“Tinder para traficantes sexuais”. ONU e peritos criticam sistema de acolhimento de refugiados no Reino Unido

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Nuno Veiga / Lusa

A imprensa britânica relata casos de mulheres ucranianas que recebem mensagens nas redes sociais com ofertas de acolhimento no Reino Unido em troca de favores sexuais. A ONU já alertou para os perigos.

Esta semana, o Sunday Times deu o primeiro alerta ao noticiar que um jornalista que se fez passar por uma refugiada ucraniana de 22 anos e pediu ajuda no maior grupo do Facebook dedicado ao acolhimento no Reino Unido.

Em meros minutos, a “refugiada” recebeu imensas mensagens inapropriadas, com homens a contactá-la oferecendo-se para a acolher e sugerindo que esta oferecesse serviços sexuais em troca ou propondo que os dois dormissem na mesma cama.

O perigo de exploração sexual para mulheres e meninas em situações vulneráveis e a fugir de uma guerra não é novo e o alto comissário para os refugiados das Nações Unidas já emitiu um aviso a Londres, pedindo para as ucranianas não sejam acolhidas por homens solteiros dentro do esquema governamental Homes for Ukraine — que deixa nas mãos dos refugiados o contacto com britânicos dispostos a recebê-los e abre a porta ao surgimento de grupos sem regulação nas redes sociais.

O programa foi criado Michael Gove, secretário da Habitação, e foi criticado por especialistas, que acreditam que este pode funcionar como “Tinder para traficantes sexuais“.

16 organizações de apoio a refugiados e combate ao tráfico humano enviaram uma carta a Gove a alertar para estes riscos, numa altura em que a burocracia das candidaturas para asilo no Reino Unido tem sido muito criticada, já que os ucranianos têm de ter um patrocinador para poderem entrar no país.

Num comunicado, as Nações Unidas juntaram-se ao coro de críticas e afirmam que acreditam que “pode ser implementado” um processo de correspondência “mais apropriado” que “garanta que as mulheres e as mulheres com crianças sejam atribuídas a famílias ou casais em vez de a homens solteiros”.

“As correspondências feitas sem a vigilância apropriada podem levar a um aumento dos riscos que as mulheres enfrentam, em cima do trauma do deslocamento, separação da família e violência que já viveram”, sublinham.

Para além disto, a ONU avisa ainda que a duração mínima de seis meses do Homes for Ukraine pode trazer problemas para quem decide acolher refugiados, reforçando a importância de “treinos apropriados para garantir que o anfitrião faz uma decisão informada” visto que “ter um estranho em casa durante um período extenso não é sustentável” para muitas pessoas.

Um porta-voz do Governo enviou uma resposta ao The Guardian sobre as preocupações do alto comissariado da ONU e garante que o programa inclui “verificações de segurança e do passado” de todos os anfitriões e que são feitas visitas e acompanhamento depois da chegada dos refugiados.

“Também temos uma parceria com a caridade Reset Communities and Refugees para financiar e fornecer um serviço de correspondência entre patrocinadores e refugiados e para garantir que as combinações feitas são seguras e bem-sucedidas”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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