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Traficantes de catos estão a invadir desertos remotos para os roubar

Na Operação Atacama, em fevereiro de 2020, as autoridades italianas apreenderam milhares de catos colhidos de forma ilegal no Chile. Cerca de 1.000 dos catos mais raros do mundo, avaliados em mais de 1,2 milhões de dólares, estavam à venda no mercado negro.

Os catos são algumas das espécies mais procuradas, tal como as orquídeas e, cada vez mais, as espécies carnívoras, para traficar.

No entanto, esta mobilização ilegal das plantas pode ter consequências graves. Atualmente, mais de 30% das quase 1.500 espécies de catos do mundo estão em perigo de extinção.

A colheita desmedida é a principal causa deste declínio, afetando quase metade das espécies ameaçadas. Porém, e como esta área de comércio ilegal é muitas vezes esquecida, tem havido uma forte tendência para ignorar este tipo de crime, o que faz com que este se dissemine mais rapidamente.

Contudo, a dimensão da Operação Atacama pode ser uma exceção notável que pode estar prestes a trazer um novo foco a este problema.

Os especialistas esperam que o caso possa ser um ponto de inflexão na forma como os países, colecionadores, conservadores e indústrias abordam a questão do tráfico internacional de catos.

“A sociedade como um todo não pode continuar a ter uma visão ingénua sobre este problema”, referiu Pablo Guerrero, botânico da Universidade de Concepción, no Chile.

Paixão pela raridade

Tal como escreve o New York Times, os catos estão cada vez mais na moda.

A planta espinhosa tornou-se numa das mais cobiçadas das redes sociais, sendo cada vez mais promovida por influenciadores pela sua aparência peculiar e por exigir poucos cuidados.

A pandemia aumentou ainda mais a sua popularidade e as lojas estão a lutar para manter algumas espécies disponíveis.

“Muito do que motiva o interesse e a paixão por estas plantas é a sua singularidade e raridade”, explica Barbara Goettsch, co-presidente do Grupo de Especialistas em Suculentas e Catos da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Grande parte das espécies de catos são encontradas em lugares remotos e de difícl acesso, como por exemplo em penhascos acidentados no México. Outras das suas caraterísticas é que crescem muito lentamente e podem durar muitos anos. As maiores espécies de catos, e as mais procuradas, são aquelas que podem durar décadas ou mesmo centenas de anos.

Estes fatores fazem dos catos plantas especialmente sensíveis à sobre exploração, mas também muito atraentes para colecionadores interessados ​​em exclusividade, já que a compra legal de espécies raras pode ser difícil ou até mesmo impossível.

O jornal norte-americano recorda que todos os catos, e muitos outros tipos de plantas, requerem autorização para o comércio internacional, caso possam ser comercializados legalmente.

Devido a estas condicionantes, são muitos aqueles que optam pelo caminho que parece mais fácil: o do mercado negro. Na internet, são muitas as pessoas que vendem a planta no eBay, Instagram, Etsy e Facebook.

Embora não haja estimativas sobre a extensão do comércio ilegal de catos, muitos especialistas acreditam que este esteja a aumentar. “Há vinte anos era um problema muito menor, mas agora é um grande problema”, realçou Jeff Pavlat, presidente da American Cactus and Succulent Society.

Os catos apreendidos pelas autoridades são geralmente destruídos ou, se forem espécies raras, enviados para jardins botânicos. Na Operação Atacama, contudo, as coisas foram feitas de forma diferente.

Em colaboração com vários especialistas, as autoridades passaram grande parte de 2020 a tentar obter permissão para enviar as plantas para o seu habitat natural.

Em abril deste ano, os 844 catos fizeram a viagem de volta ao Chile, sendo que os outros 100 morreram e os restantes 84 permaneceram em Milão para serem estudados.

A Operação Atacama foi a maior da história no que diz respeito ao tráfico de catos.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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