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Um só touro com 16 mil crias causou um prejuízo de 400 milhões

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Fanny Schertzer / Wikimedia

Uma típica vaca Holstein - provavelmente, descendente de Arlinda Chief

Uma típica vaca Holstein – provavelmente, descendente de Arlinda Chief

Provavelmente nenhum outro touro marcou tanto o mundo da indústria leiteira global como o Arlinda Chief – para o bem e para o mal.

Segundo investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o touro Arlinda Chief, nascido em 1962, acumula o muito respeitável número de 16 mil crias, 500 mil netas e dois milhões de bisnetas.

Graças à inseminação artificial, um método que foi adoptado em larga escala na indústria do leite a partir da década de 1960, o material genético desse touro transformou a indústria leiteira.

Mas, se por um lado os seus genes permitiram aumentar a produção de leite, uma mutação genética sua também foi responsável pela diminuição da fertilidade das vacas após e provocou a morte de 525 mil fetos.

Geneticistas identificaram que os abortos espontâneos só ocorriam, porém, quando a vaca também possuía o gene anómalo.

O estudo que identificou essa mutação genética, publicado em agosto deste ano no Journal of Dairy Science, permite que os produtores façam agora exames para detectar o gene com antecedência e evitar o prejuízo.

Genética

O Arlinda Chief, um touro da raça Holstein, foi identificado como um exemplar com condições genéticas especialmente desejáveis, pelo que os seus proprietários começaram a comercializar o seu sémen congelado, que serviu para inseminar vacas em todo o mundo.

Desde então, a descendência de Arlinda Chief não parou de bater recordes. Em 1975, a vaca Beecher Arlinda Ellen, uma das suas filhas, produziu 87 litros de leite num dia – na altura, um recorde mundial.

Segundo a Milkgenomics, uma organização internacional de cientistas especializados na genética do leite, um outro filho de Arlinda Chief, um touro conhecido como Walkaway Chief Mark, é o único responsável por 7% do genoma das vacas Holstein na América do Norte.

A propagação do material genético de supertouros como o Arlinda Chief, escolhidos pelo seu impacto na produtividade dos rebanhos leiteiros, teve um enorme impacto económico na indústria.

A Milkgenomics calcula que a média de produção de leite nos Estados Unidos aumentou em 380% entre a década de 1940 e 2005 – devido em boa parte aos métodos de inseminação artificial.

Mutação

Até aí, tudo bem. Mas com o tempo, a indústria começou a descobrir que havia um pequeno defeito na herança genética de Arlinda Chief: uma mutação nos seus genes.

Essa mutação fazia com que fetos nos úteros de algumas vacas inseminadas – as que também tinham a anomalia – com o esperma do Arlinda Chief morressem antes do nascimento.

Contabilizando os 525 mil abortos espontâneos em todo o mundo que a mutação causou, estima-se que o touro tenha gerado um prejuízo de 420 milhões de dólares, segundo o estudo publicado na Journal of Dairy Science.

Identificar a anomalia genética é um passo importante para corrigir o problema, diz Harris Lewin, autor principal do estudo. Hoje, os criadores de gado podem fazer exames genéticos para evitar que o sémen comprado para aumentar a produção de leite também transmita a mutação ao seu rebanho.

Ainda assim, o lucro do material genético de Arlinda Chief é maior que o prejuízo, de acordo com Lewin. A longo prazo, o seu impacto rendeu à indústria 30 mil milhões de dólares.

Nada mau, para um só touro.

ZAP / BBC

4 Comments

  1. O bom mesmo, ” (isto para não terem lucros por um lado e prejuízo por outro) ” era deixarem os touros e as vacas serem felizes…

    • Caro Ahahah`,
      Um conjunto de vacas (e bois) é efectivamente uma manada, mas o termo comum na agricultura para a produção de leite é “rebanho leiteiro”.

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