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Turquia inicia ofensiva militar contra milícia curda na Síria

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Daniel Kopatsch / EPA

Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan

O presidente turco anunciou esta quarta-feira o início de uma nova operação militar contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), apoiada pelos países ocidentais, mas considerada terrorista por Ancara.

“As Forças Armadas turcas e o Exército Livre da Síria (rebeldes sírios apoiados por Ancara) iniciaram a operação ‘Fonte de paz’ no norte da Síria”, declarou Recep Tayyip Erdogan, através da rede social Twitter.

No terreno, as forças curdas dizem estar a ser bombardeadas por aviões da Força Aérea da Turquia e descrevem um cenário de “grande pânico”, segundo a agência Reuters, citada pelo jornal Público. “Os aviões de guerra turcos começaram a bombardear zonas civis”, disse o porta-voz das SDF, Mustafa Bali, através do Twitter.

Também nesta quarta-feira, as forças curdas lançaram um apelo aos Estados Unidos e aliados para que seja criada uma zona de exclusão aérea sobre a região. Alegam, segundo noticia o mesmo diário, que os civis estão “indefesos”.

Erdogan disse esta quarta-feira numa conversa telefónica com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, que uma ofensiva turca contribuirá para a “paz e estabilidade” na Síria.

“Durante esta conversa, o Presidente declarou que a operação militar planeada a leste do Eufrates contribuirá para a paz e estabilidade da Síria e facilitará o caminho para uma solução política”, segundo uma fonte da Presidência turca.

Após duas operações anteriores, a Turquia prepara-se para lançar uma nova ofensiva na Síria contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), que considera como um grupo “terrorista”, mas que é apoiada pelos países ocidentais.

Vários países, incluindo a França, mostraram-se preocupados com as consequências humanitárias de uma nova frente no conflito sírio, bem como o destino dos milhares de ‘jihadistas’ do grupo extremista Estado Islâmico (EI) detidos em campos controlados pelas forças curdas. Ancara explicou que o seu objetivo é criar uma “zona segura” que possa albergar refugiados sírios na Turquia e separar a fronteira turca das posições da YPG.

Após o anúncio no domingo, pela Casa Branca, de uma retirada dos soldados norte-americanos da Síria, o Presidente dos EUA, Donald Trump, fez declarações contemporizadoras, ao assegurar que “não abandonou” os curdos e ameaçando “destruir completamente a economia da Turquia” caso Ancara “ultrapasse os limites”.

A Rússia e a Turquia, que apoiam lados opostos no conflito sírio, intensificaram a sua cooperação nos últimos anos, em particular no noroeste da Síria.

Na terça-feira, Moscovo apelou para que “não seja sabotada a resolução pacífica” do conflito na Síria, em alusão à ofensiva que Ancara pretende lançar.

Uma nação sem país

Com mais de 26 milhões de cidadãos, os curdos são a maior nação sem território do mundo — à frente dos 7 milhões de palestinos, 6 milhões de tibetanos, 5 milhões de caxemires e 4.8 milhões de romanis, e mais numerosos do que estes povos somados.

Os curdos vivem num território que abrange partes da Arménia, Azerbaijão, Irão, Iraque, Síria e Turquia, e reivindicam a criação do Curdistão, entre o norte do Iraque, leste da Turquia e noroeste do Irão.

Anandaroop Roy

Mapa do Curdistão

A perda de partes importantes dos territórios destes países é apontada como origem das perseguições e massacres de que os curdos são vítimas há décadas. No caso da Turquia, que mais fortemente tem reprimido as pretensões nacionalistas curdas, a criação do Curdistão implicaria a perda de mais de um terço do seu território, no leste do país.

Até ao início do século 20, os curdos não reivindicavam a criação do seu próprio país. Com um estilo de vida de pastores itinerantes de cabras e ovelhas, o principal elemento de identidade nacional é a sua organização social, baseada na lealdade a clãs.

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o maior controle das fronteiras nacionais impediu o trânsito livre dos seus rebanhos, forçando a maioria dos curdos a fixar-se em aldeias e adotar a agricultura, fazendo surgir a luta pela criação de uma nação própria.

ZAP // Lusa

 

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