Os caminhos dos ministros e secretários de Estado que abandonaram funções na mudança do executivos começam a ser traçados.
Alguns regressaram às empresas e instituições onde trabalhavam antes de assumirem cargos governativos, outros aproveitaram para fazer uma pausa ou até mesmo já pensar na reforma, segundo o Público.
Dos antigos ministros e secretários de Estado, pelo menos quatro ficaram pelo Parlamento, enquanto outros tantos se afastaram de São Bento.
Manuel Heitor ― que afirma que já tinha intenções de sair do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ― não precisou de refletir sobre o que fazer.
Horas depois de ter passado a tutela do ministério à investigadora Elvira Fortunato, Manuel Heitor já estava no seu gabinete no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde é professor catedrático, e é lá que ficará nos próximos tempos.
O ex-ministro – que detinha 10% do Colégio Valsassina, instituição de ensino privado – começa com um ano sabático, para depois retomar o ritmo de investigação. Mas não é o único a regressar à vida académica.
Ricardo Serrão Santos, ex-ministro do Mar, era investigador principal da Universidade dos Açores e diretor do Departamento de Oceanografia e Pescas entre 1997 e 2011. É para lá que vai regressar.
João Leão optou pelo mesmo caminho. Deixou o Ministério das Finanças a poucos dias de ver apresentada a proposta de Orçamento do Estado para 2022 pelo novo executivo. O economista volta a dar aulas de Economia no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, instituição na qual é professor desde 2008.
Pedro Siza Vieira, antigo número dois de António Costa, ex-ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, em entrevista ao Público, referiu que foi “de férias”.
No seu vídeo de despedida, Siza Vieira falou do cargo como a “honra mais elevada” que podia ter tido, mas esclareceu que a sua vida “não é política”.
Antes de integrar o executivo, Siza Vieira foi sócio da empresa Linklaters LLP, uma multinacional de advocacia. Foi ainda sócio-gerente de uma empresa de gestão imobiliária que criou com a mulher, na véspera de ir para o Governo.
Chegou a originar um procedimento do Tribunal Constitucional, em 2018, por ter acumulado, indevidamente, durante sete meses, a função de ministro com a de sócio-gerente. Não é claro se voltará para alguma destas funções.
Já Francisca Van Dunem e Nelson de Souza vão para umas “férias” mais definitivas, tendo em conta que se irão reformar.
A saída de Van Dunem do Governo era uma certeza já antes das legislativas, pelo que a sua reforma não surpreendeu.
Com a pasta da Justiça desde 2015, a ex-ministra aposentou-se como juíza conselheira, embora nunca tenha exercido funções no Supremo Tribunal de Justiça, e vai receber uma reforma de 6.750 euros mensais, a partir de maio.
Por sua vez, Nelson de Souza preferiu não partilhar o que fará a seguir, e deixou o caminho em aberto, mas terá já tempo de serviço suficiente para se poder aposentar.
Antes de ser secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão no primeiro executivo de Costa, Nelson de Souza era diretor municipal de Finanças na Câmara Municipal de Lisboa, então nas mãos de Fernando Medina.
Antes disso, o agora ex-ministro do Planeamento tinha sido diretor-geral na Associação Industrial Portuguesa, até ao final de 2013.
Ainda na lista de ministros que ficaram de fora do novo executivo estão também Augusto Santos Silva – que assumiu o cargo de presidente da Assembleia da Repúblicas, Tiago Brandão Rodrigues, Alexandra Leitão e João Pedro Matos Fernandes – que assumiram o seu lugar no Parlamento na última semana, e ainda Graça Fonseca – que pediu uma suspensão temporária do seu mandato parlamentar por motivo “relevante” não especificado, por um prazo máximo de 90 dias.
Brandão Rodrigues e Alexandra Leitão foram indicados pelo grupo parlamentar do PS para presidirem, respetivamente, às comissões parlamentares de Ambiente e de Energia e à de Transparência e Estatuto dos Deputados.
A redução do número de secretarias de Estado, para garantir um Governo, de acordo com António Costa, “mais curto e enxuto” implicou várias saídas.
Foi o caso de Ana Paula Zacarias, que deixou a pasta dos Assuntos Europeus para retomar a carreira de diplomata, que desempenha desde 1983.
A ex-secretária de Estado e embaixadora assumirá o cargo de representante permanente junto da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque. “Será um desafio enorme”, afirmou, “especialmente neste contexto de guerra“.
Também Nuno Artur Silva, ex-secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, vai “voltar às raízes”. Um “back to basics”, como o próprio descreveu.
“O meu projeto é tão vago e tão simples quanto sentar-me a escrever. É basicamente o que eu sempre fiz. Sentar-me a escrever e ter ideias”, contou.
Ao Público, o produtor e ex-administrador da RTP conta que não tenciona voltar a comprar a sua participação na produtora Produções Fictícias, proprietária do canal Q, que fundou em 1993.
Quando integrou o Governo, vendeu as suas ações ao sobrinho André Caldeira e a Michelle Costa Adrião, que geriam a empresa desde 2015. “Vendi, estão vendidas“.
…assumiu o cargo de presidente da Assembleia da Repúblicas…