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Já não há crianças em contentores no Hospital de São João

José Coelho / Lusa

O internamento de crianças em 36 contentores no Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) acabou e as estruturas, provisórias há cerca de 10 anos, vão ser desmontadas, revelou a instituição.

Num “edifício de alvenaria”, situado junto aos contentores e também exterior ao corpo principal do hospital, “ficam agora 24 camas” para internamento pediátrico, adianta em comunicado o hospital de São João, que espera até ao fim do ano arrancar com a construção de uma nova Ala Pediátrica e que no fim de maio transferiu dos contentores para o edifício principal as crianças com doença oncológica.

“As crianças que estavam em enfermarias colocadas em contentores foram deslocadas para um internamento de 25 camas pediátricas situadas no edifício principal do CHUSJ, utilizando espaços que ficaram livres com a relocalização de outros serviços e onde irão manter-se até estar terminada a construção da ala pediátrica”, escreve aquela unidade hospitalar.

O São João acrescenta que “os 36 contentores da pediatria ocupavam uma área de 470 metros quadrados” e “representavam um custo anual próximo dos cem mil euros”. O internamento de crianças em contentores terminou “logo que foi possível reunir as condições necessárias para a dispensa daquela solução, após oito anos de utilização”.

O São João não especificou quantas crianças foram transferidas dos contentores, descrevendo apenas que a nova área de internamento, no edifício principal, “está a ser partilhada com as crianças que estavam internadas na Cirurgia Pediátrica, que assim também obtiveram uma melhoria na sua qualidade assistencial”.

“A abertura das novas instalações reduz significativamente a necessidade de transporte de ambulância entre o internamento e o edifício principal, para muitas das crianças internadas”, destaca o hospital. A instituição refere ainda que “a relação de proximidade com outros serviços hospitalares e a melhoria das condições de tratamento” se “vão, seguramente traduzir numa melhoria da eficácia clínica”.

“Já no dia 1 de junho, Dia Mundial da Criança, o internamento das crianças com doença oncológica no CHUSJ havia igualmente passado para instalações no edifício principal”, lembra.

A 31 de maio, Filomena Cardoso, enfermeira diretora do São João e membro da administração daquele centro hospitalar disse que as 24 crianças do serviço de pediatria geral iam permanecer em contentores até ao final de junho, altura em que seriam internadas num edifício de alvenaria.

Há 10 anos que o hospital tem um projeto para construir uma ala pediátrica, mas desde então o serviço era prestado em contentores. Em novembro de 2018, pais e mães de crianças internadas alertaram para os contentores “indignos e desumanos” do internamento pediátrico do Hospital de São João.

Em entrevista à Lusa, descreveram “quartos minúsculos sem janelas”, “cartão a tapar buracos na parede”, portas vedadas com “adesivo do hospital” e “uma sanita e duche para os 40 ou 50 pais”. A 28 de maio, o presidente do Conselho de Administração do hospital, Fernando Araújo, disse que a construção da ala pediátrica deve começar até ao final do ano.

“Excelente” seria que ala pediátrica arrancasse

A Associação Pediátrica Oncológica (APO) considerou que o anúncio do Hospital Universitário de São João seria “excelente” se incluísse dados sobre o arranque da obra da ala pediátrica.

Se terminarem os contentores, é uma boa notícia. Sempre que se termina uma coisa que é má, ou péssima, ou miserável, é sempre uma boa notícia. Mas temos de ser muito vigilantes e ativos. A excelente notícia era: as crianças vão para o edifício central e a obra vai arrancar”, disse, à Lusa, o presidente da associação, Jorge Pires.

Para Jorge Pires, a nota do CHUSJ “está confusa” e “só serve para baralhar a opinião pública e passar uma imagem positiva, que faz entender que o problema está resolvido”.

“Vão acabar com os contentores, mas continuamos na mesma distância ao hospital e a ter de circular de ambulância, porque quando as crianças precisam de um tratamento, de um exame, têm de ir ao edifício central. Não podemos esquecer que a construção da ala pediátrica é que é prioritária e necessária. E o hospital e o Governo estão, assim, a baralhar a opinião pública e passar uma imagem positiva que faz entender que o problema está resolvido e não está”, considerou.

O responsável pela associação que representa pais de crianças com cancro internadas em contentores provisórios desde 2011 no hospital de São João vincou mesmo: “A construção podia ter começado com ajuste direto e não começou”.

“O hospital contactou 14 empresas há cerca de um mês para começarem a obra, quando tinha hipótese de contactar uma ou duas. E essas 14 empresas não se manifestaram ainda e ninguém sabe quando se vão manifestar. Dessas 14 empresas, basta haver uma que levante uma dúvida ou suspeita e há mais atrasos no arranque da obra”, recordou.

No final de maio, em declarações aos jornalistas, o presidente do Conselho de Administração, Fernando Araújo, garantiu que a construção da ala pediátrica deverá iniciar-se até ao final do ano.

ZAP // Lusa

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