O ex-futebolista holandês Johan Cruyff morreu esta quinta-feira aos 68 anos.
Um comunicado oficial no site do antigo treinador do Barcelona anunciou que Johan Cruyff morreu “pacificamente em Barcelona, rodeado pela sua família depois de uma dura baralha contra o cancro“.
“É com grande pesar que pedimos que respeitem a privacidade da família durante este tempo de luto”, refere o comunicado.
Nascido em Amesterdão em abril de 1947, Hendrik Johannes Cruyff apresentava um futebol revolucionário que unia talento a um grande conhecimento tático e técnico. Ao longo da sua carreira, o carismático internacional holandês vestiu as camisolas de clubes como o Ajax e o Barcelona.
O emblemático número 14 comandou a seleção holandesa no Mundial de 1974, sendo um dos protagonistas da mítica equipa que ficou eternizada como “Laranja Mecânica“.
No Barcelona, já como treinador, Cruyff foi tetracampeão espanhol entre os anos de 1990 e 1994.
O ex-jogador foi diagnosticado com cancro no pulmão em outubro do ano passado, 25 anos depois de ter deixado de fumar por problemas cardíacos, depois de uma operação ao coração em 1991.
“O futebol deu-me tudo. O cigarro quase me tirou tudo”, disse na altura.
Mais do que um jogador, o legado de uma forma de jogar
Um dia Cruyff disse que “se a bola estiver connosco, eles não conseguem marcar golos” – uma ideia que representa muito do legado daquele que é considerado um dos melhores futebolistas de todos os tempos.
A sua marca no futebol é inquestionável, não só como jogador, mas como treinador, sendo na avaliação de muitos o precursor da escola de posse de bola do FC Barcelona, tida como a melhor equipa do mundo.
Muitos técnicos do Barça acabaram por ser seus discípulos e Guardiola, que conquistou tudo nos catalães, chegou a dizer: “Cruyff construiu o edifício e os técnicos do Barça que o sucederam apenas trataram de restaurá-lo e reformá-lo”.
Mas se como treinador deixa tal marca, numa carreira dedicada aos seus dois amores – Ajax e FC Barcelona -, com a conquista da Taça dos Campeões Europeus, duas Taças das Taças, uma supertaça europeia ou quatro ligas espanholas, como futebolista o seu papel não foi em nada inferior.
Tudo começou no Ajax, em plena década de 60 e quando Cruyff ainda não tinha atingido a maioridade. A ligação estabeleceu-se pela mão do pai, merceeiro que abastecia o clube, e mais tarde reforçada pela mãe, empregada de limpeza.
Foi ela que acreditou que o futebol poderia fazer bem aos problemas ortopédicos do jovem Johan, que aos 17 anos viria a vestir pela primeira vez a camisola oficial da equipa de Amesterdão.
A importância de Cruyff rapidamente cresceu – com Rinus Michel no comando da equipa -, catapultando o Ajax para oito títulos de campeão holandês e três títulos de campeão europeu, tudo entre meados dos anos 60 e 70.
Foi também aqui que começou a construção da mítica Laranja Mecânica holandesa – também chamada Carrossel Holandês -, a seleção que, igualmente com Rinus Michel, seria vice-campeã mundial em 1974 e 1978, e num período em que Cruyff já rumara ao Barcelona.
O clube catalão começou por ser a segunda casa do jogador, para rapidamente se tornar a primeira – pese embora passagens posteriores por outros clubes, nos Estados Unidos, o AC Milan, o Levante, novamente o Ajax e, finalmente, o Feyenoord.
Durante as oito temporadas em que se sentou no banco do Barcelona, o clube catalão afirma que Johan Cruyff “liderou o melhor Barça da história até ao momento“, ganhando quatro campeonatos de Espanha consecutivos e a primeira Taça dos Campeões Europeus conquistada pelo FC Barcelona, em maio de 1992.
“Foi a época do lendário Dream Team, uma equipa que maravilhou todo o mundo com um futebol extraordinário”, salienta o FC Barcelona.
Já depois de sair do cargo de treinador do clube catalão, Johan Cruyff foi eleito em 1999 como o melhor jogador do século na Europa.
Foi em Barcelona que Cruyff acabou por radicar-se e dos três filhos que teve, Jordi (nome catalão) acabou mesmo por também jogar no Barça, onde a antiga estrela chegou a treinar o português Luís Figo.
Cruyff “mudou totalmente a maneira como se pensava o futebol através da sua maneira de ver o futebol, de ver os jogos, de ver o clube e a sua organização. Há treinadores que arriscam e correm riscos e há treinadores que não têm essa coragem. Johan pertence à primeira categoria”, disse Bartomeu.
O atleta deixa esse legado na cultura de futebol total, um papel que fez na perfeição e que lhe valeu por três o troféu de Bola de Ouro (1971, 1973, 1974), que distinguia o melhor jogador a alinhar na Europa.
O genial Johan Cruyff está agora no céu dos jogadores, sentado num banco especial com muito poucos lugares, onde Di Stéfano e Eusébio aguardavam por ele, e onde um dia – esperemos que longínquo – se sentarão também Pelé, Maradona, Platini e Figo.
ZAP