A Arábia Saudita levanta este domingo, 24 de Junho, a proibição imposta às mulheres de conduzirem automóveis nas estradas do reino, decisão do príncipe herdeiro Mohammad bin Salman integrada num plano de modernização do país.
“Será um grande dia para nós, esperámos muito tempo por isto”, resume em declarações à AFP a jovem Aziza, 22 anos, estudante de psicologia, enquanto pratica num simulador de condução instalado pelas autoridades sauditas num dos principais parques do reino.
Anunciada em Setembro de 2017, a medida promovida pelo príncipe herdeiro integra um amplo plano de modernização do país, pondo fim a uma proibição que se tornou símbolo do da posição secundária atribuída às mulheres pelo regime.
A medida está a ser encarada por muitos como o início de uma nova era numa sociedade que vive sob um regime islâmico rigoroso. “É um passo importante e uma etapa essencial para a mobilidade das mulheres”, resume Hana al Jamri, autora de um livro que será publicado em breve sobre as mulheres no jornalismo na Arábia Saudita.
A escritora lembra que as mulheres sauditas “vivem num sistema patriarcal“, e que a possibilidade de conduzir vai ajudá-las a desafiar as rígidas normas sociais do reino.
“Agora poderemos ir a qualquer lugar – hospital, hotel, restaurante … Nós não precisamos mais de um homem”, disse à reportagem da AFP Hatoun ben Dakhil, uma estudante de farmácia de 21 anos.
Segundo estimativas da consultora Pricewaterhouse Coopers, cerca de três milhões de mulheres sauditas devem adquirir a carta de condução e começar a conduzir até 2020.
Apesar da abertura das escolas de condução, muitas mulheres reclamam da falta de instrutores e do alto custo das aulas. As autoridades emitiram este mês as primeiras licenças de condução para as mulheres, havendo muitas mulheres que simplesmente trocaram a carta de condução estrangeira por uma licença saudita.
A reforma não está, no entanto, a ser bem recebida pelos ultra-conservadores, para quem a possibilidade de haver mulheres ao volante nas estradas do reino conduta “é um pecado que favorece a promiscuidade”.
No início do mês, activistas dos direitos humanos acusaram a Arábia Saudita de estar a levar a cabo “uma onda de repressão” na sequência do anúncio da detenção de 17 pessoas acusadas de “comprometer a segurança do reino”.
Grupos de direitos humanos denunciaram que pelo menos 11 activistas terão sido presos durante o mês de maio, sendo na sua maioria mulheres que fizeram campanha pelo direito de conduzir livremente nas estradas do reino e pelo fim da tutela masculina.
O Ministério Público da Arábia Saudita confirmou a 3 de Junho que foram detidas no total 17 pessoas acusadas de “comprometer a segurança” do país, mas não revelou as suas identidades. Ainda segundo fontes oficiais, oito das 17 pessoas detidas foram “temporariamente libertadas” até ao final da investigação aberta pelas autoridades.
Nove suspeitos, entre os quais quatro mulheres, continuam detidos depois de terem “confessado” algumas das acusações, nomeadamente “contacto com organizações inimigas” e “contratação de pessoas em cargos governamentais delicados”, de acordo com um comunicado divulgado pela agência de imprensa saudita SPA.
Segundo esta fonte, os presos são acusados de “coordenar actividades que comprometem a segurança e a estabilidade do reino”. Os detidos foram descritos na imprensa próxima do governo saudita como “traidores” e “agentes da embaixada” de países estrangeiros. Os activistas já rejeitaram as alegações, consideradas”difamatórias”.
// Lusa