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Vieira adiou o inevitável (mas terá de explicar a “limpeza” da dívida da sua empresa no Novo Banco)

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José Sena Goulão / Lusa

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira

A Comissão de Inquérito parlamentar às perdas do Novo Banco pretende avaliar a forma como foi reestruturada a dívida do grupo económico de Luís Filipe Vieira, a Promovalor. Mas só em Maio poderá confrontar o presidente do Benfica com a forma como o banco se livrou da dívida, mantendo “o risco” de perdas futuras.

Vieira é um dos grandes devedores do Novo Banco que vai ser ouvido no Parlamento, no âmbito da Comissão de Inquérito Parlamentar (CIP), para explicar o caso das dívidas da Promovalor, o seu grupo económico.

Em 2015, a Promovalor tinha uma exposição de 466 milhões de euros, com imparidades de 55 milhões de euros. Mas em 2018, a dívida era já de 760 milhões de euros, com perdas por imparidade de 225 milhões, conforme dados de uma auditoria da Deloitte.

Contudo, nesse ano de 2018, a dívida da Promovalor já tinha desaparecido da contabilidade do Novo Banco, após o acordo de reestruturação com o grupo de Vieira em 2017.

“O Novo Banco fez uma limpeza através da criação de fundos, nomeadamente em 2017, quando criou o Fundo Capital Criativo, a quem deu dinheiro para este comprar as dívidas de Luís Filipe Vieira”, apontou a deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, no Parlamento, durante a audição ao presidente da instituição bancária, António Ramalho.

Portanto, o Novo Banco passou a “sócio das empresas de Vieira”, apontou Mortágua.

Efectivamente, a operação de reestruturação aconteceu em Novembro de 2017, logo depois da venda do Novo Banco ao fundo Lone Star.

Assim, os activos da Promovalor passaram para o referido Fundo que é detido, “maioritariamente”, pelo Novo Banco, pelo que a instituição “continua exposta ao risco“, como nota o Observador.

A publicação atesta que “a conta deste negócio, se ainda não apareceu nos pedidos de capital feitos pelo Novo Banco, poderá aparecer no futuro”. Isso só não acontecerá se a venda dos activos do Fundo “gerar o rendimento suficiente para pagar a dívida que lhes está associada”, acrescenta.

Note-se ainda que o Fundo Capital Criativo, que ficou com as dívidas da Promovalor, é gerido por Nuno Gaioso Ribeiro, ex-administrador do Benfica na direcção de Vieira.

Gaioso Ribeiro também é presidente da empresa Capital Criativo (entretanto nomeada C2 Capital Partners) que ganhou o contrato de gestão do Fundo com o seu nome.

O Novo Banco paga a esta empresa, desde 2018, “mais de 600 mil euros anuais de comissão de gestão”, ainda segundo o Observador.

O filho de Vieira, Tiago Vieira, também era sócio da Capital Criativo quando esta ganhou o contrato do Fundo, mas acabou por vender a sua participação na empresa em 2020.

“Desconheço em absoluto, não tenho como conhecer”

A CPI às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução vai abordar alguns destes negócios e circunstâncias relacionados com o universo de Luís Filipe Vieira. Nesse sentido, quer também ouvir o presidente do Benfica.

Vieira deveria prestar declarações perante os deputados esta semana, mas pediu o adiamento da audiência por ter uma consulta médica. Assim, deverá ser ouvido apenas em Maio, em data ainda a determinar.

Já ouvido pelos deputados foi Nuno Gaioso Ribeiro que disse, na CPI, desconhecer o histórico da dívida ao Novo Banco da Promovalor.

“A sociedade gestora que represento desconhece o histórico de financiamento entre o Novo Banco e o devedor e nunca teve qualquer participação accionista ou intervenção na gestão da sociedade devedora”, apontou Gaioso Ribeiro na intervenção inicial na sua audição.

