Há poucas semanas, a Polícia Federal mexicana prendeu um homem que se identificou como o suposto operador financeiro de Nazario Moreno González, o fundador dos cartéis de drogas Família Michoacana e Os Cavaleiros Templários.
As milícias de autodefesa que atuam em Michoacán, lutando ilegalmente contra os traficantes, impuseram a captura de Moreno González como condição para baixar as suas armas.
O problema, no entanto, é que “El Chayo”, “Él Más Loco” ou “El Doctor”, nomes como é conhecido Moreno González, está oficialmente morto: em dezembro de 2010 o governo do ex-presidente Felipe Calderón assegurou que tinha sido abatido num confronto com a Polícia Federal.
Três anos depois, essa versão ameaça cair por terra. Em Michoacán, no Oeste do México, muitos garantem que “El Más Loco está vivo” e que comanda as operações dos Templarios.
No entanto, a notícia da morte nunca foi desmentida pelo atual governo. O secretário executivo do Sistema Nacional de Segurança Pública, Monte Alejandro Rubido, disse que assim que houver novidades sobre Moreno González, estas serão divulgadas.
Vivo ou morto, El Chayo é um dos elementos centrais da guerra contra o tráfico de drogas no México, especialmente em Michoacán, onde agora se concentra o maior número de tropas e agentes federais do país.
Surrealismo
O jornalista José Gil Olmos, da revista Processo, que há muito tempo acompanha o conflito em Michoacán, afirmou que há um elemento “surrealista” na história. “Nazario começou a criar dentro dos Cavaleiros Templários uma espécie de corrente religiosa e esotérica, porque ser apenas o líder não era suficiente”, disse à BBC.
“Ele decidiu sagrar-se como um santo e para isso precisava de morrer. Assim, foi declarado morto há quase três anos, mas ninguém fez o reconhecimento de seu corpo”, afirma Olmos. “A partir de sua morte ele renasce em si mesmo e começa a ser criada essa história totalmente surreal do primeiro santo traficante, que é uma espécie de guia espiritual de um dos grupos mais organizados e ao mesmo tempo mais violento do tráfico de drogas no México”.
As versões de que Nazario Moreno está vivo não são novas. As primeiras referências apareceram dias depois de o governo Calderón o declarar morto.
Há alguns dias, as milícias de autodefesa exibiram túnicas, imagens e capelas dos Templarios onde aparentemente o líder criminoso realizava cerimônias de iniciação dos mais novos membros do cartel.
Em meados de 2011, na comunidade de Holanda, na região montanhosa ao sul do estado de Michoacán, foi construída uma capela para venerar a imagem de Moreno, a quem um jornalista local definiu ironicamente como “o único santo vivo que há no mundo”.
Ainda que não haja confirmação de que El Chayo esteja vivo, a influência que exerce na região é importante, segundo Gil Olmos.
“É possível perceber a sua liderança, todas as pessoas de Michoacán dizem que não morreu, até dizem que está em alguns povoados. Contam ainda que ele comanda o cartel ao lado de Servando Gómez La Tuta. Nesse conflito, Nazario não é só o líder físico dos Templarios, mas também o guia espiritual que aponta o caminho”.
Longa História
Como é possível a existência de uma personagem como El Más Loco?
Segundo o especialista Martín Barrón, do Instituto Nacional de Ciência Penais, o que agora se vive em Michoacán é o resultado de um longo processo de conflitos e problemas sociais. “A grande força cultural da religião católica tem-se perdido nos últimos anos, porque estão a aparecer outras associações religiosas e isso tem causado conflitos dentro das comunidades”, disse à BBC.
A essa mistura soma-se o abandono do poder público por vários anos, abrindo uma espaço que foi ocupado por grupos de crime organizado, segundo Barrón.
Nazario Moreno criou um grupo de ajuda a jovens dependentes de drogas, que, ao longo dos anos, serviu de local de recrutamento de empregados e assassinos do grupo criminoso.
Analistas e autoridades concordam que o aspecto semi-religioso que deu à sua organização é um dos elementos de união do grupo e, ao mesmo tempo, fornece uma capa de proteção social nas comunidades onde atua.
Também por essa razão é difícil combater a influência de El Más Loco em Michoacán, afirmou José Gil Olmos. “As pessoas procuram coisas em que acreditar e acabam por criar esses santos populares. Por outro lado, temos um personagem que gosta tanto de si mesmo que decidiu tornar-se um deles”.
ZAP / BBC