Apenas 20 empresas partilham entre si a responsabilidade por 35% de todo o dióxido de carbono (CO2) e metano (gases de efeito estufa) emitidos no mundo através do consumo de energia – um valor combinado que ronda os 480 mil milhões de toneladas de equivalente em dióxido de carbono emitidas desde 1965.
Segundo noticiou na quarta-feira o Público, citando uma reportagem do Guardian, os dados foram revelados com a nova atualização do Instituto da Responsabilidade Climática dos Estados Unidos da América.
A lista das empresas da área da energia mais poluidoras é encabeçada pela Saudi Aramco, petrolífera estatal da Arábia Saudita que, sozinha, produziu 59,26 mil milhões de toneladas de equivalente em dióxido de carbono durante o período em estudo – ou seja, 4,38% dos gases de efeito estufa emitidos entre 1965 e 2017.
Mas na lista há outros nomes conhecidos, como as privadas Chevron (43.35 mil milhões), BP (34.02 mil milhões) e Shell (31.95 mil milhões), ou ainda as públicas Gazprom russa (43.23 mil milhões) ou Petrobras brasileira (8.68 mil milhões). Neste estudo, 12 empresas são estatais e responsáveis por 20% de todas as emissões entre 1965 e 2017.
Do lado dos privados, a Chevron surge em primeiro lugar como a maior poluidora, seguida da Exxon (41.90 mil milhões), da BP e da Shell. Só estas quatro empresas (das oito privadas listadas) são responsáveis por 10% de todas as emissões de carbono desde 1965.
A análise ficou a cargo de Richard Heede do Instituto da Responsabilidade Climática, que tem vindo a atualizar os dados ano após ano, baseando-se nos relatórios anuais de produção de petróleo, gás natural e carvão.
Da lista das 20 empresas fazem igualmente parte a National Iranian Oil Co (35.66 mil milhões), a Coal India (23.12 mil milhões), a Pemex (22.65 mil milhões), a Petróleos de Venezuela (15.75 mil milhões), a Peabody Energy (15.39 mil milhões), a ConocoPhillips (15.23 mil milhões) e a Abu Dhabi National Oil Co (13.84 mil milhões).
A lista é composta ainda pela Kuwait Petroleum Corp (13.48 mil milhões), pela Iraq National Oil Co (12.60 mil milhões), pela Total SA (12.35 mil milhões), pela Sonatrach (12.30 mil milhões) e pela BHP Billiton (9.80 mil milhões).
As emissões de carbono e metano são calculadas com base nesses dados, ao longo de toda a cadeia de distribuição – da extração ao uso final. O ano de início desta análise, 1965, não foi escolhido ao acaso: de acordo com Richard Heede, nesse ano já eram conhecidos os impactos ambientais dos combustíveis fósseis junto dos líderes da indústria e políticos.
Nesta atualização, conclui-se que 90% das emissões foram causadas pelo uso dos produtos do petróleo, como gasolina ou gás natural, e 10% pela extração, refinaria e distribuição.
O Guardian tentou contactar as empresas mencionadas no estudo, mas nem todas se mostraram disponíveis para comentar e apenas sete responderam. As que responderam alegaram não serem diretamente responsáveis pela forma como os seus produtos são usados pelos consumidores finais.
Várias disseram aceitar o consenso científico em torno das alterações climáticas e algumas afirmaram apoiar os objetivos do Tratado de Paris – limitação da subida da temperatura bem “abaixo dos dois graus Celsius” e a continuação dos esforços para “limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius” em relação aos níveis pré-industriais.
Outras não aceitaram a responsabilidade: a PetroChina (15.63 mil milhões), por exemplo, disse ser uma empresa separada da sua antecessora, Petróleo Nacional da China, e por isso não se responsabiliza pelas suas emissões históricas.
Ouvido pelo Guardian, Richard Heede considera que todas estas empresas tiveram “uma responsabilidade moral, financeira e legal significativa pela crise climática e um encargo proporcional para ajudar a tratar o assunto”.