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Antes de telefonema polémico, Trump reteve quase 400 milhões de dólares em ajuda militar à Ucrânia

Jim Lo Scalzo / EPA

O Presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, instruiu o seu chefe de gabinete interino, Mick Mulvaney, a reter quase 400 milhões de dólares (364 milhões de euros) em ajuda militar à Ucrânia pelo menos uma semana antes de um telefonema com o seu homólogo ucraniano que tem gerado polémica.

Segundo noticiou o Expresso esta terça-feira, no telefonema, Donald Trump terá pressionado Volodymyr Zelensky a investigar o filho de Joe Biden, Hunter Biden. O antigo vice-Presidente é o candidato mais bem colocado para conseguir a nomeação democrata nas eleições do próximo ano em que Donald Trump procura a reeleição.

A instrução para reter aquela quantia foi confirmada por três altos funcionários da Administração, citados pelo Washington Post. Os funcionários do Gabinete de Gestão e Orçamento transmitiram a ordem de Donald Trump ao Departamento de Estado e ao Pentágono durante uma reunião entre agências em meados de julho.

De acordo com fontes que falaram sob anonimato, o Presidente manifestou “preocupações” e pretendia analisar se o dinheiro precisava de ser gasto. Os funcionários da Administração terão sido instruídos a dizer aos congressistas que os atrasos faziam parte de um “processo interagências” mas para não darem informações adicionais. Este padrão terá continuado durante quase dois meses, até que a Casa Branca libertou os fundos a 11 de setembro.

Segundo um outro alto funcionário da Administração, a decisão de Donald Trump de reter os fundos baseava-se nas suas preocupações sobre a existência de “muita corrupção na Ucrânia” e a decisão posterior de os libertar deveu-se à proximidade do fim do ano fiscal, a 30 de setembro.

Havia o receio de que se não gastassem o dinheiro, estariam a infringir a lei, revelou a fonte, pelo que o Presidente acabaria por dar ao diretor interino do Gabinete de Gestão e Orçamento, Russell Vought, autorização para libertar o dinheiro. Contudo, esta segunda fonte nega enfaticamente qualquer relação entre o bloqueio da ajuda e a pressão sobre Volodymyr Zelensky para investigar a família Joe Biden.

O ex-conselheiro para a segurança nacional John Bolton queria libertar o dinheiro por acreditar que isso ajudaria a Ucrânia e simultaneamente restringiria a agressão russa. Além de John Bolton, vários outros funcionários da Administração revelaram não saber por que motivo a ajuda tinha sido cancelada ou por que razão não tinha sido agendada uma reunião.

A decisão foi comunicada a funcionários do Estado e da Defesa a 18 de julho, revelou uma outra fonte ouvida pelo Washington Post. A chamada telefónica entre os Presidentes americano e ucraniano decorreu a 25 de julho.

Pelosi alude pela primeira vez a ‘impeachment’ de Trump

A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, apelou este domingo à divulgação do relatório de um denunciante que alegadamente alertou para os pedidos de ajuda eleitoral de Donald Trump a Volodymyr Zelensky.

Gage Skidmore / Flickr

A senadora democrata Nancy Pelosi

Numa carta enviada ao Congresso, Nancy Pelosi deixou claro que espera que o diretor interino dos serviços de informação nacional, Joseph Maguire, divulgue o documento quando comparecer perante a comissão de informação na próxima quinta-feira. Caso contrário, poderá inaugurar-se “um novo e grave capítulo de ilegalidade”, sublinhou.

O bloqueio da Administração à divulgação da queixa significa levar Joseph Maguire a violar os estatutos federais, que afirmam inequivocamente que o diretor dos serviços está obrigado a partilhar com o Congresso a informação de que dispõe, descreveu Nancy Pelosi.

“O Governo está a pôr em risco a nossa segurança nacional e a provocar um efeito aterrador sobre qualquer futuro denunciante que se deparar com um procedimento incorreto”, sinalizou na missiva.

A líder democrata também exortou os republicanos a juntarem-se-lhe no apelo à divulgação do relatório. Ao concluir a carta, Nancy Pelosi aludiu à possibilidade de ‘impeachment’ (destituição) presidencial, alertando que qualquer esforço continuado para bloquear a chegada da queixa ao Congresso conduzirá a “um novo estágio da investigação”. Até agora, a democrata tem-se abstido de apoiar um processo de ‘impeachment’ de Donald Trump.

De acordo com o Expresso, o presidente da comissão de informação da Câmara dos Representantes, Adam Schiff, que também tem hesitado em apoiar a destituição, adotou um outro tom na entrevista que concedeu no domingo à CNN. “Se ficar provado que Trump reteve a ajuda militar à Ucrânia como moeda de troca para a colaboração, o ‘impeachment’ poderá ser o único remédio que equivalha ao mal” dos alegados atos cometidos.

