Diminuir a temperatura dificulta crescimento das células cancerígenas

Diminuir a temperatura parece dificultar o crescimento das células cancerígenas, segundo um estudo realizado em ratos, por investigadores do Karolinska Institutet, na Suécia.

O estudo, publicado na Nature a 3 de agosto, descobriu que as temperaturas frias ativam a gordura castanha produtora de calor, que consome os açúcares de que os tumores necessitam para crescerem.

Mecanismos metabólicos semelhantes foram encontrados num doente com cancro, exposto a uma temperatura ambiente mais baixa.

“Descobrimos que o tecido castanho ativado a frio compete contra os tumores pela glucose e pode ajudar a inibir o crescimento tumoral em ratos”, explica Yihai Cao, docente no Departamento de Microbiologia, Tumor e Biologia Celular.

“As nossas descobertas sugerem que a exposição ao frio pode ser uma abordagem nova e promissora à terapia do cancro, embora isto precise de ser validado em estudos clínicos de maior extensão”, acrescenta Cao.

O estudo comparou o crescimento do tumor e as taxas de sobrevivência em ratos com vários tipos de cancro, incluindo cancros colorrectais, mamários e pancreáticos, quando expostos a ambientes frios, em comparação a quentes.

Os ratos aclimatados a temperaturas de 4 graus Celsius tinham um crescimento tumoral significativamente mais lento e viviam quase o dobro do tempo, em comparação com ratos em quartos de 30 graus Celsius.

Para descobrir o porquê, os investigadores analisaram marcadores no tecido para estudar reações celulares e utilizaram testes de imagem para examinar o metabolismo da glucose. As células cancerígenas precisam normalmente de grandes quantidades de glucose, ou açúcar, para crescerem.

Descobriram que as temperaturas frias desencadearam uma significativa absorção de glucose no tecido adiposo castanho, também conhecido como gordura castanha, o tipo de gordura responsável por manter o corpo quente durante ambientes frios. Ao mesmo tempo, os níveis de glicose eram pouco detetáveis nas células tumorais.

Quando os investigadores removeram a gordura castanha ou uma proteína crucial para o seu metabolismo chamada UCP1, o efeito benéfico da exposição ao frio foi essencialmente eliminado e os tumores cresceram a um ritmo equivalente ao dos que foram expostos a temperaturas mais elevadas.

Da mesma forma, ratos com tumores a ingerir uma bebida rica em açúcar também obliteraram o efeito das temperaturas frias, e restauraram o crescimento tumoral.

“Curiosamente, as bebidas com alto teor de açúcar parecem anular o efeito das temperaturas frias nas células cancerosas, sugerindo que a limitação do fornecimento de glicose é provavelmente um dos métodos mais importantes para a supressão do tumor”, sublinha Yihai Cao, citado pela Science Daily.

Para estudar a relevância humana dos resultados, os investigadores recrutaram seis voluntários saudáveis e um paciente com cancro submetido a quimioterapia.

Através da tomografia por emissão de positrões (PET), os investigadores identificaram uma quantidade significativa de gordura castanha ativada na zona do pescoço, coluna e peito de adultos saudáveis com calções e t-shirts, enquanto eram expostos a uma temperatura ambiente ligeiramente fria, de 16 graus Celsius, até seis horas por dia, durante duas semanas.

O doente com cancro usava roupa leve e passava tempo em quartos de 22 graus Celsius por uma semana, e depois em quartos de 28 graus Celsius por quatro dias.

Pesquisas anteriores mostraram que, embora existam diferenças individuais significativas, 28 graus Celsius é geralmente considerado uma temperatura ambiente confortável, para a maioria dos humanos inativos.

Os exames realizados detetaram um aumento da gordura castanha e uma diminuição da absorção de glucose do tumor durante a temperatura mais baixa, comparativamente à mais alta.

“Estas temperaturas são consideradas toleráveis pela maioria das pessoas”, nota Cao. “Estamos portanto otimistas que a terapia do frio e a ativação do tecido adiposo castanho com outras abordagens, tais como medicamentos, pode representar outra ferramenta nas opções de tratamento do cancro”, conclui.

Alice Carqueja, ZAP //

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