23 mil pessoas estão desaparecidas devido à guerra entre Rússia e Ucrânia

Oleg Petrasyuk/EPA

Reencontro familiar em Kiev, após chegada de comboio de Kherson

Cruz Vermelha investiga o destino de pessoas desaparecidas dos dois lados do conflito, que podem ter sido “capturadas, mortas ou separadas dos seus”. É a missão mais importante desde a Segunda Guerra Mundial.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou esta segunda-feira que está a tentar “clarificar sobre o destino de 23 mil pessoas que terão desaparecido” durante o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, em curso há dois anos.

“O gabinete da Agência Central de Investigação [ACI] do CICV para o conflito armado internacional entre a Rússia e a Ucrânia, em funcionamento desde março de 2022”, consagra-se à investigação sobre pessoas desaparecidas dos dois lados no decurso deste conflito, “quer tenham sido capturadas, mortas ou separadas dos seus” na sequência dos combates, indicou o CICV em comunicado.

“Permanecer sem notícias de um próximo é um verdadeiro suplício, uma angústia permanente. Dezenas de milhares de famílias estão confrontadas com esta trágica realidade. Têm o direito de saber o que aconteceu aos seus próximos e, quando for possível, partilhar as novidades com eles”, sublinhou Dusan Vujasanin, chefe de gabinete da ACI.

“No decurso dos dois últimos anos, o CICV recebeu mais de 115 mil pedidos de investigação sobre desaparecidos por parte de famílias da Ucrânia e da Rússia, por telefone, através das plataformas digitais, por correio ou durante entrevistas presenciais”, indicou a instituição.

“Em 31 de janeiro de 2024, o CICV, com a participação de diversas sociedades nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho – na Ucrânia, Rússia e em outros locais – ajudou oito mil famílias a obter informações sobre o destino dos seus próximos ou o local onde se encontravam”, segundo o comunicado, que cita testemunhas de famílias que acabaram por receber notícias dos seus próximos.

Estou muito feliz por saber que o meu filho está vivo. Há dois meses que não tinha notícias dele. Estive como que morta durante esse tempo”, declarou uma mãe ao CICV.

O gabinete da ACI “permitiu a milhares de pessoas retomar contacto com um próximo de quem tinham perdido o contacto e obter informações sobre o que lhe aconteceu”, congratulou-se Vujasanin. “Mas outros ainda permanecem na expectativa e na incerteza”, sublinhou.

Até à data de 23 de janeiro, as Nações Unidas registaram um total de mais de 10 mil mortes civis, um número que, no entanto, se acredita ser bastante mais elevado.

Crise de segurança mais grave desde a 2.ª Guerra

O gabinete da ACI para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia é o primeiro dos últimos 30 anos a ser especificamente criado pelo CICV para um conflito internacional. Esta missão é a mais importante desde a Segunda Guerra Mundial.

Em conformidade com as Convenções de Genebra, os dois países estabeleceram em paralelo um Gabinete Nacional de Informações (GNI) responsável por recolher, centralizar e transmitir as informações relativas às pessoas protegidas (incluindo prisioneiros de guerra e civis) que se encontrem em seu poder, esclareceu o CICV.

Ao atuar como intermediário neutro entre a Rússia e a Ucrânia, o gabinete da ACI reúne, centraliza e regista estas informações, para depois as transmitir ao campo respetivo, acrescentou a instituição.

As partes envolvidas num conflito internacional “são responsáveis por tratar com humanidade as pessoas que estão na sua posse e assegurar que os mortos sejam expostos de forma digna”.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, desencadeada em 24 de fevereiro de 2022, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

ZAP // Lusa

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