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Todos contra um. Mesmo a partir de casa, Marcelo não se livrou dos ataques dos seis adversários

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Pedro Pina / RTP / Lusa

Os candidatos, João Ferreira, Ana Gomes, Marisa Matias, Tiago Mayan Gonçalves, Marcelo Rebelo de Sousa (videoconferência), Vitorino Silva e André Ventura, durante o debate televisivo entre os candidatos.

“Este é o debate de todos menos 1”, disse o jornalista da RTP no arranque do direto que, durante mais de hora e meia, pôs frente a frente todos os candidatos destas presidenciais e que começou sem a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. O último debate ficou marcado por constantes ataques à ação do atual Presidente nos últimos cinco anos.

André Ventura deu o pontapé de saída e tocou num assunto que tem sido muito discutido nos últimos dias. O candidato voltou a defender o adiamento das eleições devido ao contexto pandémico que o país vive atualmente, falando no risco do aumento da abstenção. O líder do Chega acusa o Governo de não ter preparado as eleições presidenciais tendo em conta a situação epidemiológica que o país atravessa.

Por sua vez, Ana Gomes referiu que não pediu o adiamento das eleições, mas alertou que essa possibilidade fosse ponderada, tendo em conta a duplicação dos casos de covid-19, prevista pelos peritos na reunião do Infarmed. “Não desejo o adiamento das eleições, disse que devia ser ponderado, disse que não me oporia a um adiamento”.

Já o comunista João Ferreira, que também se manifestou sobre o assunto, prefere não contribuir para alarmismos. “Seria útil concentrarmo-nos em criar condições para que se possa fazer um trabalho de informação e esclarecimento às populações”, “temos de ter o bom senso de combater alarmismos, mas devem ser adotadas condições necessárias para que as pessoas se sintam seguras em ir votar”, disse.

Marcelo Rebelo de Sousa entrou no debate para discutir este ponto a partir da sua casa, em Cascais. “Eu hoje, ao ouvir os partidos sobre a renovação do estado de emergência, coloquei outra vez a questão da revisão constitucional e não houve nenhum partido que defendesse a possibilidade de adiamento”.

“Cheguei à conclusão de que não há condições” para que a Assembleia da Republica avançasse para uma revisão que permitisse um adiamento, afirmou o chefe de Estado.

O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan, afirma que as eleições vão acontecer com as condições que existem.

Na mesma linha de pensamento, Marisa Matias sugere que “é a nossa obrigação fazer a melhor campanha possível para esclarecer as pessoas”.

Por fim, Vitorino Silva defende que as eleições deviam ser adiadas e que previu os 10 mil casos diários de covid-19.

“O SNS é a coluna vertebral da saúde em Portugal”

Relativamente à situação pandémica que Portugal está a viver, Tiago Mayan, critica a ação do Governo e diz que “há uma total incongruência de quem dizia há meses que o setor social e privado não era necessário e agora clama por ele”. O candidato defende assegurar o acesso universal dos portugueses à saúde, dando oportunidade de escolha (privado, público ou social).

Neste contexto, Ana Gomes defende a revisão da carreira dos profissionais de saúde e a aposta na saúde. “O professor Marcelo Rebelo de Sousa tem dado a mão e o palco aos privados”. A parceria com o privado tem de ser a “um preço justo”, disse, defendendo que o Governo deve avançar para a requisição civil, o que “significa pagar um preço justo”.

Marcelo responde às críticas. “Esta pandemia permitiu algumas lições, de que o SNS é a coluna vertebral da saúde em Portugal, é insubstituível”, referiu. “É preciso investir mais no SNS” e há margem no Orçamento para que isso aconteça, acrescentou.

André Ventura defendeu que não deve haver preconceito ideológico nesta questão. “Temos de acabar com o preconceito ideológico contra o privado”, disse, ao mesmo tempo que criticou o tempo de espera excessivo para consultas no setor público.

“Temos um país que está a dar cartas na saúde”, mencionou Marisa Matias referindo-se aos profissionais de saúde que estão a permitir “salvar vidas todos os dias com muitas horas extraordinárias que não são pagas”.

“Uma vida não tem preço. Respeito o privado e o público. Prefiro ser tratado no público onde está o meu povo”, disse Vitorino Silva, afirmando, no entanto, que se não existir essa possibilidade quer é “ser tratado”.

“Entre Marcelo e Costa não se sabe onde começa um e acaba o outro”

Na segunda parte do debate, o foco foi a atuação do atual Presidente da República.

“Entre Marcelo e Costa não se sabe onde começa um e acaba o outro”, referiu Tiago Mayan Gonçalves, acusando Marcelo de, pela “busca da popularidade”, escolher estar ao lado do Governo.

Para a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, o “papel do Presidente é garantir soluções para o país, que devem passar por um quadro de estabilidade política” que deve respeitar a vontade dos portugueses.

Vitorino Silva criticou a situação em que o primeiro-ministro, António Costa, lançou a candidatura de Marcelo numa visita à fábrica da Autoeuropa.

“Os afetos do Presidente existem mas estão muito mal distribuídos”, defendeu João Ferreira. “Foi uma parceria entre os dois. Neste percurso não sabia quem mandava mais. Embalaram-se um ao outro porque dava jeito”, acrescentou.

“É o candidato do PS”, acusou André Ventura, referindo-se a Marcelo Rebelo de Sousa e criticando, por exemplo, a substituição da procuradora-geral da República. “Eu não permitiria uma lei que permite expropriações”, disse ainda.

