Os vermes “controladores de mentes” contrariam tudo o que sabemos da evolução animal

Gonzalo Giribet

Os cientistas não sabem o que levou a que estes parasitas perdessem 30% dos genes responsáveis pelo desenvolvimento de cílios.

Duas espécies distantes de vermes parasitas — Acutogordius australiensis, que vive em água doce, e Nectonema munidae, que vive em água salgadadesafiam a evolução e não têm cerca de 30% dos genes responsáveis pelo desenvolvimento de cílios, que são projeções semelhantes a cabelos presentes na superfície de quase todas as células humanas.

De acordo com o estudo publicado na Current Biology, os vermes também surpreendentemente perderam alguns dos genes mais cruciais para o movimento, a deteção e a filtragem no nível celular encontrados na maioria das células animais.

Os cientistas concluíram que um antepassado comum destes vermes deve ter perdido estes genes no passado distante, embora o motivo desta transformação genética permaneça um mistério.

Embora os parasitas frequentemente não possuam vários genes e estruturas devido à sua dependência de organismos hospedeiros, não possuir genes para cílios é notável. Os vermes até perderam estes genes nos seus espermatozóides, que não têm a típica estrutura com uma cauda.

Tauana Cunha, bióloga evolutiva do Museu Field, destaca que os cílios são encontrados numa ampla variedade de formas de vida na Terra. A ausência de cílios nos vermes destaca-se no reino animal, desafiando os padrões evolutivos em que estruturas não utilizadas diminuem gradualmente ao longo do tempo.

“Existem muitos outros organismos parasitas que não estão a perder estes genes específicos, então não podemos dizer que os genes estão em falta por causa do seu estilo de vida parasitário”, explica a cientista.

Pode ser antes o processo reprodutivo macabro destes vermes a guardar a resposta sobre a falta destes genes. Para se reproduzir, o parasita consome o seu hospedeiro de dentro para fora, controlando-o como um zombie, até acabar por o forçar a saltar na água, onde se pode reproduzir. Este processo pode conter pistas sobre a necessidade de órgãos sensoriais especializados que anulam a necessidade de cílios.

Esta levanta ainda muitas questões e adiciona uma camada assustadora de complexidade ao nosso conhecimento sobre os organismos parasitas. Os cientistas esperam que investigações adicionais sobre estes mecanismos desvendem os segredos por trás dos genes (e da falta deles) destas criaturas arrepiantes.

ZAP //

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