão não resultou de uma recusa da venda dos Patriot por parte dos norte-americanos, mas sim da sua própria decisão, mesmo tendo uma opção europeia compatível com a NATO. “Decidiram não ser compatíveis com a NATO.”

Outro dos desentendimentos entre Trump e Macron evidenciou-se quando o norte-americano passou a pergunta sobre se a França deveria fazer mais para levar os combatentes franceses do Estado Islâmico para o hexágono – cerca de 450 os extremistas com nacionalidade francesa que se encontram detidos no norte da Síria.

De acordo com o Diário de Notícias, Macron defendeu que essas pessoas devem ser julgadas onde os seus crimes foram cometidos, e Trump respondeu: “Você gostaria de ter um bom combatente do EI? Você pode levar todos os que quiser.”

Macron não se deixou ficar e retorquiu: “Vamos ser sérios. É verdade que há combatentes vindos da Europa, mas esta é uma pequena minoria e penso que a prioridade número um, porque não está terminada, é acabar com o EI e com os grupos terroristas. Esta é a nossa prioridade número um e ainda não está concluída”, afirmou.

“É por isso que ele é um grande político, porque esta foi uma das maiores não respostas que já ouvi. Tudo bem”, disse Trump, encerrando o assunto.

Mas o ponto final neste tema não significou o fim do debate, uma vez que o confronto verbal entre os dois líderes continuou. “Pode haver a tentação do lado norte-americano de dizer que é responsabilidade da Europa. Lamento dizer, mas não é. A prioridade é não sermos ambíguos com esses grupos, e é por isso que começámos a discutir as nossas relações com a Turquia. É por isso que qualquer ambiguidade com a Turquia em relação a esses grupos é prejudicial a todos para a situação no terreno”, disse Macron.

Tensões com a Turquia

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que se oporia ao plano de defesa da NATO para a região do Báltico se a aliança não o apoiasse na luta contra militantes curdos na Síria, que considera terroristas.

A Turquia ameaça bloquear o plano de defesa contra um ataque russo, a menos que a aliança apoie Ancara no reconhecimento da milícia curda Unidades de Proteção do Povo, YPG, como um grupo terrorista.

Os combatentes do YPG têm sido aliados dos norte-americanos e franceses no terreno contra o Estado Islâmico da Síria. No entanto, a Turquia considera o YPG um inimigo devido às ligações com os rebeldes curdos e com o ilegalizado PKK no sudeste da Turquia.

“Se os nossos amigos da NATO não reconhecerem como organizações terroristas aquelas que consideramos organizações terroristas vamos opor-nos a qualquer passo que venha a ser dado”, disse Erdogan, antes de viajar para Londres.

Mais tarde, numa reunião que juntou Macron e Erdogan na mesma sala, o francês sublinhou que “nem todos os esclarecimentos foram obtidos e nem todas as ambiguidades foram resolvidas”. Com a Turquia “há desacordos que existem, escolhas que não são as mesmas, mas há uma necessidade de avançar”.

ZAP //

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1 Comment

  1. A OTAN cumpriu o seu papel. Travar o expansionismo soviético. É tempo de fecharem a loja.
    No entanto, o vazio é não apenas perigoso, como poderia criar uma oportunidade para uma Rússia cada vez mais perigosa.
    É tempo de concretizar aquilo que o General DeGaulle e o PC Francês travaram: um exército comum europeu e uma política de defesa comum e supranacional.
    Claro que nem todos gostarão da ideia. No entanto, esta é a minha perspectiva.

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