Von der Leyen sobrevive a moção de censura. É só o início dos seus problemas

Julien Warnand / EPA

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen

Apesar de ter a sua sobrevivência garantida, a moção é um sinal do crescente descontentamento dos eurodeputados com a presidente da Comissão.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, enfrentou esta quinta-feira uma moção de censura no Parlamento Europeu. A moção foi chumbada — algo que já se sabia à partida — mas a sua mera existência é um sinal de aviso do crescente descontentamento com a sua liderança e da sua posição mais fragilizada.

A moção, encabeçada por eurodeputados de extrema-direita, foi motivada pelo escândalo “Pfizergate”, referente a suspeitas de trocas de favores entre o CEO da gigante farmacêutica Pfizer e Von der Leyen, no âmbito da compra de vacinas para a covid-19 em 2021.

Von der Leyen, outrora vista como uma figura unificadora, encontra-se agora cada vez mais isolada, particularmente dos grupos políticos de centro-esquerda e liberais que ajudaram a consolidar a sua posição em 2019. A sua recente viragem para a direita atraiu críticas e preocupações sobre o seu rumo político e a sua posição em questões-chave como as iniciativas ambientalistas e a imigração.

Embora a moção não tenha obtido a maioria de dois terços necessária para forçar a sua demissão, são necessárias apenas 72 assinaturas para lançar tal moção, revelando o quão vulnerável a posição de Von der Leyen se pode tornar se o descontentamento se alastrar.

O precedente da Comissão de Jacques Santer, em 1999, está a atrair comparações com a situação atual. Embora a moção tenha fracassado, a perda de apoio político acabou por obrigar a equipa de Santer a demitir-se.

Já se antecipa um novo confronto entre a Comissão e o Parlamento sobre uma proposta que visa agilizar as deportações de migrantes sem documentos. A directiva é impopular entre muitos no centro-esquerda, incluindo a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, que reconheceu que será “muito, muito difícil” aprová-la.

Para complicar ainda mais a situação, vozes influentes como o antigo presidente do BCE, Mario Draghi, alertaram que a UE enfrenta um período de estagnação, o que aumenta a pressão sobre a liderança de Von der Leyen para que apresente resultados tangíveis.

À medida que as divisões se aprofundam e que novos desafios surgem, o controlo de Von der Leyen parece cada vez mais precário.

Adriana Peixoto, ZAP //

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