“Vemo-nos daqui a dois meses”. Mas marido e esposa reencontraram-se quase um ano depois

Göran Höglund (Kartläsarn) / Flickr

Aeroporto de Manila, Filipinas

Separação prolongada e inesperada. O “culpado” chama-se coronavírus. A relação entre Jonathan Evans e Tara Sering foi muito diferente, em 2021.

A pandemia mudou a vida de quase toda a gente. Seja para melhor, para pior. Seja em que sentido for, em que contexto for. E também modificou a vida de muitos casais.

Jonathan Evans relatou o que aconteceu na sua relação com Tara Sering, num artigo publicado na revista AFAR.

Os dois escritores moram no Cambodja. Há um ano, no dia 25 de Janeiro de 2021, Tara viajou até às Filipinas, para estar perto do pai. “Vou ter muitas saudades tuas! Vemo-nos daqui a dois meses“, escreveu, num bilhete para o seu marido.

O casal tinha assistido ao “colapso económico repentino” local. O próprio negócio dos dois – escrever sobre viagens – entrou em “queda livre”. Ambos tentaram desviar-se do ambiente tenso ao dar uma aula ao ar livre a algumas crianças, uma vez por semana.

“O país mergulhou na paranóia, com rumores de surtos abundantes, baseados em poucos ou em nenhum facto. Mas os números reais de casos, tal como nos países vizinhos Vietname e Laos, permaneceram extremamente baixos ao longo de 2020″, recorda Jonathan.

Até que, no final desse ano, o pai de Tara ficou muito doente. A sua esposa viajou então, em Janeiro de 2021, para as Filipinas – o seu pai morreu no mês seguinte.

Na altura, obviamente, a COVID-19 estava a afectar aquela região do Sudeste Asiático. Mas o contexto não era muito preocupante e, por isso, não havia muitas restrições severas, essencialmente em relação ao encerramento de fronteiras.

Até que apareceu a variante Delta, que “varreu a Ásia”. O Governo das Filipinas não hesitou: ninguém sai do país.

No Cambodja a situação também piorou. Sobretudo depois do dia 20 de Fevereiro: dois infectados pelo coronavírus aterraram no Cambodja, provenientes do Dubai; ficaram em isolamento num hotel mas conseguiram escapar logo no dia seguinte, depois de terem subornado seguranças. Andaram por casas nocturnas locais e originaram o primeiro grande surto no país.

Aí é que o caos se instalou; e as viagens também foram proibidas no Camdodja

Com os dois países em alvoroço – a – a solução (como em muitos outros casos) foi recorrer à tecnologia. Chamadas de vídeo, mensagens. “À noite eu recorria à Netflix e ao YouTube para ter companhia. Mas prometi que iria continuar saudável e feliz”, admitiu.

Jonathan lá foi arranjando “distracções”, entre caminhadas e a criação de novas rotinas e amizades, nos spas, nos cafés e dentro do hotel onde estava: “Até me apaixonei mais profundamente pela cidade e pela cultura dos seus maravilhosos habitantes. Mais do que nunca”.

O reencontro aconteceu no dia 17 de Novembro, praticamente 10 meses depois da despedida. As medidas de restrição tinham suavizado, dos dois lados.

Mesmo assim, ainda houve espaço para nova peripécia, no aeroporto de Manila, capital das Filipinas: Tara Sering estava pronta para entrar no avião mas afinal ainda tinha que tratar de um seguro obrigatório. “Chorou, um pesadelo“.

Ainda esteve em quarentena num hotel (quatro dias depois de ter chegado, o Governo do Cambodja anulou essa medida).

Mas finalmente, 10 meses e não dois meses depois, houve um primeiro abraço “hesitante, tão estranho”. Depois sorriam e abraçaram-se “com força.

“Preferimos apagar 2021 da nossa memória, mas acabou por ser um ano inesquecível – principalmente pelos motivos errados mas, naquela noite delirante de Novembro, por todos os motivos certos também”, concluiu Jonathan Evans.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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