Vários jornais e canais de televisão em França anunciaram que vão deixar de publicar imagens de terroristas. A decisão surge depois da vaga de atentados que vem assolando o país e pode levar o governo francês a criar uma lei especial para generalizar a medida.
O jornal Le Monde, o France Info, o canal de televisão BFM TV, o jornal católico La Croix, bem como o grupo France Médias Monde (que inclui as cadeias RFI, France 24 e MCD), estão entre os que decidiram que não voltarão a publicar as fotografias de terroristas. E a Europe 1 decidiu que não vai divulgar sequer os seus nomes.
São medidas que pretendem “evitar eventuais efeitos póstumos de glorificação“, conforme explica o director do Le Monde, Jérome Fenoglio, num editorial intitulado “Resistir à estratégia do ódio”.
O jornalista diz que a “batalha” contra o terrorismo não pode ser apenas uma preocupação para as forças de segurança e para os políticos, mas que “respeita a todos os componentes da sociedade”, nomeadamente aos sites de informação e aos jornais.
Em declarações ao France Info, Jérome Fenoglio acrescenta que o Le Monde não voltará a publicar fotos “extraídas do passado dos terroristas” ou aquelas que possam ter sido tiradas por estes “antes da passagem ao acto” e que possam ser encaradas como “uma forma de glorificação póstuma”.
Fenoglio explica que o jornal Le Monde já tinha recusado publicar uma imagem do terrorista de Nice, em que ele aparece a mostrar os músculos, por a considerar “inutilmente chocante, indecente e pouco informativa”.
No entanto, o jornal vai continuar a divulgar informações sobre os terroristas, nomeadamente nomes, perfis ou “fotos de captura de ecrã como provas indubitáveis da sua presença num lugar antes de um atentado” ou ainda imagens de “documentos de inquérito”, explica Fenoglio.
“Para poder lutar contra o mal, é preciso poder continuar a explicá-lo, a investigar, a comparar, a fazer o nosso trabalho de jornalista”, conclui o director do Le Monde.
Já o director adjunto da BFM TV, Alexis Delahousse, salienta que, em termos de imagens, o canal vai publicar apenas “os avisos de procura difundidos pelas forças da ordem e que podem ajudar os investigadores”.
Por outro lado, órgãos de comunicação como os jornais Libération e Le Figaro, ou como o canal France Television, não aderem a esta ideia, considerando que divulgar as fotos dos terroristas não é o mesmo que glorificar os seus actos ou o terrorismo.
Esta falta de consenso estará a levar a Secretária de Estado de Ajuda às Vítimas, Juliette Méadel, a estudar a possibilidade de criar um projecto de lei que vincule todos os média aos mesmos princípios, nomeadamente no sentido de os proibir de divulgar a identidade dos terroristas, aquando de novos atentados, conforme avança a rádio RFI.
SV, ZAP
Excelente medida. Vem ela de encontro àquilo que por diversas vezes tenho tentado demonstrar; quanto maior for a exploração das imagens, das noticias e das sequelas maior será o desejo de continuar a saga para ganhar publicidade e provocar o medo nos cidadãos. Ainda bem que a França toma esta decisão e bom seria que todos os restantes paises da Europa seguissem este exemplo. Nem noticias nem imagens. Silêncio absoluto. A frustração tomará lugar junto daqueles que procuram um momento de glória. Nem que seja â custa de inocentes.
Também concordo com a medida. Deverá haver discernimento até que ponto a informação é útil, ou apenas promove/ incentiva a novos actos de terrorismo. Está nas mãos de todos os responsáveis pela comunicação social avaliar a pertinência versus impacto da informação por eles divulgada. Essa avaliação deveria deixar de ter como prioridade o público em geral, para ser o público susceptível de sentir incentivos à posteridade através de actos de loucura como os que temos assistido nos últimos tempos.