Na véspera, a senadora Dianne Feinstein, a principal figura democrata na comissão de Justiça, revelou ter escrito ao procurador-geral, William Barr, “exigindo que o relatório do denunciante seja entregue ao Congresso, como requerido por lei”.

No início deste mês, três comissões da Câmara dos Representantes, controlada pelos democratas desde as eleições a meio do mandato do ano passado, lançaram uma investigação para apurar se Donald Trump e o seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, tentaram manipular as autoridades ucranianas para ajudar à reeleição do Presidente.

Entre as alegações sob investigação está a hipótese de Donald Trump ter ameaçado reter 250 milhões de dólares (mais de 225 milhões de euros) em ajuda à Ucrânia se o país não acedesse ao pedido.

Para Zelensky não foi “uma chamada telefónica perfeita”

Senadores republicanos já disseram que a ajuda à Ucrânia esteve suspensa enquanto a Administração avaliava se Volodymyr Zelensky era pró-russo ou pró-ocidental. A Casa Branca acabou por libertar o dinheiro depois de o senador democrata Richard Durbin ter ameaçado congelar cinco mil milhões de dólares (4,5 mil milhões de euros) em financiamento ao Pentágono para o próximo ano, a menos que o dinheiro para 2019 fosse distribuído, acrescentaram.

No entanto, o senador Robert Menendez, o mais destacado democrata na comissão das Relações Exteriores, falou na segunda-feira em potencial “extorsão”, acusando Donald Trump de tentar “remodelar a política externa americana” para promover os seus objetivos pessoais e políticos.

Donald Trump voltou a negar quaisquer irregularidades, sublinhando que a sua conversa de 25 de julho com Volodymyr Zelensky foi “uma chamada telefónica perfeita” e sugerindo que poderia divulgar uma transcrição da conversa.

Contudo, essa não parece ter sido a avaliação do seu homólogo ucraniano, a avaliar pelas declarações do senador Chris Murphy. O democrata, que falou com Volodymyr Zelensky durante uma visita à Ucrânia no início de setembro, revelou na segunda-feira que aquele lhe tinha manifestado “diretamente” a sua preocupação de que “a ajuda estava a ser cortada como uma consequência” da sua falta de vontade em iniciar uma investigação sobre o filho de Joe Biden.

Hunter Biden fez parte do conselho de administração da Burisma, a maior empresa privada de gás na Ucrânia, durante quase cinco anos. O dono da Burisma foi investigado pelo Ministério Público ucraniano por possível abuso de poder e enriquecimento ilícito. O filho do ex-vice-Presidente americano não foi acusado de quaisquer irregularidades.

patquinnforillinois / Flickr

Joe Biden, antigo vice-Presidente dos EUA e e candidato à presidência nas eleições de 2020

“Não a levo nem um pouco a sério”

Donald Trump fez uma aparição surpresa, de apenas uns minutos, para assistir à Cimeira da Ação Climática, nas Nações Unidas, mas não interveio. A sua presença no evento, que decorre em Nova Iorque, não era esperada, mas fez questão de se sentar durante alguns minutos no auditório onde decorriam os trabalhos, ouvindo e aplaudindo o discurso do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, noticiou a agência Lusa na segunda-feira.

Donald Trump tinha usado a sua conta do Twitter, no domingo, para partilhar uma mensagem de elogio que lhe fora dirigida pelo chefe do governo indiano e decidiu retribuir o gesto de simpatia ouvindo a participação de Narendra Modi nas Nações Unidas, onde dezenas de líderes mundiais procuram dar nova vida ao Acordo de Paris sobre o Clima.

O Presidente norte-americano não fez qualquer comentário sobre a cimeira, mas falou com os jornalistas sobre a possibilidade de um processo de destituição no Congresso anunciado pelo Partido Democrata, dizendo que não está preocupado. “Não a levo nem um pouco a sério”, disse Donald Trump, questionado sobre como reagia à ameaça de ‘impeachment’.

 

“Já percebemos que tudo não passa de uma caça às bruxas orquestrada pelos democratas”, afirmou Donald Trump, desvalorizando o assunto.

Apesar do entendimento de Nancy Pelosi, a verdade é que ‘impeachment’ não é consensual entre os democratas. Neste momento, em 235 representantes, há 137 que apoiam a ideia. E apesar de na câmara dos Representantes a maioria ser democrata, no Senado a maioria é do Partido Republicano. E, até agora, não há sinais de que os republicanos estejam dispostos a deixar cair Donald Trump.

No passado, alguns democratas quiseram usar o relatório Mueller, sobre o alegado conluio entre o Presidente e os russos para interferir nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA, para lançar a destituição de Donald Trump.

O ex-procurador especial Robert Mueller, autor do relatório, testemunhou no Congresso, mas manteve-se fiel ao que está escrito no relatório e não deu matéria à oposição para iniciar um processo de ‘impeachment’ contra o atual Presidente.

TP, ZAP //

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