Há 80 anos, aviões nazis afundaram um navio de cruzeiro requisitado pelo Governo britânico para evacuar tropas de França após a invasão pelas tropas alemãs.
Num dos eventos mais mortais da 2.ª Guerra Mundial, o naufrágio de Lancastria viu comunidades costeiras na região oeste da Loire-Atlantique, em França, a lutar para resgatar sobreviventes, cuidar dos feridos e enterrar os mortos. Durante semanas, corpos continuaram a dar à costa.
De acordo com o Raw Story, os detalhes do naufrágio, incluindo o número de fatalidades quando o Lancastria afundou, permanecem encobertos por um chamado “aviso D” emitido por Winston Churchill para ocultar as notícias do naufrágio de um público desmoralizado pela guerra.
O “blackout” dos media foi decretado durante 100 anos até 2040, embora muito se tenha conhecido sobre o incidente através dos sobreviventes, parentes mais próximos e investigadores históricos, como a Associação Lancastria da Escócia.
O naufrágio é descrito como o pior desastre da história marítima britânica e a maior perda de vidas das forças britânicas na 2.ª Guerra Mundial.
Os milhares de passageiros eram principalmente militares, mas também civis que embarcaram no antigo navio de cruzeiro em Saint-Nazaire para fugir do avanço alemão.
Os aviões da Luftwaffe apanharam o navio exposto na costa atlântica da França e bombardearam-no, fazendo-o virar e afundar em 20 minutos, enquanto o combustível aceso incendiava o mar ao redor.
O número de mortos é estimado em 2.500 a 6.000 – mais do que os naufrágios do Titanic e do Lusitania juntos. Houve 2.477 sobreviventes.
“O sigilo continua a encobrir o Lancastria como as águas escuras e cheias de lodo que agora cobrem o local dos destroços”, dusse a Associação Lancastria, cujo site lista os relatos dos sobreviventes e uma petição para que o naufrágio seja declarado um túmulo de guerra marítima sob a lei britânica.
Valerie Roux, especialista da 2.ª Guerra Mundial com o arquivo do departamento Loire-Atlantique da França, reuniu registos irregulares ao longo dos anos, principalmente de um prédio do governo em Saint-Nazaire bombardeado durante a guerra.
Os papéis da sua coleção, amarelados pelo tempo e agora expostos ao público, revelam o quão pouco se sabe sobre as vítimas. “Ele vestia calças caqui e uma camisa caqui com meias cinzentas”, lê-se numa lista de cadáveres compilados por um município. Outro “usava um anel de metal no dedo anelar esquerdo”.
Em Piriac, foram encontrados os corpos dos soldados Harry Bullock e Charles Heron. Um terceiro corpo foi listado como “desconhecido”, de acordo com “documentos apreendidos pelo exército ocupante”. Em Bernerie, os registos estão incompletos porque “o presidente, o vice-presidente e a secretária do presidente (estavam) todos no exército”.
Thibaud Harrois, um professor sénior de política britânica da Universidade Sorbonne Nouvelle, disse que o avanço alemão em 1940 após a chamada “Guerra Falsa” – um período inicial sem grandes hostilidades – “surpreendeu todos verdadeiramente”.
Isso levou as forças aliadas a retiraram-se de França, sendo que cerca de 340 mil soldados foram evacuados pelo mar. “Na Grã-Bretanha, quando se fala da retirada de maio de 1940, é a Batalha de Dunquerque que se tornou o símbolo, assumiu proporções míticas porque mais soldados foram evacuados do que o planeado”, disse Harrois.
No entanto, o Lancastria foi uma evacuação “fracassada”, o que explica o desejo das autoridades de ocultá-la.
Descendentes de vítimas e sobreviventes continuam a honrar os mortos. A cerimónia para marcar o aniversário teve de ser atenuada este ano, limitada a apenas 10 pessoas por causa das restrições impostas ao combate à epidemia de coronavírus.