Os Xutos & Pontapés lançam o álbum “Puro”, na segunda-feira, dia em que cumprem 35 anos. “Somos nós próprios. É puro, não tivemos outras intenções senão louvar aquilo que somos”, afirmou o vocalista, Tim, à agência Lusa.
Há 35 anos, quando deram um curto concerto de estreia nos Alunos de Apolo, em Lisboa, os Xutos & Pontapés não tinham uma legião de fãs – “tínhamos amigos” – e estavam longe de saber que se tornariam numa das mais resistentes bandas do rock português.
Sem saudosismos, em dia de aniversário lançam um novo registo que tem a marca identitária da banda – o baixo dominante de Tim, os solos de guitarra eléctrica de João Cabeleira -, com letras que “são um reflexo do que se passa actualmente”.
“Às vezes perguntamos o que andamos aqui a fazer. Quando chega a altura de fazer as músicas, de escrever, de fazer aquilo que sabemos fazer, essa referência fica ultrapassada. (…) Quem ouvir o trabalho e quem conhecer os Xutos vai descobrir uma série de coisas – umas [são] referência, outras, novidades, mas permitiram que este disco fosse mais além e novo para nós”, afirmou Tim.
Mais de metade do disco é, segundo o guitarrista Zé Pedro, “muito reflexo de tudo o que se está a passar actualmente”.
Isso ouve-se, por exemplo, em “O milagre de Fátima”, no qual Tim diz “Que se cante o fado/ que se louve a saudade/ este país quer mais futebol/ que nada se passe/ a não ser a fome/ e que o país por fim/ apodreça”.
Já “Ligações directas”, uma das últimas letras a ser composta, faz referência explícita ao corte de energia eléctrica, em Novembro, no bairro do Lagarteiro, no Porto: “Quanto mais têm mais querem de mim/ como o gasóleo tudo pode subir/ só o teu salário continua a descer/ tu não crês em ligações directas/ olha aqui estas feridas abertas/ por onde escorreu o nosso dinheiro/ e se derreteu um futuro inteiro/ tu, morrer de fome e de frio primeiro/ aqui no bairro do Lagarteiro”.
“Aquela história é o resumo de uma série de acontecimentos que têm vindo a acumular-se, a caracterizar a situação actual. (…) Nós ouvimos o que se passou com eles e não gostámos”, afirmaram os dois músicos.
No álbum, a banda faz ainda um agradecimento aos fãs, que os seguem com alguma devoção.
“Os fãs são o que fazem uma banda. Se a gente não tivesse fãs não andava aqui a tocar há 35 anos e de um lado para o outro. São quem nos dá carinho, quem nos defendeu em alturas más e quem esteve connosco em alturas difíceis. São puros, contam de uma maneira especial”, afirmaram Tim e Zé Pedro.
“Puro” será apresentado ao vivo ao longo deste ano, com o primeiro concerto a acontecer a 7 de Março, no Meo Arena, em Lisboa: “Vai ser brutal. Vai ser uma comemoração, mas um grande concerto, que é o que gostamos de fazer”, disseram.
Apesar do aniversário os fazer olhar para o passado, Zé Pedro referiu que nenhum dos músicos é nostálgico.
“Estamos sempre naquela: Hoje é que é bom e amanhã vai ser melhor. Isso é que é uma grande vantagem, estarmos há tanto tempo todos juntos a compor e a trabalhar, a tocar. E é sempre com esse espírito. Desde que se parta com esta base, as coisas vão para a frente, como está demonstrado neste disco; a maneira como encarámos os temas e como o disco soa. O objectivo de fazer melhor do que fizemos ontem”, resumiu Zé Pedro.
A 13 de Janeiro, próxima segunda-feira, assinalam-se os 35 anos desde que os Xutos & Pontapés Rock’n’Roll Band – foi assim que se apresentaram – actuaram na festa nos Alunos de Apolo, em Lisboa, que serviu de despedida dos Faíscas, de Pedro Ayres Magalhães.
Além da edição do álbum, como vão assinalar o aniversário? “Temos feito sempre diferente, nas festas de anos, e este ano o Tim lembrou-se: ‘Porque não ir jantar ao estrangeiro? Então escolhemos Londres como objectivo”, disseram.
/Lusa