O dirigente do Livre, Rui Tavares, afirmou este sábado que o voto no PSD levará a uma “encruzilhada”, com Rui Rio a contrapor que o partido “foi muito claro” sobre cenários de governabilidade para não haver novas eleições em breve.
Rui Rio e Rui Tavares assumiram estas posições num debate na RTP em período de pré-campanha para as legislativas, em que os dois protagonistas não estiveram frente-a-frente, já que o presidente do PSD esteve nos estúdios do Porto e o dirigente do Livre em Lisboa.
O debate foi dominado pelas diferenças entre os dois partidos no modelo económico e social que defendem para o país – em áreas como os impostos, salários e prestações sociais -, com a questão da governabilidade a surgir na reta final.
“Um voto no PSD leva-nos a uma encruzilhada, não sabemos com quem o PSD pretende governar, se com a extrema-direita, mesmo por apoio tácito, se com CDS e IL, se com o PS”, criticou Tavares, avisando que os entendimentos de Rio com António Costa resultaram em menos debates parlamentares de escrutínio ao Governo.
Na resposta, Rui Rio defendeu que “quem foi muito claro foi o PSD”, classificando o debate já realizado entre o secretário-geral do PS, António Costa, e o cabeça de lista do Livre por Lisboa como “uma conversa de amigos”, numa demonstração de que “o PS está cada vez mais encostado à esquerda”.
“Para nós é muito claro que eu ganhando as eleições, a preferência é obviamente dialogar com o CDS e IL, mas se esse diálogo não der os 116 deputados, eu entendo que o PS deve democraticamente estar disponível para negociar e viabilizar a governabilidade. Eu, em sentido contrário, tenho de ser honesto e fazer o mesmo”, afirmou.
Se os partidos não estiverem “abertos ao diálogo”, avisou, daqui a seis meses (prazo constitucional durante o qual não pode haver novo sufrágio) o país “estará na iminência de eleições”.
“É isto que os portugueses querem, que possamos andar de eleições em eleições, ou querem que tenham abertura ao diálogo?”, questionou Rui Rio.
Sobre cenários de governabilidade, Rui Tavares afirmou que, em caso de vitória do PS, o “pacto social progressista” que tem proposto pode merecer “um apoio amplo à esquerda” ou – como disse ser possível segundo algumas sondagens – apenas com os votos do PS, Livre e PAN, numa solução que designou de “ecogeringonça”, dizendo ser “indesejável” uma maioria absoluta dos socialistas.
O dirigente do Livre alertou ainda para a intenção de Rui Rio levar a cabo uma revisão constitucional “com o pretexto do clima”, o que o líder do PSD desmentiu, criticando Rui Tavares por incluir no seu programa a intenção de “descriminalizar as ofensas à honra do Presidente da República”, o que classificou como “uma bandalheira”.
“Vejo que isso o choca mais do que a prisão perpétua”, ripostou Rui Tavares.
O debate decorreu em tom sereno, apesar das divergências dos dois protagonistas em todas as áreas económicas abordadas, a começar pela redução dos impostos defendida pelo PSD no programa eleitoral, apresentado na sexta-feira.
Rui Rio explicou que o PSD conta financiar a redução prevista no IRC e no IRS através do crescimento previsto do Produto Interno Bruto, tal como já propunha em 2019, embora admitindo que as previsões terão de ser “ajustadas por qualquer Governo” se não se verificar um cenário de normalidade nos próximos anos.
“Se eu tivesse ganho as eleições em 2019, com uma pandemia pelo meio também não tinha conseguido [descer impostos], vamos ser sérios”, disse.
Já Rui Tavares defendeu que “não se deve pôr o carro à frente dos bois” e que a redução de impostos só deve acontecer depois de se conseguir que uma economia mais assente no conhecimento gere mais receita para o Estado.
“Rui Rio disse num debate recente que não era crente, mas o programa do PSD acredita num milagre. Não é possível fazer esta redução de impostos e prometer algumas coisas que o PSD promete, mas não diz como executa”, criticou.
Rio e Rui Tavares divergiram igualmente sobre o aumento do salário mínimo nacional, com o presidente do PSD a insistir que este deve subir “arrastado” pelos restantes salários e não se deve “nivelar por baixo”.
Rio classificou mesmo de “surrealista” uma proposta do Livre que pretende alargar o subsídio de desemprego a quem se despeça (apenas em algumas condições), o mesmo adjetivo que usou para a sugestão de um projeto-piloto de um rendimento básico incondicional para todos os portugueses.
“Rui Rio teve mais tempo para ler o meu programa do que eu para ler o seu”, respondeu Rui Tavares, explicando que estas ideias já existem em alguns países e que seriam princípios que “uma social-democracia do século XXI” devia defender.
ZAP // Lusa