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Centenas de milhões de vírus “chovem” constantemente sobre nós

NASA / Wikimedia

Se há vírus no chão e na água, já seria de esperar que houvesse também no céu. Cientistas descobriram que centenas de milhões de vírus por dia são depositados por cima da mais baixa camada da atmosfera.

Esta descoberta pode explicar um fenómeno curioso: como é que vírus quase idênticos acabam em distâncias geográficas muito grandes e variados ambientes.

De todos os micróbios no planeta, os vírus são os mais abundantes, com aproximadamente 1030 só no oceano. E claro que também já sabemos que os vírus podem andar pelo ar, que é um dos maiores modos de transmissão.

Anteriormente, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) concluiu que mais de um trilião de vírus por metro quadrado chove sobre nós todos os anos.

“Todos os dias, mais de 800 milhões de vírus são depositados por metro quadrado acima do limite da camada planetária – cerca de 25 vírus por cada pessoa no Canadá”, disse o virologista Curtis Suttle da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá.

Curtis Suttle é um dos autores do estudo, publicado no final de janeiro na revista The ISME, que, pela primeira vez, quantifica o número de vírus “varridos” para a troposfera livre acima da mais baixa camada da atmosfera – a camada de limite planetário, onde ocorre todo o clima, mas abaixo da estratosfera, onde voam os aviões.

“Há pouco mais de 20 anos começamos a encontrar vírus geneticamente semelhantes em ambientes distintos por todo o globo”, disse o virologista. “E esta preponderância de vírus de longa residência que viajam pela atmosfera provavelmente explica o porquê: é concebível ter um vírus que foi varrido para a atmosfera num continente e depositado noutro”.

Os mecanismos de aerossolização dos vírus – a forma como ficam no ar – não são bem compreendidos, mas estudos sugerem que, pelo menos em alguns casos, são varridos para a atmosfera misturados com poeira. Os cientistas sabem que é assim que as bactérias se dispersam, por isso faz sentido que o mesmo se aplique aos vírus.

Suttle e a sua equipa queriam saber exatamente quantos vírus foram transportados para a altitude de 2500 a 3,000 quilómetros.

Os cientistas instalaram duas plataformas de recolha acima da camada de limite planetária em Espanha, nas montanhas da Serra Nevada, um região sob a influência de um manto de poeira global.

Assim, descobriram que havia milhões de bactérias e biliões de vírus depositados por metro quadrado a cada dia na troposfera livre. A taxa de depósito de vírus era de 9 a 461 vezes mais alta do que a taxa de depósitos das bactérias.

Isso não significa que a situação seja terrível – obviamente estamos a conviver com isso bem, e o vírus conseguir ou não sobreviver num novo ecossistema depende do hospedeiro que encontrar.

No entanto, os vírus conseguem sobreviver ao transporte atmosférico, pelo que existe uma possibilidade de representarem algum tipo de efeito no novo ecossistema.

Os vírus também não são apenas agentes patogénicos. Provas recentes sugerem que os vírus têm um papel importante no ciclo do carbono do oceano. Além disso, existem também vírus chamados bacteriófagos que ajudam os humanos ao matar bactérias prejudiciais.

Dispersar-se na atmosfera e ficar lá por algum tempo, escreve a equipa no estudo, fornece um mecanismo de preservação da diversidade dos vírus, como um “banco de sementes”.

“Fluxos descendentes significativos de bactérias e vírus da atmosfera podem ter efeitos sobre a estrutura e função dos ecossistemas recetores. Em vez de ser uma consequência negativa, esta deposição fornece um banco de sementes que deve permitir que os ecossistemas se adaptem rapidamente às mudanças ambientais”, concluíram os cientistas.

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