Novos vídeos divulgados pela CNN dão uma perspectiva mais clara da colisão entre um avião comercial e um helicóptero militar em Washington, EUA, enquanto se questiona o que falhou neste acidente que matou 67 pessoas.
O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes (NTSB) dos EUA já recuperou as caixas negras e os gravadores de voz e dados do voo do interior do avião da American Airlines. Também foi recuperado o gravador do interior do helicóptero.
Estes dispositivos vão, agora, ser analisados para tentar perceber o que é que causou a colisão entre as duas aeronaves. Dentro de 30 dias, deverá ser divulgado um relatório preliminar.
Entretanto, há várias teorias quanto ao que pode ter causado o acidente entre o avião comercial e o helicóptero Black Hawk do exército dos EUA que estava a fazer exercícios de treino militar nas proximidades do Aeroporto Nacional Reagan em Washington, algo que é habitual com aeronaves do exército norte-americano.
Ex-piloto adianta 3 erros que podem ter causado colisão
A ex-piloto de helicópteros Black Hawk, Elizabeth McCormick, avança três possíveis explicações: um erro operacional, um erro do piloto e um erro do controle de tráfego aéreo.
Em declarações à CNN, McCormick refere que o helicóptero só tinha uma equipa de três elementos quando devia ter, pelo menos, mais uma pessoa para garantir “melhor visibilidade” de todos os lados, sobretudo porque passava por uma zona especialmente “sobrepovoada” de aviões.
Além disso, trata-se de uma área urbana com “muita iluminação”, com luzes que podem “reflectir-se no rio”, o que pode ter deixado o piloto “desorientado”, acrescenta McCormick. Esse factor associado ao uso óculos de visão nocturna pode ter dificultado a percepção da altitude e da posição exacta do helicóptero.
McCormick sugere, então, que pode ter havido um erro do piloto que estaria a voar a uma “altura muito elevada”.
A ex-piloto destaca que devia voar a uma altitude de 61 metros, mas que estava a entre 107 e 122 metros, o que o colocou na trajectória do voo comercial na altura em que já estava a descer para a aterragem.
O especialista em aviação da CNN e piloto Miles O’Brien acrescenta ainda que a equipa do helicóptero poderia estar “distraída” com algum factor, até com algum aspecto relacionado com o exercício de treino que estavam a realizar.
Pode ter havido falha no controle aéreo
Por outro lado, também pode ter havido uma falha de comunicação entre o helicóptero e o controle aéreo. McCormick refere que os controladores perguntaram aos tripulantes do Black Hawk se tinham à vista o avião comercial, mas estes teriam no seu campo visual, duas aeronaves e terão identificado a errada.
Os controladores aéreos deveriam ter sido mais específicos a apontar a posição do avião que acabou por colidir com o helicóptero, nota McCormick, frisando que “o helicóptero pode mover-se num instante e evitar este tipo de incidentes”.
Já se noticiou que havia apenas um controlador aéreo a supervisionar os aviões e os helicópteros na zona na altura do acidente, depois de um responsável ter autorizado a saída de outro controlador mais cedo do seu turno.
Vídeos mostram o helicóptero a seguir contra o avião
Entretanto, há vídeos obtidos pela CNN que mostram as duas aeronaves a seguirem uma contra a outra.
Nas imagens de câmaras de vigilância é possível ver o BlackHawk a dirigir-se ao ponto do impacto sem modificar a sua trajectória, o que está a intrigar os especialistas.
Depois do acidente, a FAA anunciou que vai restringir o tráfego de helicópteros militares na zona do Aeroporto Nacional Reagan.
As “falhas” de Trump e a falta de pessoal
A imprensa norte-americana também tem falado de uma alegada falta de pessoal na área da Segurança Aérea. E Donald Trump ainda prevê fazer vários despedimentos neste sector.
A analista da CNN Allison Morrow relata várias mudanças que ocorreram desde o início desta Presidência e conclui que a colisão em Washington “realça as falhas do manual” de Trump que quer gerir o Governo “como um negócio”.
No primeiro dia de Trump na Casa Branca, demitiu-se o chefe da Administração Federal de Aviação (a FAA na sigla em Inglês) devido a um conflito público com Elon Musk, um dos elementos mais importantes do Governo de Trump.
“O cargo permaneceu vago durante nove dias” e Trump só nomeou um novo chefe depois da colisão, repara Morrow.
“No seu segundo dia de mandato, Trump demitiu os responsáveis da Administração de Segurança dos Transportes e da Guarda Costeira”, prossegue a jornalista.
Ao terceiro dia, foram despedidos “todos os membros de um comité crucial de segurança da aviação”, acrescenta.
Trump também está a preparar cortes significativos no número de funcionários da administração pública, incluindo no pacote de despedimentos “cerca de 11.500 controladores de tráfego aéreo que estavam sobrecarregados há anos, muitas vezes trabalhando horas extraordinárias e lutando contra o esgotamento”, aponta ainda Morrow.
“No ano passado, a FAA disse que ainda faltavam 3.000 controladores, apesar do aumento das contratações”, destaca também.
Ex-campeões russos entre as vítimas
Os corpos das 67 pessoas que morreram na tragédia estão ainda a ser recuperados do rio Potomac, onde caíram as duas aeronaves. Não se esperam sobreviventes.
Muitas das vítimas são atletas, treinadores e familiares do mundo da patinagem artística que regressavam de um acampamento de desenvolvimento realizado em conjunto com o Campeonato de Patinagem Artística dos EUA.
Entre estes estão os ex-campeões do mundo de patinagem artística pela Rússia Evgenia Shishkova e Vadim Naumov, que eram treinadores nos EUA.
A lenda da modalidade na ex-União Soviética Inna Volianskaya, igualmente treinadora nos EUA, também faleceu no acidente.
Morreram ainda várias promessas da patinagem artística dos EUA, nomeadamente as jovens Jinna Han e Spencer Lane, o pequeno patinador no gelo Sean Kay, de apenas 11 anos, e as respectivas mães.
Há ainda 14 membros de uma comunidade de patinagem artística do norte da Virgínia que se encontravam no avião da American Airlines.
Entre as vítimas estão também o piloto do avião comercial, o capitão Jonathan Campos, a consultora Asra Hussain Raza, de 26 anos, filha de imigrantes indianos que se tinha casado recentemente, advogadas de direitos civis e um grupo de amigos que regressava da tradicional viagem de caça que fazia todos os anos.
No helicóptero seguiam os soldados Ryan Austin O’Hara, de 28 anos, e Andrew Loyd Eaves, de 39 anos, além de um terceiro elemento cuja identidade não foi revelada.