O presidente do PSD afirmou esta segunda-feira que “a geringonça começou a escangalhar-se há um ano”, justificando a “enorme onda de greves” com o descontentamento perante o “falhanço claro” do Governo que está “a distribuir tudo o que tem”.
Falando aos jornalistas após uma reunião com Associação de Jovens Agricultores de Portugal, na sede do partido no Porto, o presidente social-democrata comentou ainda o caso das propinas, a eventual recandidatura de Marcelo à Presidência e o papel da União Europeia na situação da Venezuela.
“Esta onda enorme de greves demonstra o falhanço claro do Governo porque, mesmo estando a distribuir tudo o que tem, não consegue parar o descontentamento popular. Como é que não vai ser no futuro? O Governo devia ter apostado no futuro e não o fez”.
Questionado sobre se a contestação popular se deve a alguma ação da esquerda, Rio respondeu que a ‘geringonça’ “já se começou a escangalhar há um ano”, sublinhando não ver “da parte dos partidos de esquerda tanto poder político que dê para pôr tantas pessoas na rua”. Para o líder do PSD, as pessoas têm feito greve por “razões de descontentamento real ligadas à sua atividade profissional”, e não por motivações políticas.
“O que é absolutamente evidente é que temos um Governo em Portugal há quatro anos que apostou no presente. Todas as folgas orçamentais que o crescimento orçamental permitiu foram para distribuir. Tudo o que havia foi distribuído”, observou Rio.
Segundo o presidente social-democrata, “isso pressupunha que descontentamento popular viesse no futuro”. “Mas esse descontentamento surge já no presente, quando estão a dar tudo o que têm”, alertou o líder do PSD.
Questionado sobre a greve dos magistrados, Rio disse ter “muita dificuldade” em comentá-la, por entender “que os órgãos de soberania não devem fazer greve”. “Sendo [greve de] órgãos de soberania, não entendo”, afirmou. Para Rio, “os juízes ou são funcionários públicos, e fazem greve, ou são órgãos de soberania”.
Os magistrados do Ministério Público admitiram no sábado realizar mais dias de greve, além dos já decretados para 25, 26 e 27 de fevereiro, bem como uma concentração frente ao parlamento, quando for a plenário o estatuto da classe.
Todos os Presidentes se recandidatam
Rui Rio revelou não saber a intenção de Marcelo Rebelo de Sousa sobre uma possível recandidatura à Presidência da República, mas considerou “normal” que o faça.
“Não sei se se recandidata ou não. O normal é recandidatar-se. Todos os Presidentes da República se recandidatam a um segundo mandato”, afirmou Rui Rio.
Questionado sobre a influência que a realização do encontro de jovens em Portugal teve sobre a decisão de Marcelo, Rio disse não fazer “a mínima ideia”. “Terá de lhe perguntar a ele”, afirmou. Quanto à realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, em 2022, Rio considerou tratar-se de uma “conquista” e um “elemento muito positivo para Portugal”, esperando que na altura o Governo seja social-democrata.
“Dá uma visibilidade enorme ao país, traz muita gente jovem e o papa. É um aspeto muito positivo para Portugal. Ainda bem que o conseguimos e terá de ser um governo PSD a lidar com isso”, afirmou Rui Rio.
O “desnorte” do ministro do Superior
O líder do PSD, ainda nesta segunda-feira,acusou o ministro do Ensino Superior de um “certo desnorte” quanto às propinas, que os social-democrata defendem e considerou que o governante “discordou de si próprio num espaço de 30 dias”.
“Não consigo compreender que o mesmo ministro discorde de si próprio no espaço de 30 dias. Demonstra um certo desnorte do ministro”, afirmou Rui Rio. Rui Rio lembrou que “o PSD sempre disse que é a favor das propinas” e que “está contra” a “medida mais recente” de acabar com elas.“A componente social tem de ser feita através de bolsas de estudo aos estudantes que precisam”, frisou o líder do PSD.
O ministro do Ensino Superior, Manuel Heitor, defendeu na terça-feira, em Bruxelas, a aposta em pós-graduações e mestrados pagos pelos empregadores, o que iria permitir alterar o financiamento destas instituições e reduzir os “custos diretos das famílias”.
Crise na Venezuela
“Desde o primeiro dia dissemos que Portugal deve acompanhar a posição da União Europia e que tudo deve fazer para que, no seio da União Europeia, a posição seja obrigar a Venezuela a ter eleições livres devidamente fiscalizadas”, afirmou Rui Rio. De acordo com Rui Rio, as eleições levarão a “substituir o atual Presidente da República que, pressupõe-se, em eleições livres não seria eleito”.
A porta-voz do Serviço Europeu de Ação Externa disse hoje não ver qualquer incompatibilidade entre a posição de Estados-membros como Espanha e Portugal, favoráveis a reconhecer Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela, e a da União Europeia.
ZAP // Lusa