O eurodeputado social-democrata Álvaro Amaro disse na terça-feira em Estrasburgo que não vai refugiar-se no estatuto de imunidade, estando “até ao último segundo disponível para prestar todos os esclarecimentos perante a Justiça portuguesa”. Há mais seis eurodeputados indiciados por diversos crimes.
Álvaro Amaro, eleito pelo PSD, é um dos eurodeputados envolvidos em casos judiciais nos seus países. No novo hemiciclo de Estrasburgo, há, pelo menos, outros seis casos, envolvendo crimes de corrupção, rebelião e até de homicídio, noticiou a Rádio Renascença na quarta-feira.
Um dia antes de tomar posse como eurodeputado, o ex-autarca da Guarda pagou uma caução de 40 mil euros para aguardar julgamento em liberdade. Foi constituído arguido a 12 de junho no âmbito da operação “Rota Final“, conduzida nesse dia pela Polícia Judiciária (PJ) e decorrente de uma investigação iniciada em 2017 pelo Ministério Público.
A investigação tem como alvos 18 autarquias do Norte e Centro do país e o grupo de transportes Transdev, cujas empresas terão faturado 28 milhões de euros em negócios fraudulentos com as câmaras municipais visadas. Álvaro Amaro é tido, segundo informou uma fonte da PJ à Rádio Renascença, como “a figura central na ligação entre as várias partes sob investigação”.
Sobre ele e os restantes arguidos pendem suspeitas da prática de corrupção, tráfico de influências, participação económica em negócio, prevaricação e abuso de poder.
Além do pagamento da caução, o eurodeputado foi proibido pelo tribunal de Viseu de contactar com as outras quatro pessoas indiciadas no processo. Depois de tomar posse em Estrasburgo, onde vai integrar a Comissão da Agricultura e do Desenvolvimento Rural (AGRI), garantiu aos jornalistas: “Jamais usarei o estatuto de imunidade parlamentar e estarei disponível para prestar todos os esclarecimentos”.
Outro dos casos é Yannis Lagos, eleito pelo Aurora Dourada (extrema-direita), na Grécia. De acordo com a procuradoria no julgamento em curso contra vários membros do movimento neonazi, Yannis Lagos – líder do núcleo do partido na região de Piréus – desempenhou um papel preponderante em todos os casos sob investigação.
Essa investigação envolve o homicídio do rapper antifascista Pavlos Fyssas – mais conhecido como Killah P., morto à facada aos 34 anos, em 2013 – e dois ataques mortais – um contra um grupo de unionistas PAME, outro contra um grupo de pescadores egípcios -, que tiveram lugar na região pela qual Yannis Lagos foi eleito.
Alguma imprensa grega viu na sua nomeação para as eleições europeias uma estratégia do Aurora Dourada para reforçar a narrativa de que houve elementos do partido a agirem sozinhos sem interferência da hierarquia nos eventos em questão.
Yannis Lagos e o atual líder do Aurora Dourada, Nikos Michaloliakos, foram libertados em 2015 depois de terem passado 18 meses em prisão preventiva, o máximo previsto na lei grega. Foram detidos em 2013 sob acusações de gestão de rede criminosa, pelo alegado envolvimento no homicídio de Killah P. e por outros crimes.
Ambos estão proibidos de sair da Grécia, pelo que o assento de Yannis Lagos no Parlamento Europeu está e continuará vago, ainda que o Governo grego, ao contrário do espanhol, não o tenha impedido de tomar posse. As alternativas são obter autorização especial das autoridades nacionais para ocupar o seu lugar no órgão legislativo da UE ou o Executivo em Atenas propor outro nome para ocupar esse assento.
Já Nils Usakovs, eleito pelo Harmonia (centro-direita), na Letónia, é ex-presidente da Câmara de Riga, a capital do país, e foi suspenso do cargo que ocupou durante quase 10 anos por suspeitas de ter facilitado o uso indevido de fundos camarários por membros da sua autarquia, através de contratos fictícios, despesas pessoais, contrafação de documentos e uso dos mesmos.
Na segunda-feira, um dia antes de tomar posse como eurodeputado, o gabinete letão de prevenção e combate à corrupção nomeou-o suspeito na investigação criminal, relacionada com aquisições duvidosas pela Riga satiksme, a empresa municipal de transportes. O facto de ser considerado “suspeito” e não “testemunha” no processo não significa que tenha sido indiciado, embora aumente as probabilidades de o ser.
Os espanhóis Carles Puigdemont (Partido Democrata Europeu Catalão), Toni Comín (coligação Juntos pela Catalunha) e Oriol Junqueras (Esquerda Republicana da Catalunha), são acusados de rebelião, sedição e uso indevido de fundos por terem avançado com a consulta popular à independência da Catalunha no final de 2017. Os dois primeiros estão exilados em Bruxelas e o terceiro está preso preventivamente há 19 meses.
Nenhum foi autorizado a tomar posse no Parlamento Europeu, havendo quem especule que os entraves impostos por Madrid terão como objetivo impedi-los de obter a imunidade parlamentar inerente ao cargo de deputado europeu.
Para poderem tomar posse, Carles Puigdemont e Toni Comín tinham de ter estado em Madrid para prestarem juramento no Congresso espanhol com os restantes políticos eleitos para representar o país na UE. Pediram para o fazer in absentia, sabendo que o regresso a Espanha os poria atrás das grades juntamente com Oriol Junqueras. Madrid não deixou.
Nenhum foi ainda condenado por qualquer crime. Os dois que vivem em auto-exílio preferiram não correr o risco de se deslocar a França para o arranque da legislatura na terça-feira, por temerem ser deportados ao abrigo do pedido de extradição apresentado pelas autoridades espanholas.
Eleito pelo Força Itália, Silvio Berlusconi, de 82 anos, por três vezes primeiro-ministro, volta a ocupar um cargo político pela primeira vez desde 2013, quando foi forçado a abdicar do seu assento no Senado italiano após ter sido declarado culpado do crime de fraude. No âmbito desse caso, foi condenado a prestar serviço público – acabou a tocar piano para doentes de Alzheimer numa casa de saúde.
Absolvido em vários casos e condenado num apenas, o mais velho eurodeputado desta legislatura é atualmente arguido em dois processos no seu país-natal: um por suspeitas de suborno de senadores para derrubarem o Governo de Romano Prodi em 2006, outro por alegada difamação de Antonio di Pietro, um ex-magistrado do Ministério Público.
Que raio de tradução… SINDICALISTAS do PAME (Central sindical dos trabalhadores gregos). Unionistas só no original em inglês.