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Europa dividida. Os Vinte e Oito regressam hoje à mesa de negociações

Álvaro Millán / Flickr

Os líderes europeus voltam a reunir-se esta terça-feira em Bruxelas, numa tentativa de resolver o impasse da distribuição dos cargos de topo. Se falharem, são os grupos parlamentares a determinar sozinhos quem fica como presidente do Parlamento Europeu.

Depois de uma maratona que expôs as divisões e as dificuldades, os Vinte e Oito regressam esta terça-feira à mesa de negociações. O desafio é fechar um acordo entre as 10h e as 21h (hora de Portugal Continental), antes do prazo limite para que a apresentação de candidaturas à presidência do Parlamento Europeu.

Se os chefes de Estados e de governo não se entenderem, os eurodeputados avançam com a eleição do seu presidente, sem ter em conta qualquer pacote forjado para a liderança das restantes instituições. Aí seriam os grupos parlamentares dos liberais, socialistas e centro-direita a pôr nomes em cima mesa, a decidir e a encaixar a primeira peça deste puzzle negocial, explica o Expresso.

A eleição do presidente do Parlamento Europeu cabe aos eurodeputados, mas os líderes têm batalhado para alcançar um compromisso alargado, distribuindo os postos de maior poder da União Europeia entre as famílias políticas mais votadas nas eleições europeias, numa aliança que permita também à UE funcionar de forma pacífica nos próximos 5 anos.

Mas este acordo não tem sido fácil.

PPEs contra Merkel

Vários líderes da sua família política democrata-cristã viraram-se contra Angela Merkel, nomeadamente os primeiros-ministros da Croácia e Letónia – Andrej Plenković e Arturs Kariņš – que rejeitaram um acordo que dizem ter sido forjado em Osaka sem que fossem tidos em conta e que dava a presidência da Comissão Europeia aos socialistas.

“Estivemos muito perto. O PPE não respeitou o acordo que fecharam Timmermans e Weber, depois da última cimeira, para que os socialistas dirigissem a Comissão e Weber o Parlamento”, disse Pedro Sánchez, chefe do Governo espanhol. Segundo o governante, foram estes dois candidatos ao lugar de Juncker que estiveram na base da solução para tentarem salvar o chamado “processo de Spitzencandidaten”.

O entendimento seria depois assegurado em Osaka, à margem da cimeira do G20, por Merkel, Sánchez, Emmanuel Macron, e Mark Rutte (primeiro-ministro holandês). Nesta lógica, o primeiro-ministro Charles Michel (liberal) ficava com a presidência do Conselho Europeu e a búlgara Marija Gabriel (PPE) ficava como alta representante para a Política Externa.

No entanto, Plenković e Kariņš, que eram até então os negociadores do PPE, não gostaram de ter sido deixados de lado, nem da solução em que o Partido Popular Europeu perdia a Comissão. Mas não foram os únicos: o presidente romeno e o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, também não gostaram da ideia.

A luta continuou até a família ter sido dividida, culminando no desfecho conflituoso desta segunda-feira. Algumas fontes, segundo o semanário, apontam também o dedo a Merkel por não ter comunicado melhor antecipadamente com os parceiros da família política.  António Costa, no entanto, teceu-lhe elogios no final do encontro pela forma “determinada” para “procurar sucessivos acordos”.

O primeiro-ministro português foi duro nas críticas aos quatro países (Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia) pelas divisões que criaram. “É claro que este fracasso e as divisões que evoquei, em alguns casos motivadas por ambições pessoais que não deveriam estar sobre a mesa, terão de ser resolvidas amanhã“, disse o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Tudo parece ter voltado à estaca zero. Ao que o Expresso apurou, o nome de Frans Timmermans não está 100% descartado e há ainda algum espaço para negociar. O candidato dos socialistas sai fragilizado, e o próprio António Costa disse não haver “plano nenhum”, numa posição mais pessimista.

Mas agora não há mais adiamentos. Sem um acordo esta terça-feira para os restantes cargos de topo, a eleição do presidente do Parlamento Europeu pode depois condicionar e influenciar as escolhas dos líderes, ou mesmo dificultar essas escolhas, face ao equilíbrio difícil entre regiões, famílias políticas e até de género.

ZAP //

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