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CGD acelerou na La Seda quando já havia problemas porque era “o objectivo do Governo”

Tiago Petinga / Lusa

O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD), Faria de Oliveira, no Parlamento.

O ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, culpa o Governo do PS pela decisão de “acelerar” o investimento na La Seda, o maior dos devedores do banco público, numa altura em que os alarmes já soavam com a empresa catalã que se encontra insolvente.

Durante o seu segundo depoimento na II Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e à Gestão do Banco, depois de já ter testemunhado em Maio passado, Faria de Oliveira foi confrontado pelo deputado do PS João Paulo Correia com a pergunta sobre porque é que o banco público “acelerou” o investimento na La Seda quando já havia sinais de problemas.

“Porque era o objectivo do seu Governo”, apontou o ex-banqueiro.

Faria de Oliveira indicou que a decisão de a CGD ficar na La Seda inseriu-se no “desígnio nacional” do projecto petroquímico de Sines. “O interesse de realizar o projecto Artlant foi um projecto de interesse público, com manifestações de interesse de projecto nacional manifestado pelo seu Governo”, indicou, para a seguir corrigir para “nosso Governo”, uma vez que foi eleito para a presidência da CGD pelo Governo do PS.

Acto de gestão “responsável” evitou OPA à La Seda

O ex-presidente da CGD afirmou ainda que a saída do capital social da La Seda foi um acto de gestão “responsável” que evitou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) à empresa.

“O mais importante era que a CGD não fosse forçada a fazer uma OPA à La Seda”, disse Faria de Oliveira aos deputados, apontando que foi um acto de gestão “responsável” não ganhar uma posição suficientemente forte na empresa que obrigasse a uma OPA. Um acto que não esteve relacionado com pressões por parte da empresa espanhola junto da CGD e do grupo Imatosgil, também participante no projecto, referiu.

De acordo com a auditoria à CGD realizada pela EY, o total de crédito concedido à Artlant foi de 381 milhões de euros, e em 2015 a exposição da CGD a este projecto era de 351 milhões.

A CGD tinha também, em 2015, uma exposição de 89 milhões de euros à Jupiter, antiga Selenis SGPS, que participou num aumento de capital da La Seda.

Carta ao ministro sobre exposição da CGD ao BCP

Na audição no Parlamento, Faria de Oliveira falou também numa carta que diz ter enviado ao ministro das Finanças de então, Teixeira dos Santos, a alertar para o risco sistémico relacionado com a exposição da Caixa ao BCP, devido aos créditos concedidos para compra de acções.

A carta terá sido enviada a 3 de Fevereiro de 2009, altura em que José Sócrates liderava o Governo no seu primeiro mandato.

Faria de Oliveira afiançou ainda que o Banco de Portugal “podia ter feito mais” para alertar outros bancos do investimento da Caixa no BCP. “Podia e devia ter feito mais para alertar”, realçou.

“Muitas vezes vivemos de modas”, destacou o ex-presidente do banco público, notando que “houve um período da nossa economia em que se pretendeu fazer da CGD um grupo financeiro empresarial, e não apenas um banco”. Desse modo, foram tomadas “opções que são legítimas na altura, mas que eram bem diferentes do que estava a acontecer pelo mundo fora, que era limitar os bancos à sua função básica de intermediação”, realçou.

Sobre o caso Berardo, Faria de Oliveira notou que “desde o primeiro momento a prioridade sempre foi tentar obter garantias que não fossem acções”. O ex-presidente da CGD refere que se conseguiu “vender alguns activos”, obtendo-se “25 milhões”. “Depois tentou-se ir à colecção de arte, porque isso sim tinha mais valor. Mas isso é outra história, uma história que até fere os princípios da boa fé“, apontou.

ZAP // Lusa

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