Mais de um terço (37%) dos trabalhadores cujas funções não podem ser executadas à distância está em risco de abandonar a sua profissão nos próximos seis meses, revelou um recente inquérito divulgado pelo Boston Consulting Group (BCG).
De acordo com o relatório, nesse grupo incluem-se os trabalhadores do setor da saúde, do turismo, da construção, do comércio, do transporte e da distribuição, representando 75% da força de trabalho da maioria dos países.
“O mundo viu a importância destes trabalhadores durante a pandemia. Permitiram que o resto de nós permanecesse produtivo, enquanto trabalhávamos à distância”, referiu a consultora no documento.
“Hoje, eles protegem e mantêm seguros os nossos filhos e os nossos idosos; constroem as nossas pontes e conduzem os camiões e comboios que entregam os bens de que necessitamos. Se eles fugirem dos seus empregos, todos nós pagaremos o preço”, alertou.
Segundo avançou o ECO, para reter esses funcionários alguns empregadores atribuíram prémios extraordinários e aumentaram os salários. Mas essas medidas podem já não ser suficientes. “Será necessário mais do que aumentos salariais para reduzir o número de trabalhadores insatisfeitos em situação de risco”, disse a BCG.
No Japão, 42% dos trabalhadores nestas condições falam de uma “fraca ligação” com os seus empregos atuais, com 11% planeiam demitir-se, 24% estão indecisos e 7% não quer assumir um compromisso laboral nestes termos superior a seis meses. No Reino Unido,15% destes querem deixar os empregos nos próximos seis meses; 11% indecisos; e 15% não querem aceitar um compromisso superior a seis meses.
Na Alemanha e nos Estados Unidos (EUA), mais de um em cada dez já estão a planear mudar de emprego.
Segundo o relatório, entre as principais razões apontadas para a intenção de mudar de emprego estão a falta de progressão de carreira (41%), a remuneração (30%), a flexibilidade geográfica e horária (28%), o equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal (22%) e a falta de motivação e satisfação na atual posição (15%).
Quase metade (48%) dos trabalhadores nascidos entre 1996 e 2010 estão em risco de sair dos seus atuais empregos nos próximos seis meses, em comparação com 35% dos nascidos entre 1982 e 1995, 32% dos nascidos entre 1965 e 1981 e um ainda considerável 24% dos nascidos entre 1945 e 1964.
A BCG sugeriu algumas medidas para colmatar a situação: horários flexíveis; alargamento dos benefícios; crescimento e requalificação da carreira; progressão da carreira e demonstração de apoio.
O inquérito não inclui dados de Portugal – abrangeu cerca de sete mil trabalhadores na Austrália, França, Alemanha, Índia, Japão, Reino Unidos e EUA. Mas há medidas que estão a ser tomadas pelos empregadores nacionais – a flexibilidade para os colaboradores dos escritórios é uma delas.
Há também investimento em programas de renovação das áreas sociais, das zonas de descanso e de lazer dos funcionários e apoios para os filhos; trabalho remoto em alguns dias do mês; melhoria dos turnos e folgas extra; investimento na formação e no aumento de competências.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados a 16 de agosto, indicavam que mais de um milhão de portugueses (20,6% da população empregada), trabalhou em casa durante o segundo trimestre de 2022. Desses, 30% fê-lo a 100%. E só 30% apontou a pandemia de covid-19 como motivo.