A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) acusou esta sexta-feira a Turquia ter deportado entre janeiro e setembro deste ano refugiados sírios à força, alguns após espancamentos e ameaças, para uma das áreas mais perigosas da Síria.
“As autoridades em Istambul e Antakya detiveram e deportaram arbitrariamente dezenas de sírios e possivelmente muito mais para o norte da Síria entre janeiro e setembro de 2019, apesar das hostilidades ativas no local”, afirmou a HRW em comunicado.
Os sírios deportados disseram que as autoridades turcas os forçaram a assinar formulários que não estavam autorizados a ler, em alguns casos após serem espancados e ameaçados, para os transportarem para a Síria, pode ler-se na mesma nota.
A organização não-governamental lembrou que, no final de julho, o ministro do Interior, Süleyman Soylu, negou que a Turquia tivesse deportado sírios, mas disse que qualquer pessoa que quisesse voluntariamente voltar para a Síria podia beneficiar de procedimentos que permitissem regressar a áreas seguras não especificadas.
“A investigação da HRW contradiz isso, constatando que a Turquia deportou ilegalmente sírios para a província de Idlib, uma das áreas mais perigosas da Síria. Os ataques da aliança militar sírio-russa a Idlib e arredores resultaram na morte de pelo menos 1.089 civis desde abril, de acordo com as Nações Unidas”, acrescenta-se no comunicado.
A posição da HRW surge um dia depois da Amnistia Internacional (AI) ter denunciado que a Turquia passou os meses que antecederam a sua atual ofensiva militar no nordeste da Síria a deportar à força refugiados sírios e antes da criação da chamada “zona de segurança”.
A organização não-governamental revelou que os refugiados foram sujeitos a violência policial e a ameaças para assinarem documentos em que declaravam a intenção de regressar à Síria, quando, na realidade, a Turquia os forçava a voltar para uma zona de guerra e a colocar as vidas em risco.
“A alegação da Turquia de que os refugiados da Síria estão a escolher voltar diretamente ao conflito é perigosa e desonesta. Em vez disso, a nossa investigação mostra que as pessoas estão a ser enganadas ou forçadas a voltar”, indicou a investigadora da Amnistia Internacional em direitos dos refugiados e migrantes Anna Shea.
“A Turquia merece o reconhecimento por ter recebido mais de 3,6 milhões de mulheres, homens e crianças da Síria, durante mais de oito anos, mas não pode usar essa generosidade como desculpa para desrespeitar a lei internacional e nacional ao deportar pessoas para uma zona de conflito ativo”, realçou.
A Turquia lançou a 9 de outubro uma ofensiva contra a milícia curdo-síria Unidades de Proteção Popular (YPG), que considera terrorista, mas que foi apoiada pelos países ocidentais na luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico.
Ancara interrompeu a operação na semana passada, após um acordo com os Estados Unidos que previa a retirada das YPG de uma faixa de 30 quilómetros de largura e 120 de comprimento junto à fronteira turca, entre as cidades de Tal Abyad e Ras al-Ayn.
Na terça-feira, a Turquia indicou que não iria retomar a operação militar na Síria por ter alcançado um acordo com a Rússia, segundo o qual as forças curdas da Síria vão recuar 30 quilómetros a partir da zona fronteiriça do nordeste da Síria, de forma a partilhar o controlo desta zona. O acordo prevê também um esforço conjunto para facilitar o regresso de refugiados.
// Lusa