Para Ana Gomes, o papel do Presidente da República passa por ser “o garante da estabilidade, mas não do bloco central. O meu Presidente da República não é o rei de Espanha, tem de cuidar dos portugueses”, defendeu.

Depois de todos os candidatos se pronunciarem, Marcelo Rebelo de Sousa teve tempo para se defender. O atual Chefe de Estado afirmou que o papel de um presidente tem a ver com o fator de estabilização, “com a ideia de proximidade que vai criando condições para as instituições funcionarem”.

“Portugal terá de ser 10 milhões de visões”

Os candidatos tiveram ainda tempo para apresentar algumas ideias que defendem e explicar como agiriam no caso de se tornarem Presidente.

“Se eu for Presidente, Portugal tem de ser diferente, vai haver muito mais brilho. Tenho a certeza que isso vai acontecer”, disse Tino de Rans.

Já Marisa Matias disse que, caso seja eleita, irá existir um país que se orgulha dos seus trabalhadores, “que se orgulha das lutas, que as assume, um país que seja um lugar de justiça social e económica, que não fica no passado”, que não abandona os mais velhos e os mais novos.

“Esperança, trabalho com direitos, igualdade entre homens e mulheres, perspetivas de realização para os jovens, cultura, um ambiente ecologicamente equilibrado”. É assim o país de João Ferreira caso seja eleito Presidente da República. “Fazer cumprir o Portugal que está inscrito nas páginas da constituição”, adiantou.

“Se eu for Presidente, Portugal terá de ser 10 milhões de visões, esperanças, anseios, ambições de todos os portugueses”, disse o candidato da Iniciativa Liberal.

André Ventura referiu que, se for ele o eleito, “não vamos ter um país em que metade trabalha para a outra metade continuar sem fazer nada”.

“Não vou ser o Presidente que permitirá que grande parte do país continue a sentir que só existe Estado para uns. Que uns têm de trabalhar e que outros podem viver à conta de quem continua a sustentar o Estado”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa disse que se voltar a ser Presidente “o fundamental é que os portugueses gostem ainda mais de Portugal, gostem ainda mais de serem portugueses e é isso o sonho de um Presidente da República”, reiterou.

“[Se eu for Presidente, vai existir] um Portugal onde a justiça funcione e que haja justiça social e fiscal para combater as desigualdades e para fazer o país andar para a frente. Um país com futuro para os jovens. Com futuro para os mais idosos, porque certamente sentir-se-ão muito melhor, mais estimulados a viver se os seus jovens tiverem perspetivas de futuro”, conclui Ana Gomes.

Ana Moura, ZAP //

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6 Comments

  1. Extraordinário. E em relação à politica externa o que se propõem fazer?
    Será que os candidatos de esquerda se propõem sair da NATO, abandonar o Euro etc etc…? E os de direita integrar alguma liga pan-europeia para defender o estado liberal ou musculado…? tudo no âmbito dos contactos de representação máxima do país.
    E como comandantes supremos das forças armadas?
    É só arengar em relação ao que não podem fazer por imposição constitucional mas que serve como programa politico partidária. Haja alguma elevação!

  2. dos concorrentes de Marcelo, só o João Ferreira percebe o papel do PR e o que prevê a constituição. João F com um discurso estruturado, assertivo e clarividente. entendo porque lhe chamam o candidato da constituição

  3. Assistiu-se na minha modesta opinião a um debate entre candidatos a chefiar o governo.
    Isto porque a maior parte do discutido são matéria governamental.
    Não discutiram forças armadas, que tão mal tratadas teem sido. E a NATO?
    Não discutiram o futuro da UE. Federação ou Confederação? Ou mais simples União de Estados?
    E a ONU e seus satélites como OMS, UNICEF UNESCO etc.etc?
    E a separação de poderes?
    Foi mau, muito mau…mas é o que temos.

  4. No anterior comentário limitei-me ao que tinha de memória do que vi e ouvi.
    Relendo o que atrás ficou escrito comento o seguinte: O candidato apoiado pelo IN não quis fazer ondas, pelo que o que disse é acrite; o Sr. Vitorino esconde-se num discurso popular que é bem aceite; o candidato do PC enche a boca de constituição, diz que as empresas são cruciais para o crescimento do País e subsequente desenvolvimento…mas está é uma tentativa na coxa de branquear tudo o que fizeram para destruir Portugal através da destruição do seu aparelho produtivo. Esquece -se de falar das nacionalizações porque sim, dos saneamentos porque sim, das tomadas brutas da propriedade rural, etc.etc. Uns verdadeiros camaleões que onde tocam destroem. A Sra. Ana Gomes quer ser a justiceiro deste País. Por vontade da senhora ilegalizava tudo que com ela não concordasse. O Sr. AV embora com razão quanto à praga da subsiodepencia tem que dar mais e evitar alguma demagogia. Aquela de se demitir por tudo e por nada já cansa. A Sra. do BE é uma tontinha a quem a UE tem feito bem. Já engordou e tudo. Quanto à saúde deixo aqui o que se passou comigo: a médica de família substituta, uma vez que s minha está de baixa, prescreveu-me após queixas minhas uma prova de esforço. Quando contactei o hospital onde sou seguido disseram -me que não podiam fazer por ordens da DGS. Só faziam se fosse prescrito pelo médico do hospital ou pelas urgências. Estamos bem de saúde. Provavelmente a prescrição do centro de rsaúde estaria impregnada de vírus. Quanto ao actual PR uma lástima. Quando aparenta uma saúde de ferro porquê estar de máscara? Obrigado

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