O novo partido centrista do presidente francês Emmanuel Macron está a caminho de uma vitória arrasadora nas eleições legislativas do país, após a primeira volta do acto eleitoral, realizada este domingo.
Depois de apurados os resultados finais da votação deste domingo, as projecções apontam que o República em Marcha, LRM, partido recém-criado por Macron, e o seu aliado MoDem, deverão conquistar 445 das 577 cadeiras (77%) na Assembleia Nacional francesa.
Com todas as urnas apuradas, LRM e MoDem alcançaram ontem 32,3% dos votos. O resultado final será conhecido no próximo domingo, após a segunda volta da votação, nos círculos em que nenhum candidato tenha obtido a maioria absoluta dos votos.
Os Republicanos, direita conservadora francesa, ficaram com menos de 16%, enquanto o anterior partido no poder, o Partido Socialista, ficou com apenas 7,4%. A Frente Nacional, de extrema direita, ficou com 13,2% e o França Insubmissa, de extrema esquerda, com 11%.
A afluência às urnas de 48,7% ficou abaixo da primeira volta das legislativas de 2012, que registaram 57,2%. Os analistas atribuíram a abstenção a um possível desânimo entre os oponentes do presidente, previsível vencedor com maioria absoluta.
O partido de Macron foi criado o ano passado, com muitos nomes da sociedade civil e de fora da política tradicional, e procurou a renovação da cena política francesa. Os seus candidatos tinham como critério um máximo de 2 mandatos em cargos políticos anteriores – o que deixou de fora Manuel Valls, por exemplo.
O próprio presidente Macron, antigo ministro das Finanças do ex-presidente Hollande, nunca tinha disputado uma eleição antes de conquistar a Presidência, e construiu sua plataforma política com um forte apelo à renovação.
Para Hugh Schofield, correspondente da BBC em Paris, não há qualquer dúvida acerca da extraordinária proeza obtida por Macron. “Sim, Macron teve sorte, mas também previu com destreza – com os movimentos certos na hora certa – como o mapa da política francesa estava à espera de alguém que o redesenhasse”, diz.
Se as projecções se confirmarem, a mudança na Assembleia Nacional será a maior desde 1958, altura em que o mítico Charles de Gaulle instituiu a Quinta República francesa.
Para os analistas, além de ter sabido cavalgar a onda do desejo da sociedade francesa de renovação política, Macron soube construir rapidamente a imagem de presidente, dentro e fora da França, apesar da inexperiência e de ter apenas 39 anos.
Durante a campanha, Macron tinha prometido “reabilitar” a função presidencial, desgastada após os mandatos do socialista François Hollande (2012-2017) e do conservador Nicolas Sarkozy (2007-2012), e desde a sua eleição tem sabido caminhar nesse sentido – a começar pela forma como geriu as candidaturas do seu partido às legislativas.
Também no plano internacional Macron já deixou a sua marca, sobretudo na forma como se tem oposto ao presidente norte-americano, Donald Trump. Para a história já entraram o brilhante ‘Make Our Planet Great Again‘ com que Macron reage à saída dos EUA do Acordo de Paris, e um aperto de mão de que Trump não estava à espera.
O provável sucesso no primeiro teste de Macron após a chegada ao Palácio do Eliseu também tem a ver com a habilidade política que demonstrou ao compor o governo, apontam especialistas.
Macron, de 39 anos, derrotou a líder da Frante Nacional, Marine Le Pen, com 66% dos votos na segunda volta da eleição presidencial, o mês passado, depois de ter obtido 23,7% na primeira volta.
A líder da Frente Nacional associa a má performance do seu partido nestas legislativas à baixa afluência às urnas, e pede mudanças no sistema eleitoral francês, que segundo Le Pen favorece os grandes partidos. “Esta taxa de abstenção catastrófica deveria chamar a atenção para regras eleitorais que afastam milhões de compatriotas das urnas”, afirmou.
Este mesmo sistema eleitoral, no entanto, não impediu que os dois grandes partidos franceses até agora, os Republicanos e o Partido Socialista, fossem esmagados nestas legislativas, nem que tivesse aparecido do zero um movimento que arrastou os seus recém-cativados militantes às urnas, e que se transformou num grande partido.
Simplesmente, muito de vez em quando, emerge do nada uma figura que se faz grande, que muda um país e o mundo, e que deixa o seu nome cravado nos livros de história. E essa figura, pelo menos para já, não é Marine Le Pen.
AJB, ZAP // BBC