António Costa afasta a possibilidade de se vir a demitir e garante que se mantém contra um Governo de Bloco Central em 2019, em parceria com Rui Rio.
Em entrevista à Visão, o primeiro-ministro António Costa afirmou que se mantém contra um Bloco Central PS/PSD e afastou o cenário de uma possível demissão da chefia do executivo, caso se repitam tragédias com os incêndios florestais, no próximo verão.
Questionado sobre a possibilidade de se formar um Bloco Central PS/PSD na próxima legislatura, agora que os sociais-democratas têm um novo líder, Rui Rio, o secretário-geral socialista volta a afastar esse cenário.
“Temos de distinguir o que são soluções de Governo – e isso sempre achei que soluções tipo Bloco Central são negativas para a democracia, porque a empobrecem, diminuem a escolha que os eleitores têm para procurar caminhos alternativos. Num sistema partidário como o que temos em Portugal, necessariamente as soluções de Governo serão polarizadas ou pelo PS ou pelo PSD e, portanto, a junção dos dois diminuía a possibilidade de geração de alternativas”, argumenta.
Em relação a Rui Rio, Costa considera que “está manifestamente a incomodar grande parte do PSD e da chamada direita inorgânica, aquilo que alguns costumam designar a direita do Observador”.
Afastada então a possibilidade de uma coligação de Governo com o PSD, António Costa insiste na tese de que, após as eleições legislativas de 2019, será viável reeditar a atual plataforma de forças de esquerda que suporta executivo minoritário socialista na Assembleia da República (PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV).
António Costa também desdramatiza as crescentes críticas que têm sido feitas pelo PCP ao seu Governo. “Acho legítimo e natural que o PCP queira também, conforme se vai concluindo a legislatura e se vai aproximando das eleições, sinalizar quais são as suas marcas identitárias e diferenciadoras relativamente ao PS”, afirma.
No que diz respeito ao cenário de o PS apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2021, o líder socialista remete essa questão para 2020.
“Para já é preciso saber se Marcelo Rebelo de Sousa é candidato presidencial, visto que ele próprio já disse publicamente que ainda não tomou a decisão sobre essa matéria. O PS sempre teve como tradição apoiar candidatos e não propor candidatos. Portanto, aguardemos para ver quem são os candidatos em 2021 e, depois, o PS seguramente tomará a sua decisão”, responde.
Já no que toca à época de verão, o primeiro-ministro foi questionado sobre se admite demitir-se caso se repitam tragédias com os incêndios. Mas António Costa afastou esse cenário.
“Demitir-me, se houver mais incêndios? Quando há um problema, a solução não é demitirmo-nos, é estarmos prontos para resolver o problema. É isso que temos feito e é isso que vamos continuar a fazer”, afirma.
Costa demarca-se também da ideia de que haja politização da justiça, advogando que não lhe parece que esse juízo seja partilhado pela sociedade portuguesa, “nem que haja motivos para o fundamentar”.
Interrogado sobre as pressões para uma eventual recondução da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, o líder do executivo desdramatiza e aponta que “é da tradição o Governo não fazer propostas, nessa matéria, que o Presidente da República não possa aprovar”.
Já sobre os protestos das autoridades políticas angolanas contra a intenção de a justiça portuguesa julgar o seu ex-vice-presidente Manuel Vicente em Portugal, o primeiro-ministro afirma compreender a pressão diplomática e económica que está a ser exercida no sentido de transferir o processo para Angola.
“Se num Estado estrangeiro fosse levantado um processo-crime contra o nosso Presidente da República, contra o primeiro-ministro ou contra deputados, muito provavelmente Portugal também diligenciaria no sentido de preservar as imunidades de que essas entidades gozam no nosso país”, argumenta.
Ainda em matéria de justiça, desta vez em relação aos casos que envolvem o Benfica, Costa demarca-se também deste assunto, frisando que não é adepto do clube por causa dos seus dirigentes. “Num Estado de Direito, ninguém, está acima da lei”, salienta.
Em matéria de finanças públicas, o primeiro-ministro admitiu mudanças no Conselho, organismo presidido por Teodora Cardoso. “O Conselho de Finanças Públicas ganhou nova confiança na estratégia que temos vindo a adotar. Significa que água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Os factos impuseram-se aos preconceitos”, diz.
Para terminar, em relação à eutanásia, Costa defende que a legislação não deve limitar a liberdade de opção individual, embora o seu “arreigado otimismo” lhe coloque “dificuldades em aceitar a prática da eutanásia como uma boa solução”.
ZAP // Lusa