Verde: a cor da esperança, mas não em África. “Grande Muralha” enfrenta desafios

greatgreenwall.org

O plano para a Grande Muralha Verde.

Projeto para restaurar paisagens degradadas foi proposto em 2007 e só está 30% concluído. O que falta? Dinheiro e implementação, diz presidente de cimeira da ONU.

São 8 mil quilómetros de uma “Grande Muralha Verde” que se estende por toda a região do Sahel: uma faixa geográfica que atravessa todo continente africano na horizontal, do Senegal ao Djibouti.

Idealizada nos anos 80, a proposta, que visa recuperar cerca de 100 hectares de terra destruída pelas alterações climáticas, só viu a luz do dia em 2007, mas mais tempo ainda está a custar pô-la em prática.

A medida seria útil a alguns dos países mais pobres do mundo, como a Etiópia, o Mali e o Sudão. Ajudaria a combater o “avanço” do deserto do Saara para sul, provocado pela desertificação do território dos 11 países afetados.

Em 2020, apenas 4% da área fora recuperada, e esse número tem vindo a aumentar nos últimos quatro anos. Agora, “já” são 30 milhões de hectares (30%), o equivalente ao tamanho das Filipinas.

Mesmo assim, é muito pouco, tendo em conta os objetivos para 2030, explica à Reuters o presidente da mais recente cimeira da ONU sobre desertificação (2022), Alain-Richard Donwahi.

A próxima cimeira sobre desertificação (UNCCD) vai ter lugar em dezembro em Riade, na Arábia Saudita.

 

O financiamento para o projeto não está a chegar, explica Donwahi, que diz que a culpa é de todos. De acordo com a UNCCD, dos 19 mil milhões de dólares (cerca de 18 mil milhões de euros) prometidos numa cimeira em 2021 por doadores internacionais, a coordenação do projeto ainda só viu cerca de 2 mil milhões de euros. O restante deverá ser pago até ao final de 2025.

Outro obstáculo passa pelos problemas internos dentro dos próprios países afetados, que vão desde guerras a crises humanitárias, golpes militares, ou terrorismo.

Para complicar, juntam-se à equação as próprias contingências ambientais: é cada vez mais difícil obter água para fazer crescer árvores nas zonas mais áridas.

A recolha da água da chuva exige que existam comunidades locais a cavar trincheiras – chamadas de bases de retenção – para que estas armazenem a água da chuva, explica a Geographical. Segundo Donwahi, foram já criados 3 milhões de postos de trabalho graças ao projeto, e o objetivo são os 10 milhões.

Há outro grande inimigo do projeto: chama-se gafanhoto do deserto e, segundo a Geographical, pode destruir toda a vegetação restaurada “de um dia para o outro”.

Recentemente, foi criado o Observatório da Grande Muralha Verde, plataforma digital com o objetivo de monitorizar a iniciativa e a direção do financiamento.

Terá a Grande Muralha Verde um fim à vista, ou será condenada, como a sua homónima na China, a vários séculos de desenvolvimento até à sua conclusão?

“Durante demasiado tempo, a desertificação e a seca foram consideradas problemas africanos”, explicou à Reuters o líder da cimeira. Mas já não é bem assim: hoje, pelo menos 40% dos solos do mundo estão degradados, e até 2025 três quartos o mundo serão afetados pela desertificação.

“É um eufemismo sublinhar que não estamos em sintonia com o nosso objetivo comum de concluir o projeto até 2030″, constata Donwahi. E isso pode afetar o mundo inteiro.

CBP, ZAP //

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