Gaioso Ribeiro está a ser ouvido por ser gestor da dívida da Promovalor ao Novo Banco que, segundo o também ex-vice-presidente do Benfica, totaliza 219,7 milhões de euros.

Desconheço, desconheço em absoluto, não tenho como conhecer – nem pelo exercício da actividade profissional, nem por conhecimento público – se existem perdas imputadas ao Fundo de Resolução relativamente ao fundo”, apontou ainda o gestor.

Com a constituição do Fundo Capital Criativo, que comprou as dívidas da Promovalor, “foram adquiridos ao Novo Banco 133,9 milhões de euros de créditos” e foram “reestruturados” pela instituição, mantendo-se “no balanço do banco”, “financiamentos existentes de 85,8 milhões de euros, perfazendo a operação o montante total de 219,7 milhões de euros”, explicou ainda Gaioso Ribeiro.

“O Novo Banco ficou, exactamente, com 95,89% do capital total subscrito do Fundo que é de 146,1 milhões de euros”, acrescentou.

Venda rápida seria “desfavorável” ao Novo Banco

O ex-dirigente do Benfica considerou ainda que, “tratando-se de créditos que foram aplicados em activos imobiliários e turísticos com retornos financeiros de longo prazo e grande iliquidez”, a “execução ou venda rápida dos activos ou dos créditos parecia ser, objectivamente, desfavorável para o credor“.

Assim, a solução foi a constituição de “um fundo que adquiriu os créditos para, através destes, aceder à propriedade dos activos, para os explorar, desenvolver e alienar a prazo, desejavelmente em melhores condições de mercado“, notou ainda.

Segundo Gaioso Ribeiro, esse modelo evitou a venda “descontrolada” de activos, reforçou as garantias do Novo Banco, “assegurou liquidez adicional para proteger os activos perante acções de outros credores”, “não contemplou qualquer perdão de dívida ou de juros ao devedor” e “atribuiu prioridade ao Novo Banco na distribuição de capital e liquidez originada no fundo”.

O gestor da C2 Capital Partners também afastou a existência de conflitos de interesses no processo, afirmando que “sem a vontade e a decisão do Novo Banco o fundo não existiria” e que a sociedade gestora não tem “poder decisório substantivo nesta operação”.

“Os interesses da sociedade eram e são em absoluto convergentes, estão totalmente alinhados, com os dos investidores: gerir o Fundo no melhor interesse destes, recuperar capital seguindo o plano contratual estabelecido”, justificou também.

Segundo o gestor, os principais activos do fundo são um conjunto de imóveis em Portugal e Espanha (53%), em Moçambique (21%) e no Brasil (26%).

Gaioso Ribeiro disse ainda que “têm existido dificuldades operacionais no fundo que podem comprometer, nesta conjuntura inesperada e no curto prazo, alguns objectivos previstos atingir ao fim de cinco anos”, devido à demora da inclusão de activos no fundo e de “litígios complexos”, dificuldades “muito agravadas pela pandemia”.

ZAP // Lusa

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7 Comments

  1. Venda rápida seria “desfavorável” ao Novo Banco!!??
    Lol…desculpa mais ridícula! Devem pensar que somos todos tótós…
    Em 2018 quando da venda dos imóveis, do portefólio “Viriato” a um fundo anónimo das ilhas Caimão, a metade do seu valor, não se importou nada com as perdas e até os financiou (com o “fundo de resolução”…. ou seja, nós os contribuintes) para a compra.
    Isto já se tornou um esquema (o financiar para comprar) para que estes bandidos não parem de nos roubar… e parece que nada lhes acontece com todos os que podem fazê-los pagar a olhar para o lado…

  2. Sou Benfiquista, mas digo-vos prendam esse gajo (Filipe Vieira e companhia ) ladrões e mais esses gestores do Novo Banco que emprestam dinheiro sem garantias.

  3. Isto são tudo casos para terminar em águas de bacalhau, são dezenas ou centenas de casos apontados a este artista e ao seu clube, alguma vez isto terá um julgamento imparcial, quem acredita em tal?

