O ex-presidente da Nissan e da Renault, Carlos Ghosn, terá conseguido fugir para o Líbano depois de a empresa de segurança contratada pela fabricante automóvel nipónica para vigiar o empresário ter suspendido os serviços no dia 29 de dezembro.
De acordo com a agência Reuters, que cita três fontes conhecedoras do processo, os advogados de Carlos Ghosn contestavam a vigilância feita por uma empresa de segurança privada contratada pela Nissan, alegando que estava em causa a violação dos Direitos Humanos. O chefe da equipa de defesa, Junichiro Hironaka, chegou mesmo a ponderar apresentar uma queixa contra a empresa, o que acabou por não vir a ser necessário.
Carlos Ghosn deixou de ser monitorizado por essa companhia de segurança no passado domingo, o que possibilitou a sua fuga para Beirute.
Desconhece-se ainda como Carlos Ghosn conseguiu escapar para a capital do Líbano e quando começou a preparar o plano que segundo o próprio foi elaborado “sozinho”. No entanto, as autoridades estão a tentar perceber se houve cúmplices.
De acordo com o Financial Times, várias equipas de especialistas de segurança privadas e antigos militares deverão ter estado envolvidos no plano de fuga avaliado em cerca de 17,92 mil euros (20 mil dólares).
Carlos Ghosn, ex-presidente do conselho de administração e ex-presidente executivo do grupo Nissan e da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, foi detido em Tóquio em 19 de novembro de 2018 por suspeita de abuso de confiança e evasão fiscal.
Detido vários meses no Japão, o empresário foi libertado em março de 2019, após o pagamento de uma caução. No início de abril passado, foi novamente detido e outra vez libertado sob caução. O Ministério Público (MP) de Tóquio informou que a última detenção do ex-presidente da Nissan justifica-se pela suspeita de que Carlos Ghosn desviou cinco milhões de dólares, cerca de 4,4 milhões de euros.
No final desse mesmo mês, Ghosn ficou sob detenção domiciliária, a aguardar julgamento por evasão fiscal, entre outros crimes.
Os advogados e a família de Carlos Ghosn têm criticado fortemente as condições da detenção do empresário, bem como a forma como a justiça nipónica tem gerido os procedimentos deste caso.
Ghosn chegou à Nissan em 1999 como presidente executivo para liderar a recuperação do fabricante, com sede em Yokohama, nos arredores de Tóquio, depois de ter oficializado uma aliança com a francesa Renault.
A notícia da fuga de Carlos Ghosn apanhou de surpresa as autoridades nipónicas. Os serviços de estrangeiros e fronteiras não tinham qualquer informação sobre a saída de Ghosn. Neste momento, Ghosn está em Beirute, numa casa de família, na companhia da sua mulher, Carole, de origem libanesa.
Ghosn terá usado um avião particular com destino à Turquia e depois ao Líbano. Ghosn ter-se-á escondido numa caixa destinada a equipamentos musicais para não ser detetado. A mulher, Carole Ghosn, reagiu, dizendo tratar-se de “uma ficção”, sem detalhar mais sobre a fuga do marido.
Ghosn terá entrado no Líbano com um passaporte francês. O objetivo da fuga seria encontrar um ambiente jurídico mais favorável para Ghosn. O Líbano tinha iniciado contactos com o governo japonês para que o gestor fosse julgado em Beirute.
Na quinta-feira, o Líbano recebeu um mandado internacional da Interpol para a detenção do ex-presidente da Renault-Nissan. As autoridades turcas já detiveram e colocaram sob custódia sete pessoas, incluindo quatro pilotos, todos suspeitos de ajudar Ghosn a fugir do Japão para o Líbano.