“Dois terroristas encontraram-se. Vão atacar outros aliados”: um Zelenskyy diferente nos EUA

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Jim Lo Scalzo/EPA

Volodymyr Zelenskyy e Joe Biden

Presidente da Ucrânia saiu do país pela primeira vez, desde que a guerra começou. Pediu ajuda e a sua postura foi distinta.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, salientou esta quarta-feira, perante o Congresso norte-americano, que o dinheiro entregue pelos Estados Unidos à Ucrânia “não é caridade”, mas “um investimento na liberdade” e na “segurança global”.

Zelensky destacou que “contra todas as probabilidades” a Ucrânia ainda está de pé, depois de ser recebido com uma ovação estrondosa por parte dos congressistas presentes no Capitólio dos Estados Unidos.

“A Ucrânia está viva e em luta“, sublinhou.

“A tirania russa já não tem qualquer controlo sobre nós“, acrescentou o líder de Kiev num discurso em inglês de 20 minutos, que fechou a primeira viagem do líder ao estrangeiro desde a invasão da Ucrânia a 24 de fevereiro.

O chefe de Estado ucraniano realçou que o que está em jogo no conflito é maior do que apenas o destino do seu país, salientando que a democracia em todo o mundo está a ser testada.

“Esta batalha não pode ser ignorada, à espera que o oceano ou qualquer outra coisa forneça proteção”, frisou, agradecendo aos norte-americanos pelo apoio e liderança internacional na ajuda à Ucrânia.

Em referência ao recente sistema de defesa Patriot, que os EUA vão entregar a Kiev, Zelensky disse esperar que este ajude a “parar o terror russo contra as cidades” ucranianas.

O Presidente ucraniano também deu a entender que não vai relaxar a pressão para obter mais armamento e equipamento mais pesado.

Temos artilharia, sim“, disse, acrescentando: “Será suficiente? Sinceramente, nem por isso“.

Disse também que “os soldados ucranianos podem perfeitamente operar tanques e aviões americanos“, numa referência ao equipamento que Washington se recusou a fornecer até agora.

Já sobre a ajuda financeira, o governante ucraniano destacou que esta é muito importante: “O vosso dinheiro não é caridade, é um investimento na liberdade, numa segurança global, que gerimos da forma mais responsável possível”.

Na ocasião, Zelensky relacionou a luta contra a Rússia à ameaça colocada pelo Irão, um tema caro ao campo republicano que critica o Presidente democrata, Joe Biden, por ser demasiado complacente com Teerão.

“Os ‘drones’ [aparelhos aéreos não tripulados] mortais enviados pelo Irão para a Rússia às centenas tornaram-se uma ameaça para as nossas infraestruturas estratégicas. Dois (estados) terroristas encontraram-se. E é apenas uma questão de tempo até que ataquem os seus outros aliados“, advertiu.

No final do discurso, Zelensky dirigiu-se à presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e à vice-Presidente dos EUA, Kamala Harris, que presidiam a sessão.

“Quando eu estava ontem [terça-feira] em Bakhmut [uma cidade na região de Donetsk devastada por combates], os nossos heróis deram-me a bandeira, a bandeira deles. A bandeira daqueles que defendem a Ucrânia, a Europa e o mundo à custa das suas vidas”, sublinhou, antes de entregar às duas responsáveis a bandeira ucraniana, azul e amarela, coberta com as assinaturas dos militares.

Em troca, recebeu uma bandeira norte-americana que tinha sido hasteada no topo do Capitólio nesse mesmo dia para assinalar a visita.

O discurso perante o Congresso foi a segunda paragem da visita a Washington, depois de Zelensky se ter reunido na Casa Branca com Biden.

Postura diferente

Esse encontro com Joe Biden foi o primeiro em 2022, entre os presidentes de Ucrânia e EUA.

Mas não foi o primeiro encontro oficial entre os dois líderes. Já tinha ocorrido um igualmente na Sala Oval, mas no ano passado.

Na altura, em 2021, o momento serviu para assinalar os 30 anos da independência da Ucrânia, depois do fim da União Soviética.

Ou seja, esse encontro decorreu antes da guerra.

E agora as diferenças na postura e no comportamento de Zelenskyy são evidentes, salienta o jornal Observador.

Num primeiro olhar, a roupa. Há um ano o líder da Ucrânia chegou à Casa Branca com fato e gravata preta; nesta quarta-feira estava, como quase sempre nos últimos meses, com roupa militar verde. E as máscaras desapareceram, pois.

Numa primeira audição, o idioma. Há um ano Zelenskyy falou em ucraniano; desta vez, e provavelmente para assegurar que não havia falhas na tradução local, optou pelo inglês.

Por último, a sua postura. A descontracção do presidente da Ucrânia em 2021 foi substituída por maior seriedade, alguma preocupação e uma aparente maior proximidade com Joe Biden.

“Paz justa”

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, realçou hoje em Washington que uma “paz justa” para terminar com a guerra da Rússia contra a Ucrânia não implica “nenhuma cedência” na integridade territorial ucraniana.

“Para mim, como Presidente, uma ‘paz justa’ não implica qualquer cedência quanto à soberania, liberdade e integridade territorial do meu país”, destacou o chefe de Estado da Ucrânia, durante uma conferência de imprensa ao lado do homólogo norte-americano, Joe Biden, após uma reunião bilateral na Casa Branca.

