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Impasse no Reino Unido. Corbyn não abdica das suas linhas vermelhas (e May também não)

Andy Rain / EPA

O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn

Chumbado o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia pelos deputados, de forma esmagadora, Theresa May convidou líderes e representantes para tentar encontrar uma solução passível de ser aprovada no Parlamento.

Mas nem a primeira-ministra, nem o líder da oposição parecem dispostos a abdicar das suas “linhas vermelhas”. Jeremy Corbyn recusa mesmo iniciar conversas sem ter garantias de que um divórcio sem acordo não consta nos planos do executivo.

A posição irredutível do líder do Partido Trabalhista já tinha sido apresentada na quarta-feira, na Câmara dos Comuns, no seguimento da rejeição da moção de censura que apresentou ao Governo. Não só a reforçou num discurso em Hastings, como suplicou aos deputados do Labour que a respeitem, através de uma carta.

“O convite de May para conversas com os líderes partidários não passa de uma encenação, não é um esforço sério para encarar a nova realidade”, defendeu Corbyn. “Por isso repito o que já tinha dito à primeira-ministra: gostaria muito de falar com ela – mas o ponto de partida para qualquer conversa sobre o Brexit tem de passar pela exclusão da ameaça de uma desastrosa saída sem acordo”, insistiu.

Na carta enviada aos deputados trabalhistas, explica o Público, Corbyn lançou o repto: “Peço aos colegas que respeitem esta condição e que se abstenham de conversar com o Governo enquanto um no deal não for retirado de cima da mesa”.

Quando esta missiva foi revelada, os deputados trabalhistas Hilary Benn e Yvette Cooper encontravam-se reunidos com o ministro conservador David Lidington. À saída da reunião, condenaram a “teimosia” de Corbyn, apesar de concordarem com as suas exigências.

“Corbyn apenas está a demonstrar que a primeira-ministra não é a única pessoa a ser teimosa”, disse Benn. “O Governo tem de excluir o no deal. Esse é o primeiro passo. O segundo é a primeira-ministra mudar as suas linhas vermelhas”, acrescentou.

Do lado do Governo, há uma forte resistência à negociação de alguns dos pontos-chave da sua estratégia, como o comprovaram os representantes dos Liberais-Democratas, do Partido Nacional Escocês, do Partido Verde ou do Plaid Cymru galês.

“A primeira-ministra foi totalmente clara sobre a importância de o Reino Unido ter uma política comercial independente e acredita que é fundamental honrar o resultado do referendo. E mantém-se firme na defesa desses princípios”, afirmou o representante do Governo, confirmando a indisponibilidade de May para reconsiderar a sua posição sobre um segundo referendo e sobre a manutenção do Reino Unido numa união aduaneira com a UE.

O Governo revelou mesmo um relatório no qual argumenta ser impossível organizar um novo referendo em menos de um ano.

Ministros de May ameaçam demitir-se

Mas os impasses também acontecem dentro do próprio Governo. De acordo com o The Telegraph, há pelo menos 20 ministros – de um total de 28 – a ameaçar uma demissão em bloco por divergências com a primeira-ministra em relação ao Brexit.

A primeira-ministra terá proibido os membros do seu executivo que envidassem esforços para garantir, junto dos deputados na Câmara dos Comuns, que uma uma saída sem o acordo com a UE fosse chumbada.

Um grupo de cinco ministros encarregou-se de entregar pessoalmente essa mensagem à primeira-ministra ao dirigirem-se ao número 10 de Downing Street.

Esta tomada de posição surge depois de, na manhã de quinta-feira, ter surgido uma gravação em que o ministro das Finanças, Philip Hammond, dizia a um grupo de líderes e representantes de importantes empresas, como a Tesco ou a Amazon, que uma saída sem acordo seria impedida pelos deputados na Câmara dos Comuns.

ZAP //

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