Inibição de embarcações soviéticas tem-se intensificado: já aconteceram “situações desagradáveis que se traduzem num “escalar”, dado o período de tensão atual. “Vamos morrer onde tivermos de morrer para defender a Europa”, garantiu o almirante.
O número de missões de acompanhamento de navios russos durante a passagem por águas portuguesas quadruplicou nos últimos três anos, segundo o chefe de Estado-Maior da Armada Portuguesa, almirante Gouveia e Melo.
Em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, divulgada esta quarta-feira, o almirante Gouveia e Melo indicou que o acompanhamento de navios russos sempre existiu, mas numa quantidade completamente diferente.
“Há três anos o número de acompanhamentos que fazíamos era inferior a uma dezena por ano. Só no ano passado fizemos 46 e já este ano fizemos 14. Esses navios da Federação Russa, que podem ser militares ou mercantes mas com atividade militar conhecida, podem transitar nas nossas águas no sentido de irem da posição A para a posição B ou então podem ter interesses nas nossas águas. E as duas coisas acontecem simultaneamente”, disse.
De acordo com o chefe de Estado-Maior da Armada Portuguesa, o que a Marinha faz é vigiar, inibir que façam operações em águas portuguesas. O almirante Gouveia e Melo adiantou também que já aconteceram “situações desagradáveis nesses seguimentos”, sem especificar.
“Não vou aqui referir os assuntos operacionais concretos, mas não só connosco, mas com a própria Força Aérea também já aconteceram situações em que normalmente, nos períodos anteriores a este período de tensão, nunca aconteceriam e que nós consideramos que podem ser um escalar”, disse.
Na entrevista, o almirante Gouveia e Melo contextualiza, afirmando que a invasão que a Federação Russa fez à Ucrânia veio mudar o comportamento internacional.
“Essa mudança pode ser de tal forma estruturante que pode destruir as bases que temos hoje. Destruindo essas bases, tudo o que hoje consideramos como garantido, que é a segurança na Europa, a NATO, a União europeia, que são pilares essenciais para a nossa segurança e para a nossa prosperidade, podem ser postos em causa”, referiu.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas assegurou ainda, na entrevista, que a Marinha está preparada para o combate e defendeu um modelo de serviço militar que permita mobilizar rapidamente os jovens, caso seja necessário.
“E podem ter certeza absoluta de que se a Europa for atacada e a NATO nos exigir, vamos morrer onde tivermos de morrer para defender a Europa, que é a nossa casa comum. Afinal, estamos a defender o nosso modo de vida, a democracia, os nossos sistemas, a nossa economia”, disse, quando questionado sobre a necessidade de um regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO).
“Estamos perante um momento difícil na Europa e não posso olhar para a área militar como se fosse uma pequena bolha, neste caso a Marinha, que é uma bolha muito tecnológica, e achar que a solução daquela pequena bolha é o paradigma de todas as soluções. Tenho de pensar de uma forma mais alargada”, começou por explicar o almirante.
“O que defendo é que temos de ter um modelo que permita uma mobilização rápida para os nossos jovens em caso de termos que nos defender. E esse modelo, isto não é na Marinha ou na Força Aérea, é um modelo muito mais alargado. Porquê? Porque se tivermos de nos defender, somos todos que temos de nos defender“, acredita.
“O modelo que defendo é uma discussão pública para olharmos para o problema que está aqui à nossa frente e, olhando para esse problema, encontrarmos uma solução em conjunto, que tem de ser, claro, uma solução consensual. Não pode ser uma solução muito forçada, porque não há capacidade. Agora, não podemos é meter a cabeça debaixo da areia e dizer que isso não vai acontecer, porque estamos aqui neste cantinho e antes a Europa toda vai ser conquistada até chegarem cá“, acrescentou.
O snr. Almirante pode morrer onde mais lhe agradar.
Os nossos filhos jamais acompanharão suicídios encomendados, no camarote patológico da guerra.
Que morra onde quiser, e que deixe os jovens em paz.