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O último adeus de Theresa May foi recheado de elogios (e um convite a Corbyn para se demitir)

Neill Hall / EPA

Esta quarta-feira, Theresa May respondeu como primeira-ministra aos deputados pela última vez.

Nos últimos três anos, Theresa May foi a imagem do Brexit. Resiliente e intransigente, desprezada pelos seus próprios aliados e progressivamente desgastada, a primeira-ministra britânica resistiu até esta quarta-feira, dia do seu último adeus.

Entre aplausos, May ergueu-se para falar na sua última intervenção no Parlamento e quase ninguém deixou de sublinhar “compromisso” com a negociação do Brexit. Segundo o Expresso, até Jacob Rees-Mogg, que foi promotor de uma moção interna de censura a May, lhe realçou “o serviço público e a cortesia”.

Jeremy Corbyn também a elogiou pelo seu “sentido de dever público” e perguntou logo a seguir se May, mesmo na retaguarda, ia tentar dominar o seu “impulsivo sucessor”. Ainda assim, o líder do partido Trabalhista disse que a primeira-ministra delineou “linhas vermelhas que impediram qualquer acordo de consenso sensato” para o Brexit, questionando-a sobre se acredita que Boris Johnson será capaz de desbloquear o impasse.

Mas May parece não ter ficado comovida com o elogio inicial do líder dos trabalhistas e arrancou ela própria para as críticas.

Francamente acho que ele deveria ter vergonha de si mesmo“, por ter votado contra um acordo para o Brexit, disse May de Corbyn, dirigindo-se ao político na terceira pessoa, mesmo com Corbyn à sua frente.

A partir daí, o discurso seguiu sem travão: Theresa May falou das promessas de Corbyn em acabar com a dívida dos estudantes e dos seus compromissos com a Defesa. “Como alguém que sabe quando é que o tempo chega ao fim, penso que também sabe que é altura de se afastar“, rematou May, sugerindo que também Corbyn renuncie.

Ian Austin, antigo parlamentar trabalhista, agora independente, juntou-se a May para pedir o afastamento de Corbyn, afirmando que a maioria dos trabalhistas estão com ele.

Depois da intervenção de Austin, chega a pergunta sensível que todos esperavam: o futuro de May como deputada. Ian Blackford, o líder dos nacionalistas escoceses em Westminster, questionou: “O SNP já apresentou uma moção em antecipação que pede que o parlamento permaneça em funções até novembro. Irá apoiar esta moção como deputada?”.

Theresa May respondeu dizendo que está, como sempre esteve, empenhada em garantir o melhor futuro possível para a Escócia, e assim ficou sem resposta a pergunta de Blackford.

De acordo com o semanário, se nada se fizer até outubro, o Reino Unido sai sem acordo, numa saída desordenada que Boris não renega, mas que a maioria dos deputados querem parar com o seu voto. No entanto, para haver um voto tem de haver um parlamento em funcionamento.

Seguiram-se perguntas de outros deputados sobre problemas mais próximos das áreas onde foram eleitos. May prometeu apenas que os organismos estatais darão resposta, sendo isto mais um indício de que ela própria possa mesmo controlar fora do número 10 de Downing Street.

Segundo o Diário de Notícias, May anunciou que irá continuar a ser deputada depois de deixar a liderança do governo. “Esta manhã, tive encontros com ministros e outros. Esta tarde, terei um encontro com a rainha. Depois disso, continuarei com os meus deveres desta Câmara, como backbencher [deputados que não têm lugar no governo], como deputada por Maidenhead”, afirmou.

No final do debate, May lembrou que é deputada desde 1997 e será a primeira vez em 21 anos que não estará nas filas da frente da Câmara dos Comuns, reservada a membros de governo.

Os sucessos de Boris “serão os sucessos do nosso país”

Depois de dar os parabéns a Boris Johnson por ganhar as eleições no Partido Conservador, desejando-lhe sorte e à sua equipa, May afirmou: “Os sucessos deles serão os sucessos do nosso país e espero que sejam muitos“.

May defende que os sucessos de Boris serão a continuação de um trabalho de quase uma década de governo liderado pelo Partido Conservador. “Durante esse tempo, a nossa economia foi restaurada, os nossos serviços públicos reformados, e os nossos valores defendidos no palco mundial.”

Apesar de admitir que falta fazer muito, a ainda primeira-ministra sublinhou que “a prioridade imediata é completar a nossa saída da União Europeia numa forma que trabalha para todo o Reino Unido”.

Servir como primeira-ministra do Reino Unido é a maior honra“, disse Theresa May. “A pesada responsabilidade é ultrapassada pelo enorme potencial de servir o país. Mas não alcanças nada sozinho. Quando deixo Downing Street, as minhas palavras são de sincero agradecimento”, acrescentou.

ZAP //

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