O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, considerou uma “grande vitória” o sexto teste nuclear realizado pelo país, no domingo passado, admitindo que foi feito “à custa do sangue” dos norte-coreanos.
Num banquete realizado na capital, Pyongyang, para assinalar o 69.º aniversário do país, Kim Jong-Un afirmou que o teste foi “uma grande vitória conseguida pelo povo coreano à custa do seu sangue”.
O teste com uma bomba de hidrogénio foi o mais potente já realizado pelo regime norte-coreano e suscitou a condenação da comunidade internacional, aumentando a tensão na região. Kim Jong-Un apelou aos engenheiros para “redobrarem o esforço sem perder o espírito demonstrado” no que chamou “um grande evento da história nacional”.
Nas imagens do banquete divulgadas pela televisão estatal, vê-se Kim Jong-Un a ser recebido com aplausos pelos participantes, ladeado por representantes do exército, do partido único e pelos responsáveis pelo programa nuclear.
O regime defende que as armas nucleares tornam o país “mais seguro” e pretende criar um arsenal mais sofisticado. Na segunda-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se para votar sanções adicionais à Coreia do Norte.
China apoia sanções, desde que não ameacem o regime
O especialista em assuntos asiáticos Jamie Metzl considera que a China “vai aprovar novas sanções” contra Pyongyang, mas não “um embargo que ameace a estabilidade do regime”, e que excluiu a possibilidade de uma intervenção militar na Coreia do Norte.
“Pequim vê a relação com Pyongyang do prisma da estratégia chinesa para os Estados Unidos. Não como uma questão em si mesmo”, disse à agência Lusa o pesquisador da Atlantic Council, unidade de investigação com sede em Washington.
A China é o principal aliado diplomático e maior parceiro comercial da Coreia do Norte. Cerca de 80% das importações norte-coreanas de petróleo são oriundas do país vizinho.
Pequim admitiu já estar disposta a adotar novas medidas contra a Coreia do Norte, depois de os EUA anunciarem que vão pedir uma reunião ao Conselho de Segurança da ONU, com o objetivo de submeter a votação “sanções adicionais” contra o país.
A proposta de Washington inclui a proibição de venda de petróleo. Jamie Meltz admite que “a China use o petróleo, como já fez no passado, para passar uma mensagem aos norte-coreanos”, mas rejeitará um corte definito do fornecimento.
“Pequim continua a preferir que haja uma Coreia do Norte hostil e com armas nucleares a uma reunificação da península coreana pela Coreia do Sul”, país aliado dos EUA, explicou.
Washington está a fazer bluff
Com 24,5 milhões de habitantes e um território pouco maior do que Portugal, a Coreia do Norte tem sabido jogar com as “diferentes perspetivas estratégicas” de Washington e Pequim, no nordeste da Ásia, para concretizar a sua ambição nuclear.
A semana passada, realizou o sexto e mais poderoso teste nuclear até à data, no que revelou ter sido a detonação de uma arma termonuclear para ser colocada num míssil balístico intercontinental. Em reação, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que uma ação militar “é certamente” uma opção contra a Coreia do Norte.
Metzl considera, porém, que Washington está a fazer ‘bluff’. “Uma opção militar resultaria numa guerra total, que os EUA e a Coreia do Sul venceriam, mas cujos custos seriam muito mais altos do que o aceitável”.
Seul, onde vivem mais de 10 milhões de pessoas, está ao alcance da artilharia convencional e misseis norte-coreanos, dispostos em grande número ao longo da fronteira.
Em julho, Pyongyang testou por duas vezes o modelo de mísseis Hwasong-14, que os analistas consideram ser capazes de atingir os EUA, incluindo cidades importantes como Chicago e Los Angeles, abrindo um novo precedente na ameaça norte-coreana.
Face ao contexto atual, Metzl considera que “o resultado mais provável é que a Coreia do Norte desenvolva armas nucleares mais capazes e o mundo terá que viver com isso“.
Jamie Metzl diz que a única esperança de uma solução relativamente pacífica é o “totalitarismo do regime norte-coreano voltar-se contra si mesmo“, referindo-se à possibilidade de um crescente receio entre líderes norte-coreanos, face às consecutivas purgas feitas por Kim Jong-un.
Desde que ascendeu ao poder, em 2011, o líder norte-coreano, de 33 anos, terá já executado 140 altos quadros do Governo, entre os quais o seu próprio tio, Jang Song-Thaek, considerado a segunda figura do regime, e o seu meio irmão Kim Jong-nam, que vivia em Macau sob proteção da China.
“Como se pode imaginar, com todas estas purgas, há líderes da Coreia do Norte que acordam todas as manhãs e se questionam: Estou mais seguro a apoiar Kim Jong-un ou a atacar a liderança?'”, diz Metzl. “Quanto mais purgas há, mais inseguras as pessoas se sentem”, disse. “E talvez um dia concluam que estão mais seguras se o líder for removido”.
ZAP // Lusa