Em resposta a uma pergunta de um jornalista ucraniano, Zelensky referiu que não sabe o que é uma “paz justa” para todos.

“Tenho falado muito nas crianças, mas, como pai, gostava de enfatizar que muitos pais perderam filhos na linha da frente. O que é ‘paz justa’ para eles? Dinheiro ou compensações não são nada. É uma tragédia tremenda e, quanto mais a guerra durar, mais pais viverão a querer vingança”, sublinhou Zelensky.

Em resposta, Joe Biden garantiu que partilha a mesma visão pela “independência da Ucrânia”.

Queremos que esta guerra acabe, e, como dissemos, isso não irá acontecer agora (…). Vamos ajudar a Ucrânia a ganhar no campo de batalha, o que não pode acontecer sem a nossa ajuda”, destacou.

Patriot são para “defesa”

Joe Biden e Volodymyr Zelensky destacaram hoje que o sistema de mísseis de defesa Patriot, que os Estados Unidos vão fornecer à Ucrânia, será fundamental para a criação de um espaço aéreo seguro para os ucranianos.

O envio dos Patriot, anunciado pouco antes da chegada de Zelensky a Washington, “é um passo muito importante na criação de um espaço aéreo seguro para a Ucrânia”, sublinhou o Presidente ucraniano, no final de uma conferência de imprensa ao lado do homólogo norte-americano, após uma reunião bilateral na Casa Branca.

Zelensky frisou que este sistema de mísseis, que os EUA vão fornecer pela primeira vez desde o início da invasão russa da Ucrânia, que dura há mais de 300 dias, ajudará a conter os “ataques às infraestruturas”.

O governante ucraniano adiantou ainda que discutiu com Biden o que é necessário para os ucranianos sobreviverem ao inverno, referindo que “proteger as pessoas é uma necessidade humanitária”.

Joe Biden realçou que o sistema Patriot irá demorar algum tempo a estar operacional, mas assegurou que será prestada a formação necessária.

Questionado sobre se o envio do sistema Patriot pode ser interpretado pela Rússia ​​​​​​​como uma escalada, Biden lembrou que este “é um sistema de defesa”.

374 milhões

O Presidente norte-americano, Joe Biden, revelou esta quarta-feira que os Estados Unidos vão destinar mais 374 milhões de dólares em ajuda humanitária à Ucrânia, anuncio feito durante a visita a Washington do seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Biden divulgou esta ajuda durante a conferência de imprensa conjunta com Zelensky, na Casa Branca, explicando que estes fundos, que serão canalizados através da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), vão atender às necessidades de milhões de ucranianos, para o acesso a cuidados de saúde, água potável e aquecimento.

Em comunicado, a USAID especificou que esta ajuda servirá para fornecer alimentos e outros serviços a 1,5 milhões de ucranianos, noticiou a agência Efe.

Para concretizar este apoio, a agência norte-americana irá coordenar-se com outros parceiros internacionais, como o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PAM) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A USAID destacou ainda no comunicado que os EUA são o maior doador de ajuda humanitária em resposta à crise na Ucrânia, já que destinou mais de 1.900 milhões de dólares para ajudar ucranianos e refugiados nos países vizinhos.

Durante a conferência de imprensa Biden lembrou o apoio já prestado pelos Estados Unidos à Ucrânia, numa altura em que o Congresso está prestes a aprovar mais 44,9 mil milhões de dólares (42 mil milhões de euros) em assistência.

Putin não tem intenção de parar esta guerra cruel. Queremos que os ucranianos possam continuar a defender-se desta guerra durante o tempo que for preciso. Espero assinar a lei rapidamente”, realçou Biden.

Os Estados Unidos anunciaram também esta quarta-feira que fornecerão ajuda militar à Ucrânia no valor de 1,85 mil milhões de dólares (1,75 mil milhões de euros), incluindo uma bateria de mísseis Patriot.

A nova remessa de armamento e equipamentos dos EUA para a Ucrânia, a 28.ª desde agosto de 2021, “fornecerá à Ucrânia capacidades expandidas de defesa aérea e ataque de precisão, bem como munições adicionais e equipamentos críticos que a Ucrânia está a usar de forma tão eficaz para se defender no campo de batalha”, indicou o secretário de Estado, Antony Blinken, em comunicado.

O valor hoje anunciado elevará a assistência militar total dos Estados Unidos à Ucrânia para 21,9 mil milhões de dólares (20,6 mil milhões de euros) desde que Joe Biden tomou posse, em janeiro de 2021.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. O Clownensky já arranjou maneira de prolongar a guerra que nunca seria capaz de resistir.
    Vai usar o povo Ucraniano como ‘carne para canhão’ ao serviço dos americanos e ingleses.
    É o tal ‘investimento’.
    “Vocês metem o ‘guito’, eu chego-me à frente com a ‘carne'”

    • Concordo plenamente. O actor apresenta e a América vende armas ,
      A UE faz tudo o que o actor quer . Esquece-se que em muitos países da UE existe muita fome e para isso eles não dão.
      Não vejo ninguém a dizer que teem que se sentar à mesa para fazerem um acordo, para acabarem de vez com esta guerra, pois estamos a pagar e não temos culpa nenhuma

  2. Titulo do Artigo e Foto , são contraproducentes ! . Quem não lê o Artigo no seu total conteúdo , pode ficar com uma falsa ideia da realidade , era de evitar tal cabeçalho inapropriado ! .

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