    • De facto, muitos casos semelhantes a este terminam, no nosso país, em “águas de bacalhau”… infelizmente ou lamentavelmente!
      Porém, pôr no mesmo saco uma pessoa e a instituição a que essa pessoa preside parece-me de um certo mau gosto ou de uma certa má fé…
      Uma coisa é tudo o que tem a ver com eventuais negócios pouco claros de LFV enquanto empresários e outra, bem diferente, é envolver o SLB nisso tudo…
      Aliás, se formos todos imparciais (tanto quanto possível), teremos de apontar baterias para outros lados (para todos os lados)… e a propósito do BES/Novo Banco teremos de ir também ao outro lado da segunda circular também… ou será que alguém duvida disso? A cor clubística dos principais atores desta “telenovela BES/NB não é o vermelho, é o verde…
      Mas os de lá de cima não se riam…
      Quem é que domina a noite (bem escura) do norte? Quem é?
      Esta situação recentíssima de agressão a um repórter de imagem (mesmo nas barbas e com a conivência) do D. Corleone não tem nada de novo… é apenas uma repetição de tantas que aconteceram ao longo dos últimos 40 (quarenta!) anos… ou será que as pessoas não sabem disso?
      Coitados… tão ingénuos que são…
      Portanto, é a velha questão: quando apontamos um só dos nossos dedos a alguém, há pelos menos três dedos apontados a nós…
      Voltando ao caso desta notícia, e para concluir, o LFV não é, de facto, nenhum santo, mas até agora não precisou de fugir do país para fugir à justiça… ao contrário de alguém que tem um cadastro incomparavelmente maior mas consegue sempre passar pelos “intervalos da chuva”…

      • LFV, não fora ser presidente do pequenote clube chamado Sport Lisboa e Benfica, não tinha importância nenhuma, há calotes incobráveis, maiores que a “dívida” e zero de falatório, não dão títulos e tudo que envolva o SLB é matéria para títulos e páginas de lixo com remetentes mais ou menos corruptos. Quantos aos “negócios pouco claros”, o caro António Gomes é um ingénuo – ou parece – as empresas, principalmente as grandes, não são fundações, o capitalismo0 é uma selva, não é por acaso que todas essas empresas gastam balúrdios com advogados, compram polícias, procuradores e juízes – amém.. – e LFV, além de ser um odioso self made man, é presidente do SLB, o que faz dele a pessoa mais notória, odiada e perseguida por uma comunicação social na maioria sem escrúpulos, além de representar obscuros interesses clubistas. Por exemplo, na comunicação desportiva, onde existem três diários – num país onde pouco ou nada de interesse desportivo acontece – o SLB foi completamente varrido das páginas dos três diários, completamente dominados por sportinguistas e portistas, maioritariamente não mais que medíocres contratados em função das ligações clubistas, nada a ver com a qualidade ou isenção…ou o conhecimento.
        Concluindo, LFV pode ser contestado como presidente do SLB, no mundo empresarial é dos mais dotados e capazes que o país produziu, não fora o estouro do imobiliário em 2008 e hoje seria, no mínimo, um dos 30 mais ricos do país, pelo menos. Quanto aos “negócios pouco claros”, conheço as razões de crescimento da Jerónimo Martins, dos Azevedo, dos Amorins, comparados com eles no “mundo da obscuridade”, LFV é angelical.

      • Aqui não há má-fé, quantos são os casos apontados à entidade Benfica, caso toupeira e sei lá mais quantos, já viu algum ser debatido em tribunal e ter um desfecho final? Até dá a sensação que o país e a justiça andam sob comando da “catedral”.

  4. Ignorância PURA, estão fartos de explicar e só mentes tacanhas tipo Mortágua e que não largam o osso.
    Não li este razoado porque não vale a pena perder tempo.
    Continuem a escrever que o LFV deve ou que foi perdoado tanto faz.

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