No início do processo de impeachment de Donald Trump, o antigo Presidente dos Estados Unidos é acusado de “validar” o ataque ao Capitólio de dia 6 de janeiro.
O processo judicial de destituição de Donald Trump começou esta terça-feira no Senado dos Estados Unidos, com a exibição das imagens do assalto ao Capitólio em janeiro, que a acusação considera ter resultado do incitamento pelo ex-Presidente.
Sob fortes medidas de segurança no exterior do Capitólio, em Washington D.C., os 100 senadores – 50 democratas e 50 republicanos – assistiram a excertos dos acontecimentos de 6 de janeiro, quando se contavam no interior daquele mesmo edifício os votos do Colégio Eleitoral que davam a vitória a Joe Biden, que os apoiantes de Trump consideravam fraudulenta.
Além das imagens do assalto, em que morreram cinco pessoas, a acusação reproduziu também imagens do comício de Trump, então Presidente cessante, no exterior do Capitólio, em que este reiterou a acusação de fraude e proferiu uma frase que a acusação considera provar que incitou a violência que se seguiu: “Vamos dirigir-nos ao Capitólio”.
No final da exibição das imagens do comício e da violência neste demonstrada, o congressista democrata Jamie Raskin, que lidera a acusação ao ex-Presidente, declarou: “Se isto não é uma ofensa digna de destituição, então não existe tal coisa”.
Professor de Direito, Raskin prometeu aos senadores – hoje na posição de jurados, depois de em janeiro muitos deles terem estado sitiados durante a invasão do Capitólio – apresentar “factos claros e sólidos” de crimes cometidos pelo ex-Presidente.
Democratas: Trump “validou o ataque”
O congressista David Cicilline falou dos tweets de Trump durante a invasão ao Capitólio, nomeadamente aquele em que classificou o ataque como “as coisas que acontecem quando uma vitória eleitoral por grande margem é roubada a grandes patriotas”.
“Cada vez que leio aquele tweet sinto arrepios na espinha. O Presidente dos EUA ao lado dos insurgentes. Ele celebrou a causa deles. Ele validou o ataque deles. Ele disse-lhes ‘lembrem-se deste dia para sempre’, horas depois de eles marcharem por estes corredores”, disse Cicilline, citado pelo Observador.
Bruce Castor, advogado de defesa de Donald Trump, disse que Trump está a ser usado como bode expiatório para a invasão do Capitólio.
“Não é possível que estejamos a sugerir que neste país punimos alguém por causa de um discurso político”, disse Castor, que alternava entre as suas notas e o improviso.
Aliás, a defesa de Donald Trump foi bastante criticada por Alan Dershowitz, antigo advogado do Presidente norte-americano: “Não há argumento. Não faço ideia do que é que ele está a fazer. Não faço ideia de porque é que ele está a dizer isto. Está a apresentar-se, a dizer que é um bom tipo, que conhece os senadores, que os senadores são boas pessoas”.
“Os americanos têm direito a um argumento, um argumento constitucional”, disse ainda, acrescentando que Castor “não está a fazer uma boa defesa”.
Hoje, militares armados da Guarda Nacional marcam presença no exterior do perímetro do Capitólio, vedado e protegido por arame farpado.
No primeiro dia do julgamento, os advogados de Trump irão contestar a constitucionalidade do julgamento de destituição, numa altura em que o ex-Presidente já não está em funções, além de argumentar que Trump estava apenas a exercer os seus direitos da Primeira Emenda da Constituição (de proteção à liberdade de expressão), quando contestou os resultados eleitorais.
No final do primeiro dia de debate, o Senado irá votar, bastando uma maioria simples para que o processo avance – algo que está ao alcance dos democratas, que têm metade dos 100 lugares no Senado, e contam com o apoio de alguns republicanos.
A sondagem Ipsos/ABC News indica que 56% dos norte-americanos são favoráveis à condenação do ex-presidente, para que não volte a candidatar-se à Presidência dentro de quatro anos, possibilidade que Trump tem deixado em aberto.
Trump é o primeiro Presidente a ser sujeito a um processo de impeachment por duas vezes no mesmo mandato e o único a ser julgado politicamente depois de já ter abandonado o cargo.
A Constituição determina que a condenação só será válida se tiver o apoio de dois terços dos 100 senadores, ou seja se aos 50 democratas se somarem 17 republicanos, mas da bancada republicana poucos se mostram favoráveis à condenação do ex-Presidente.
Daniel Costa, ZAP // Lusa
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